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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

IBOVESPA ou IBOVESTATAL ?


Fernando Leitão
Sempre ouvi dizer que os detalhes são o mais importante. Que eles definem o todo e que podem comprometer um grande projeto.
Fico me perguntando, assim como a maioria dos investidores, o motivo pelo qual o Ibovespa apresenta a segunda pior rentabilidade entre as bolsas do mundo capitalista.
Desde o inicio do ano até a primeira semana de julho, nosso Ibovespa apresentou variação negativa de 10,24%, sendo melhor apenas do que a bolsa grega com queda de 10,60%. A indiana caiu 6,86%, a chinesa, 2,19% e a russa, única representante do Bric no azul, subiu 1,38%.
Será que nós brasileiros estamos só um pouquinho melhores dos que os gregos? Nossa economia está só um pouquinho melhor do que a deles? Nossa dívida externa é impagável como a deles? Claro que não. Então porque estamos só um pouco melhores do que eles em termos de desempenho das ações negociadas em bolsa de valores?
E quem disse que a bolsa de valores brasileira está ruim? O Ibovespa disse.
E o que dizem outros índices compostos por empresas cujas ações são negociadas na Bovespa, mas que são poucos divulgados? Vamos a alguns deles e suas variações no primeiro semestre:
·         IBrA( ações mais negociadas nos últimos 12 meses), queda de 6,18%
·         IMOB(setor imobiliário), queda de 13,93%;
·         INDX(setor industrial), queda de 10,66%;
·         ICON(consumo), queda de 3,77%;
·         IEE(energia elétrica), alta de 10,39%;
·         ITEL(telecomunicações), alta de 22,81%;
·         UTIL(utilidade publica), alta de 12,20%;
·         IDIV(dividendos,que reúne ações com os maiores “yields” nos últimos dois anos), alta de 2,71%.
É uma variedade de índices, sendo que alguns deles em desacordo com o título que recebem. O IDIV, por exemplo, possui em sua composição ações de empresas com maior peso que outras, apesar de um “dividend yield” bem menor. É o caso de Ambev, CCR, e Natura, com mais peso que Eletropaulo, Tietê e Transmissão Paulista. Isso apenas por terem mais liquidez que as outras. Mas é o critério, e não se discute.
Há também o UTIL, formado por ações de empresas de utilidade pública com alto “dividend yield”. Esse sim deveria ser o IDIV. Pelo menos é composto por ações com os maiores “yield`s” da Bovespa.
E o IBOVESPA propriamente dito. E o que diz o próprio site da Bovespa? “O Ibovespa é o mais importante indicador do desempenho médio das cotações do mercado de ações brasileiro”. Mais: “A finalidade básica do Ibovespa é a de servir como indicador médio do comportamento do mercado”.
Concordo que não devemos usar outros índices apenas porque estão com rentabilidades superiores. Acho correto usar o Ibovespa, que engloba um grande numero de empresas. Mas será que o critério é o melhor? Será que deveríamos privilegiar determinadas ações por possuírem mais liquidez ? A quem pretendemos informar quando o Ibovespa é divulgado?
Será que, no final das contas, não acabamos influenciando negativamente o público quando mostramos o principal indicador bursátil caindo mais que 10%? Essa é a realidade do mercado de ações brasileiro?
Mais de 30% do índice Bovespa é formado por empresas cujas decisões administrativas e estratégicas são emanadas diretamente de Brasília. Ilustres e imortais políticos tem o poder de influenciar o índice com suas sábias e imparciais decisões. E se adicionarmos nesta parcela as empresas do setor financeiro, este peso passa a mais de 48% na composição do Ibovespa. Qual não deve ser o sofrimento do gestor que não concorda com a gestão pública e não investe no setor financeiro, mas precisa do Ibovespa como referencial.
E não pretendo entrar na área de influência do BNDESPAR e até aonde conseguem ir  seus tentáculos.
Sei que não conseguiremos viver numa ilha da fantasia, isolados dos acontecimentos, mesmo que nossa economia, esteja em melhores condições que a maioria dos países industrializados. Entretanto é importante mostrar o desempenho de outras empresas e não apenas as de gestões publicas, que são, de maneira geral, repudiadas pelos investidores. Basta tomarmos os exemplos mais recente de Petro e Vale, que apesar de mostrarem os maiores lucros de suas histórias, vêm se desvalorizando dia após dia.
Para o bem do crescimento da base de investidores devemos divulgar ao lado do “Ibovestatal”, o IDIV, o IEE, o UTIL, o ITEL, em que a gestão, a transparência e os dividendos poderão atrair mais adeptos do que simples aliados da base governamental.
Fernando Leitão é diretor de renda variável da HOYA C.V.C. e autor do livro “Viva de dividendos” – fernandoleitao@hoya.com.br
Artigo publicado originalmente no jornal Valor 
 N.do E.: "Dividend yield" significa retorno em dividendos pagos

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