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sexta-feira, 18 de março de 2011

A Rosa de Hiroshima

O piloto Paul Tibbet, da Força Aérea dos Estados Unidos, acena do cockpit (cabine) do bombardeiro Enola Gay, que despejou a bomba atômica sobre o Japão, na Segunda Guerra Mundial.

Luiz Leitão


A paisagem de destroços em Yamada, Estado de Iwate, no Japão, após os gigantescos terremoto e maremoto que atingiram o país guarda alguma semelhança com as imagens de Hiroshima e Nagasaki.
Se a devastação ali pode ser atribuída às forças da natureza, a radioatividade que permeia o ar é fruto da mesma irresponsabilidade que levou à destruição daquelas cidades na Segunda Guerra Mundial, com uma diferença: hoje por omissão, no passado por ação.
O que distingue a incúria das autoridades que permitem o agravamento de desastres previsíveis no Brasil, como os deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro, da dos governantes do Japão?
Permitir a construção de usinas nucleares num local de tão intensa atividade sísmica é mais do que jogar com a sorte, quando se sabe que as placas do Pacífico se movimentam a velocidades elevadas, cerca de nove cm/ano.
Isso leva à rápida acumulação de enormes quantidades de energia. À medida que a placa do Pacífico se move para baixo, ela adere à placa superior e a puxa junto.
Os tremores foram o resultado de uma violenta elevação do leito marítimo a 80 milhas da costa de Sendai, onde as placas tectônicas do Pacífico deslizam sob a placa em que o Japão está assentado.
Dezenas de milhas da crosta se romperam ao longo da fossa onde as placas se encontram. O terremoto ocorreu a relativamente pouca profundidade, entre seis e 15 milhas, o que significa que muito de sua energia foi liberada no leito marinho, tendo sido, portanto, um maremoto.
As placas tectônicas da região são complexas, e geólogos não têm certeza sobre qual placa o Japão está assentado, tanto pode ser a placa da Eurásia, a microplaca de Honshu, a de Oshkosh ou até mesmo a Norte-americana.
Mas os cientistas sabem calcular a velocidade potencial das águas de acordo com a magnitude do tremor; no caso 500 milhas por hora, velocidade de muitos aviões, e a energia cinética resultante desse deslocamento é aterradora.
Uma massa gigantesca de água se movendo a tamanha velocidade tem um potencial destruidor incalculável. Eis a razão pela qual não se deveria, jamais, ter construído qualquer usina nuclear no Japão.
As placas continuam se movendo, acumulando energia para o próximo desastre.
As inspeções que serão feitas pelos 14 países entre os 27 que possuem usinas nucleares comprovarão, segundo Ghünter Oettinger, comissário de Energia da União Europeia, que algumas deverão ser fechadas ou revisadas, além de não estarem preparadas para enfrentar eventos climáticos extremos, terremotos ou quedas de energia e ataques terroristas.
Entre 50 e 300 funcionários atuam na luta para controlar os quatro reatores de Fukushima fora de controle, sob a ameaça de fusão de seus núcleos e liberação de radioatividade.
Esses trabalhadores que permanecem na usina são heróis anônimos, a maioria acima dos sessenta anos. Seus soldos são uns 80 euros diários.
Mas eles não fazem isso por dinheiro, nem reconhecimento. O que os move é o “yamato-damashii", o “espírito japonês”.
As autoridades aumentaram a dose máxima de radioatividade que a que poderão estar expostos de 100 para 250 milisieverts... São as novas Rosas de Hiroshima, altruístas, que florescem para o bem comum, despidas da estupidez dos empresários e políticos.

Luiz Leitão é jornalista luizmleitao@gmail.com

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