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sábado, 11 de junho de 2011

Tropeço


Ao entardecer, me perco de mim mesmo
já não sou mais quem eu queria ser
ou não sei mais quem queria ser
ou não ser, a não-questão
que me aflige enquanto a escuridão que chega
engole minhas esperanças com sofreguidão
só resta sorver a noite até o fim
mas...e aquelas ditas noites sem fim?

que desafiam minha capacidade de voar
onde foi mesmo que deixamos aquele frasco de amor
de cujo perfume nos embebedamos,
aspiramos ilusões com a fissura de quem se droga?

o crepúsculo traz a dor do parto da noite
e a tristeza de uma esperança vã
onde estávamos mesmo quando tudo começou
e terminou?

anos-luz se passaram
a tristeza escorrendo por entre os vãos da memória
entorna a lembrança do teu seio
branco como a Lua que assoma no céu

não sei de mais nada,
embrulho todos os retratos num pano de chão
rasgo as cartas que tanto li e reli
quando ainda faziam sentido

chão de giz, torre de marfim
tudo fala ao inconsciente
quando as canções de amor já não me iludem
não há mais banquetes de amor
e nem mesmo de rancor

mesa vazia, cartas espalhadas
esperando os jogadores que nunca virão;
cansados do alea jacta, desistiram de apostar

melhor ouvir uma velha canção
Ventura Highway
sem evocar o passado que se perdeu num tropeço qualquer alhures
ficou um eterno, cansativo, infindável presente
algoz do futuro que morreu sem haver nascido

© Luiz Leitão 2011



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