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domingo, 13 de maio de 2012

A gripe aviária


A publicação de estudos sobre a gripe aviária foi retardada após alertas para a possibilidade de as informações serem exploradas por terroristas.


A gripe aviária raramente infecta humanos, mas quando o faz, pode causar até a morte.
Pesquisas controvertidas sobre uma cepa híbrida da gripe aviária que poderia potencialmente se espalhar entre humanos foram publicadas quarta-feira na revista Nature após a revogação das restrições à sua divulgação.

Cientistas criaram o vírus fundindo uma cepa da gripe aviária que sofreu mutação com o vírus da "gripe suína" que causou uma pandemia humana em 2009. A cepa híbrida se espalha facilmente entre furões – o melhor representante que os pesquisadores da gripe têm para gente – mas não era letal e pôde ser controlado com drogas antivirais e vacinas contra a gripe aviária.

O trabalho, de Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Wisconsin-Madison foi submetido ano passado à revista, mas foi retido após consultores de biosegurança do governo americano terem dito que partes-chaves do artigo deveriam ser retiradas para evitar que os detalhes fossem explorados por bioterroristas.

O Conselho Consultivo Nacional dos Estados Unidos para Biosegurança (NSABB) manifestou preocupações semelhantes sobre um segundo artigo, no qual Ron Fouchier, do Erasmus Medical Center de Roterdã fez uma cepa mutante da gripe aviária que também se espalhou entre furões. Aquele artigo foi submetido à revista Science.

A intervenção do NSABB levou a meses de debates entre cientistas,  editores e agentes do governo sobre os riscos de publicar os artigos. Os cientistas argumentaram que seu trabalho tratava de um importante fator sobre a gripe aviária – exatamente se ele poderia evoluir na natureza para uma cepa que se espalhasse facilmente entre humanos.

A gripe aviária foi descoberta inicialmente em aves domésticas há mais de 16 anos. O vírus raramente infecta pessoas, mas quando o faz pode causar doenças sérias e matar. Mais da metade das cerca de 600  pessoas que se sabe terem contraído o vírus morreram pela infecção.

No final de março a NSABB realizou um segundo encontro, com apresentações de agentes de segurança dos EUA. O conselho aprovou então a publicação na íntegra do artigo de Kawaoka, e votou 12 a 6 a favor da publicação da pesquisa holandesa.

Trabalhando em um laboratório de alta segurança,a equipe de Kawaoka vigiada pelo FBI criou milhares de formas mutadas do vírus  H5N1 da gripe aviária. Entre essas, eles selecionaram uma mutante capaz de aderir a células do nariz humano e garganta. A gripe aviária geralmente só adere a células nas profundezas do pulmão, o que torna as infecções graves, mas quase impossíveis de se espalhar por meio de tossidos e espirros.

Os cientistas então combinaram o vírus mutante com o da gripe pandêmica de 2009 e infectaram furões com a cepa híbrida. Após vários episódios de infecção, em que o vírus foi isolado das gargantas e narizes de animais e usado para infectar outros, eles encontraram uma cepa que podia se espalhar rapidamente no ar entre animais em gaiolas vizinhas. Nenhum dos furões morreu da infecção.

Estudos do vírus revelaram que sua natureza infectante era orientada por apenas quatro mutações. Três ajudaram o vírus a aderir a células do nariz e garganta, e a quarta o permitiu infectá-los, segundo o relato na Nature.

"Uma das mutações que identificamos já está circulando em vírus no Oriente Médio e Ásia, portanto há preocupações a respeito de esses vírus na natureza adquirirem mais mutações e se tornarem transmissíveis entre mamíferos," disse  Kawaoka. "Se equipes de vigilãncia souberem quais mutações são importantes … elas poderão ficar alertas para a emergência de vírus com potencial pandêmico e informar as authoridades para que tomem as precauções adequadas."

Malik Peiris, especialista em gripe aviária da Universidade de Hong Kong, não envolvido na pesquisa, disse que era  "absolutamente necessário" publicá-la. "Algumas pessoas começavam a dizer que o vírus H5N1 da gripe aviária não tem capacidade de ser transmitir entre humanos. Este trabalho não significa que ele vá se tornar pandêmico, mas nós certamente não podemos descartar a possibilidade de isso acontecer. E nós agora sabemos que pode acontecer," disse Peiris.

Ele disse que manter secretos detalhes do trabalho pode ter graves implicações para as equipes de vigilância que procuram por sinais precoces de cepas pandêmicas emergentes.

"Nós tentamos apelar às pessoas nos países onde o H5N1 da gripe aviária é  endêmico para que sejam mais atuantes na procura desses vírus. Que mensagem passamos se dizemos: por favor, sejam mais vigilantes, e por falar nisso, nós descobrimos algumas mutações que são importantes para a transmissão entre humanos, mas não podemos dizer quais são são elas porque é muito perigoso. Isso seria a sentença de morte da vigilância," disse.

As mutações na cepa híbrida de Kawaoka pareceram ter o mesmo efeito daquelas que causaram outra cepa de gripe aviária, H9N2, de se espalhar entre mamíferos. "Isso é que é realmente importante e interessante. Se pudermos entender os mecanismos que permitem aos vírus da gripe se tornarem  transmissíveis entre mamíferos, podemos ser capazes de  generalizar para muitos outros, talvez todos, os vírus influenza," disse Peiris.

Embora a cepa híbrida tenha sido criada em laboratório, ambos os vírus de gripe, aviária e humana podem infectar porcos e se misturar com outras formas híbridas naturalmente. Uma questão que os cientistas estão investigando agora é se as mutações que tornam o vírus hpibrido tão transmissível também o tornam menos perigoso.

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