Pedro da Cunha
Estava demorando. Pouco a pouco o mundo vai se tornando gêmeo. Os países vão se tornando iguais, importando uns dos outros manias, que também se chamam de “moda”, traços culturais, preferências e o que mais houver...
É claro, quem mais exporta estes “way of life”, ou estas culturas, são os países mais poderosos, deixando para os menos desenvolvidos, ou seja os pobres, o gostinho de imitar os ricos. E quanto mais ricos, mais os imitamos.
Assim, uma simples estatística de quantos filmes americanos assistimos em comparação com o numero de filmes de outra procedência, bem claro fica de onde vem o maior impacto cultural. Se o exercício é repetido com relação aos programas de televisão, a proporção de origem norte americana torna-se ainda maior. Não será exagero afirmar que estamos nos tornando colônia cultural, de um país que preza o Pragmatismo e despreza as Humanidades.
Podemos definir cultura como forma de vida, que redunda da forma de pensar e agir, visando, primordialmente, a criação de uma elite prospera. Pode-se também definir cultura como o acervo de pensamentos e idéias que promovem a elevação do espírito e, por consequência, o aperfeiçoamento da Sociedade .
Se por um lado, no tempo de nossos pais prevalecia a cultura humanistica Francesa, hoje impera a cultura pragmática Norte Americana. São muitos os benefícios que dela decorrem. Graças a ela nos libertamos da apatia econômica que nos dominava desde os tempos da colônia. Nossos jovens apreenderam a visão e a teoria empresarial vinda do Norte, tornando possível o divórcio com as práticas ineficazes dos antepassados. Hoje o Brasil é dinâmico, empreendedor, trabalhador, graças, em boa parte, ao exemplo e ensinamentos adquiridos dos “yankees”.
Mas o preço é alto. Conquanto a atividade econômica prospera, a compreensão espiritual e filosófica se acanha. O abandono da visão Européia, de maior densidade intelectual, humanística e ética, deságua na supremacia do ganho financeiro, tornando-se o principal vetor social. No campo religioso, vemos a gradual perda dos princípios e ética da formação nacional de cunho Católico, face à expansão do Evangelismo recém importado. Porem, sobrepondo-se a todas as seitas e religiões, ressalta a adoração pelo Bezerro de Ouro, onde a riqueza e o consumo, em desenfreada e parelha cavalgada, transformam valores, alteram princípios, subvertem a ética. A ostentação torna-se obrigatória, pois o homem é julgado pelo que tem. Sua absorção na elite depende de sua visível riqueza. Pouco a pouco estamos importando o conceito de “ganhadores e perdedores” ou seja, “winners and losers”, subjugando a qualidade do ser face a manifestação da posse.
No trivial, até nossas moças, quanto mais morenas mais querem tornar-se louras. Pena que os olhos azuis não sejam intercambiáveis. Nossa dieta vem sendo paulatinamente alterada para “fast food” ou “junk food”, como preferem alguns. O delgado homem brasileiro se transforma, à olhos vistos, em adiposos representantes de uma nova raça que se instala.
E, tragicamente, temos o episódio do assassinato em massa de crianças, num surto criminoso emulando aqueles ocorridos na America do Norte. Lá a policia conhece bem a influência de um crime sobre o outro. Denominam-na de “Copy Cat”, ou seja imitação de crime cometido por outro celerado. A influência das mortes na Escola de Columbine e na faculdade Virginia Tech sobre a mente de Wellington, autor do massacre na escola pública de Realengo parece evidente, revelando, tragicamente, o vírus que chega de longe.
Não há volta. A evolução dos meios de comunicação e transporte assegura a crescente influência que nos chega do Norte, descaracterizando, paulatinamente, nossa mutável civilização. Submetida às decisões do Deus Mercado, reverenciado pelos Neo Liberais, nada impedirá a transformação de nossa cultura, ou seja, de nossa visão de vida. Sob a capa do “Estado pequeno”, a solidariedade social tornar-se-á a primeira vitima.
Na elite repousa a responsabilidade de sustar a degradação liderada por àqueles ávidos de ganhos mas tímidos quanto aos deveres cívico-sociais. A ela cabe liderar os ajustes na integração do que é nosso e do que nos chega de fora, filtrando a contribuição exógena. Que ponha freio às aberrações do Brasil globalizado, que se moderniza e se corrompe.
20/4/2011
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