A NIGHT IN SYDNEY
How could I have painted the house with such a huge contrast of scenes?
Furniture whispering by the corners, a fever of windows collected to their inner tremble, taps committed with keeping silence for long eternities.
I had forgotten everything that night.
I tried at least to recollect the name of that woman lying by my side.
Descending to the kitchen for some water I saw how my steps on the steps were already there, previously to me.
All over the house the signs multiplied in a same enigma: everything I tried to do I myself had already done.
From the window facing the yard I could see buckets of paint, sandpaper, brushes, the stairs bathed in evidences.
Lips frayed of some twilight, wine spilled on the carpet, Ben Webster still played Come rain or come shine.
Night immerse in scenic silence.
Her body multiplying in characters which are codes of emptiness, painful shades, restless figures of dreams I could never understand.
The house is some kind of souls sewing, with its stage of paints and architecture of reflexes.
I’m already not anywhere, but she hurts me as if she were all my life.
UMA NOITE EM SIDNEY
Como poderia ter pintado a casa com tamanho contraste de cenas?
Móveis sussurrando pelos cantos, uma febre de janelas recolhidas a seus tremores internos, torneiras empenhadas em manter o silêncio por longas eternidades.
Eu havia esquecido tudo naquela noite.
Tentava ao menos recordar o nome daquela mulher deitada ao meu lado.
Ao descer à cozinha para tomar água vi como meus passos nos degraus já estavam ali antes de mim.
Por toda a casa os sinais se multiplicavam em um mesmo enigma: tudo o que eu procurasse fazer eu mesmo já havia feito.
Da janela que dava ao quintal pude ver baldes de tinta, lixas, pincéis, a escada banhada em evidências.
Lábios esgarçados de uma penumbra, vinho derramado no tapete, Ben Webster ainda tocava Come rain or come shine.
Noite imersa em um silêncio teatral.
O corpo dela se multiplicando em personagens que são códigos do vazio, sombras doloridas, vultos inquietos de sonhos que jamais pude entender.
A casa é uma espécie de costura de almas, com seu palco de tintas e arquitetura de reflexos.
Já não estou em parte alguma, mas ela me dói como se fosse toda a minha vida.
UNA NOCHE EN SIDNEY
¿Cómo podría haber pintado la casa con semejante contraste de escenas?
Muebles susurrando por los rincones, una fiebre de ventanas recogidas a sus temblores internos, grifos empeñados en mantener el silencio por largas eternidades.
Yo había olvidado todo aquella noche.
Intentaba al menos recordar el nombre de aquella mujer acostada a mi lado.
Al bajar a la cocina para tomar agua vi como mis pasos en los escalones ya estaban allí antes de mí.
Por toda la casa las señales se multiplicaban en un mismo enigma: todo lo que buscase hacer yo mismo ya lo había hecho.
De la ventana que da al patio pude ver baldes de tinta, lijas, pinceles, la escalera bañada en evidencias.
Labios rasgados de una penumbra, vino derramado en el tapete, Ben Webster aun tocaba Come rain or come shine.
Noche inmersa en un silencio teatral.
El cuerpo de ella multiplicándose en personajes que son códigos del vacío, sombras doloridas, bultos inquietos de sueños que jamás pude entender.
La casa es una especie de costura de almas, con su palco de tintas y arquitectura de reflejos.
Ya no estoy en ninguna parte, pero ella me duele como si fuese toda mi vida.
***
poema & imagens | floriano martins | floriano.agulha@gmail.com
luiz leitão (inglês) | luizleitao@ebb.com.br
gladys mendía (espanhol) | mendia.gladys@gmail.com
gladys mendía (espanhol) | mendia.gladys@gmail.com
2011
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