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sábado, 13 de março de 2010

Narrar a notícia...viver a notícia / To report the news...to live the news

A imagem e o texto vêm do blogue de Yoaní Sanchez, a brava blogueira cubana. (yoani.sanchez@gmail.com).
Em modesta colaboração, traduzo aqui o texto, para o português e o inglês. Uma ninharia de participação comparada à atuação dessa brava gente.
Narrar a notícia...Viver a notícia
Contar o que nos dói, escrever sobre o que temos roçado, tocado e sofrido, transcende a experiência jornalística transformando-se num testemunho de vida. Há uma distância abissal entre as crônicas sobre um homem em greve de fome e a experiência de tocar-lhe as costelas que sobressam de seu esquálido costado.
Daí que nenhuma entrevista poderia mostrar os olhos chorosos de Clara –a mulher de Guillermo Fariñas– enquanto conta à filha que seu pai está com uma doença no estômago, razão pela qual enfraquece a cada dia. Nem a mais ampla reportagem lograria descrever o pânico causado pela câmera que – a cem metros da casa deste villaclareño (gentílico dos cidadãos de Villa Clara) – observa e filma quem se aproxima do número 615 A da Rua Alemán.
Acumular parágrafos, compilar dizeres e mostrar gravações não chega perto de transmitir os odores do Corpo de Guarda, para onde ontem trasladaram Fariñas. É insuportável a culpa que sinto por ter chegado tarde para pedir-lhe que volte a comer, persuadi-lo a evitar que sua saúde sofresse um dano irreversível.
Durante o trajeto, na estrada Hilvané algumas frases para convencê-lo a não ir até o fim, mas, antes de chegar à cidade, um SMS confirma sua hospitalização. Eu ia dizer-lhe “Você já conseguiu, ajudou a arrancar-lhes a máscara" e, em vez disso, tive de dizer palavras de consolo à família, sentar-me em sua ausência naquela sala do humilde bairro de La Chirusa.
Por que nos conduziram a tal ponto? Como puderam fechar todas as vias do diálogo, do debate, do saudável dissenso e da necessária crítica? Quando em um país ocorrem esses protestos de estômagos vazios, há que perguntar se os cidadãos tiveram outro caminho para mostrar seu inconformismo.
Fariñas sabe que jamais lhe concederão um minuto sequer no rádio; que seu arrazoado não será levando em conta em nenhuma reunião do Parlamento, e que sua voz não poderá elevar-se, sem punição, em praça pública.
Negar-se a ingerir alimentos foi a maneira que encontrou para mostrar o desespero de viver sob um sistema que instituiu a mordaça e a máscara como suas “conquistas” mais definitivas.
Coco não pode morrer. Porque no grande cortejo funerário de Orlando Zapata Tamayo, nossa voz e a soberania cidadã faz tempo nos mataram… já não cabe mais nenhum morto.
Narrar la noticia...Vivir la noticia
Contar lo que nos duele, escribir sobre aquello que hemos rozado, tocado y sufrido, trasciende la experiencia periodística para convertirse en un testimonio de vida. Hay un abismo de distancia entre las crónicas sobre un hombre en huelga de hambre y el acto de palparle las costillas que le sobresalen en los costados.
De ahí que ninguna entrevista pueda reproducir los ojos llorosos de Clara –la esposa de Guillermo Fariñas– mientras cuenta que para la hija de ambos el padre está enfermo del estómago y por eso enflaquece cada día. Ni siquiera un largo reportaje conseguiría describir el pánico inducido por la cámara que –a cien metros de la casa de este villaclareño– observa y filma a quienes se acercan al número 615 A de la calle Alemán.
Acumular párrafos, compilar citas y mostrar grabaciones, no alcanza a transmitir los olores del Cuerpo de Guardia a donde trasladaron ayer a Fariñas. Se me hace insoportable la culpa de haber llegado tarde a pedirle que volviera a comer, a persuadirlo de evitar que su salud sufriera un daño irreversible. Durante el viaje en la carretera hilvané algunas frases para convencerlo de no llegar hasta el final, pero antes de entrar en la ciudad un SMS me confirmó su hospitalización. Le iba a decir “Ya lo has logrado, has ayudado a quitarles la máscara” y en lugar de eso tuve que pronunciar palabras de consuelo para la familia, sentarme en su ausencia en aquella sala del humilde barrio de La Chirusa.
¿Por qué nos han llevado hasta este punto? ¿Cómo han podido cerrar todos los caminos del diálogo, el debate, la sana disensión y la necesaria crítica? Cuando en un país se suceden este tipo de protestas de estómagos vacíos, hay que cuestionarse si a los ciudadanos se les ha dejado otra vía para mostrar su inconformidad.
Fariñas sabe que jamás le darán un minuto en la radio, que su criterio no será tomado en cuenta en ninguna reunión del parlamento y que su voz no podrá alzarse, sin penalización, en una plaza pública. Negarse a ingerir alimentos fue la forma que encontró para mostrar el desespero de vivir bajo un sistema que ha constituido la mordaza y la máscara en sus “conquistas” más acabadas.
Coco no puede morir. Porque en la larga procesión funeraria donde van Orlando Zapata Tamayo, nuestra voz y la soberanía ciudadana que hace rato nos asesinaron… ya no cabe un muerto más.
The image and text come from brave cuban blogger Yoaní Sanchez. (yoani.sanchez@gmail.com) Modestly cooperating, nothing compared to these brave people's endurance, I translate it here into portuguese and english, hope I manage to be as faithful as her writings deserve.
To report the news...to live the news
Telling what hurts us, writing about what we have rubbed, touched or suffered, transcends journalistic experience to convert into a life testimony. There's an abyss between the chronicles about a man in hunger strike and the act of touching his ribs which project beyond his back.
Therefore, no interview would manage to describe Clara's tearful eyes –Guillermo Fariñas' wife– while she tells her daughter her dad has a stomach illness which makes him weaker each day. Not even a big reporting would manage to describe the panic caused by the camera that – a hundred metres away from this villaclareño's house (villaclareño stands for the one who was born in Villa Clara) – observes and footages who approaches 615 A, Alemán Street.
Piling paragraphs, compiling citations and showing recordings, doesn't reach transmitting the smell of the Cuerpo de Guardia to where Fariñas was trasladed the day before. It feels me unbearable the blame for having arrived late to beg him to start eating again, to convince him to avoid his health suffering irrevertible damages.
During the trip through Hilvané road, some phrases to convince him not to take it to the end, but before entering the city, a SMS confirmed to me his hospitalization. I was about to tell him “You made it, you managed helping to remove their mask” and instead, I had to pronounce words of consolation to his family, sit down in his absence in that room in the humble neighbourhood of La Chirusa.
Why have they taken us to this point? How come could they block all the ways to dialog, to debate, to healthy dissent and to a necessary criticism? When this kind of empty-stomach protests occur in a country, one must question if citizens have been left other ways to express their nonconformity.
Fariñas knows he will never be given a single minute on the radio, that his criteria will not be taken into account in any meeting of the Parliament and that his voice will not be allowed to raise, without any penalties, in a public place. Denying to feed himself was the way he found to show the despair of living ruled by a system which has made muzzle and mask its most acquired goals.
Coco cannot die. Because in the huge funerary procession of Orlando Zapata Tamayo, our voice and citizenship sovereignity long ago killed… there's no room for another corpse.

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