Luiz Leitão
Agora que a população se conscientizou de que a expressão “todo poder emana
do povo e em nome dele será exercido” não é mera retórica, seria uma pena se
essa manifestação popular tão singular se desvanascesse com a mera redução das
tarifas dos transportes públicos. Por que não aproveitar a energia e o calor do
momento para pôr em debate público algumas exigências mínimas que fariam do
Brasil uma nação mais justa? Tudo aquilo que nunca é demais exigir — e não
pedir—, cujo atendimento é perfeitamente viável considerando-se os altíssimos
impostos pagos pelos brasileiros.
Ora, um movimento desse calibre não nasce todo dia, e perder a oportunidade
de exigir que parlamentares trabalhem cinco dias por semana, como qualquer outro
mortal, que arquem com suas despesas de moradia, e que sejam julgados em
tribunais comuns não é demais. É o que se vê em países realmente democráticos.
Aproveitar o momentum dessa energia transformadora para que magistrados
tenham trinta dias de férias, como os demais cidadãos, que as regras
de aposentadoria sejam universais, e que governadores possam ser investigados
sem necessidade de autorização das Assembleias Legislativas.
Há dinheiro público de sobra no País para que se tenha escolas decentes,
segurança de fato, presídios humanos, mas sem regalias para os presos, hospitais
suficientes e bem equipados, com médicos bem remunerados. Podemos e devemos
exigir a implantação do voto distrital e a redução da mastodôntica máquina
pública, além de uma severíssima restrição às nomeações para “cargos de
confiança”.
Qualquer um que fizer as contas do que é gasto com a inútil propaganda
eleitoral “gratuita” perpétua — partidária nos anos sem eleição, e eleitoral nos
demais — haverá de concluir que dá para começar por aí a redistribuição dos
recursos públicos em benefício real da população. Tampouco temos de financiar o
fundo partidário. Os 30 partidos hoje existentes que tratem de arrecadar
recursos entre seus associados. Contando as instalações faraônicas de inúmeros
órgãos públicos, o séquito de servidores desnecessários (vide os despachantes
de check-in dos parlamentares, os mordomos do Senado) e as inúmeras
contribuições sindicais acessórias, que vão além do obrigatório imposto
sindical (confederativa, associativa, assistencial, patronal) e não são
obrigatórias, mas na prática o são, dada a imensa dificuldade de o trabalhado se
opor ao desconto e cobrança delas, percebe-se que há dinheiro de sobra em mãos
erradas.
Certamente, a lista é extensa e não se consegue mudar tudo de uma vez.
Apenas para começar, manter o foco e facilitar a compreensão e atuação das
massas, que tal exigirmos o básico? Saúde de qualidade, eficiente e suficiente;
educação idem; um sistema de transportes decente e, cereja do bolo, justiça para
todos na figura da extinção do foro privilegiado.
Jornalista e Tradutor
luizmleitao@gmail.com
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