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segunda-feira, 6 de abril de 2015

A poção anglo-saxônica que mata a superbactéria MRSA


Descobriu-se que um remédio medieval para infecções oculares, datado de mil anos atrás, descoberto em um manuscrito da Biblioteca Britânica, mata a superbactéria MRSA.
A especialista anglo-saxônica dra Christina Lee, da School of English, da Universidade de Nottingham, recriou a poção do século 10 para ver se ela realmente funcionava como agente antibateriano.
A receita 'eyesalve' (pomada para olhos) requer duas espécies de  Allium (alho e cebola ou alho porro), vinho e bile do estômago de vacas.
Ela descreve um método muito específico de fazer a solução tópica, incluindo o uso de um recipiente de bronze para fermentá-la, um coador para purificá-la, e a instrução para deixar a mistura em repouso por nove dias antes de utilizá-la.
Nenhum dos especialistas esperava realmente que a mistura funcionasse. Entretanto quando ela foi testada, os microbiologistas ficaram encantados ao descobrirem que a pomada não só eliminava terçol como também atacava a letal bactéria MRSA, que é resistente a vários antibióticos.
“Nós ficamos realmente atônitos com os resultados de nossas experiências em laboratório,” disse Lee.
“Acreditamos que as pesquisas atuais sobre doenças possam se beneficiar de respostas e conhecimentos passados, muito presentes em escritos não científicos.
“Entretanto o potencial desses textos de contribuir para a solução dos desafios não pode ser compreendido sem o conhecimento combinado da arte e da ciência.”
Dr Lee traduziu a receita de Bald’s Leechbook, um um antigo manuscrito inglês encadernado com couro e mantido na Biblioteca Britânica.
O Leechbook é amplamente considerado um dos mais antigos livros de texto médico conhecidos, e contém orientações médicas anglo-saxônicas, além de receitas para medicamentos, pomadas e tratamentos.
“Livros médicos sobre sanguessugas e hervas contêm vários remédios feitos para tratar o que são claramente infecções bacterianas, machucados exsudantes/dores, infecções oculares e de garganta, patologias cutâneas, como erisipela, lepra e infecções no peito,” acrescentou Lee.
Os cientistas de Nottingham fizeram quatro lotes separados do remedio utilizando ingredientes frescos a cada vez, assim como um tratamento de controle utilizando a mesma quantidade de água destilada e folhas de bronze para imitar o recipiente de fermentação, mas sem os componentes vegetais.
Nenhum dos ingredientes isoladamente teve qualquer efeito mensurável, mas quando foram combinados de acordo com a receita, as populações de MRSA foram quase totalmente eliminadas: cerca de uma célula bacteriana em um milhão sobreviveu em feridas de ratos.
Os pesquisadores acreditam que o efeito da receita não se deve a um só ingrediente, mas, sim à combinação utilizada a aos métodos de fermentação. Outras pesquisas serão necessárias para investigar como e por que isso funciona.
Microbiologistas da Universidade de  Nottingham disseram que estavam ‘verdadeiramente maravilhados' com a descoberta.
“Nós achávamos que a pomada de Bald poderia apresentar uma pequena quantidade de atividade antibiótica porque cada um dos ingredientes havia demonstrado, em outras pesquisas, ter algum efeito sobre as bactérias em laboratório,” disse dr Freya Harrison, que chefiou o trabalho no laboratório.
“Mas ficamos absolutamente surpresos ao constatar quão eficaz era a combinação de ingredientes.
“Este verdadeiro projeto multidisciplinar explora uma nova abordagem dos atuais problemas de tratamentos de saúde ao testar se os remédios medievais contêm ingredientes que matam bactérias ou interferem em sua habilidade de causar infecções”.
O cientista dr. Steve Diggle acrescentou: “Quando fizemos esta receita no laboratório, eu realmente não esperava que  produzisse qualquer efeito.
“Quando descobrimos que ela podia de fato destruir e matar células de (MRSA) em biofilmes, eu fiquei genuinamente maravilhado.”
O dr. Kendra Rumbaugh,  da Universidade de Tecnologia do Texas, que foi solicitado a replicar as descobertas, disse que a pomada teve um desempenho ‘bom, se não melhor’ do que os antibióticos tradicionais no tratamento contra o supergerme.
A equipe de Nottingham está tentando obter mais financiamento para ampliar a pesquisa, de forma que possa ser testada em humanos.

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