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sábado, 19 de março de 2011

Bem-vindo, Barack Obama



Rinaldo Americo, sósia e imitador de Barack Obama, cumprimenta um turista na Cinelândia, no Rio de Janeiro, onde o verdadeiro presidente iria discursar Obama.


Pedro da Cunha

Sou daqueles que defendem um bom relacionamento com nosso irmão do norte. Poucos povos torceram tanto, e aí me incluo, pela vitória deste notável primeiro negro na presidência da fraternal nação. De nossa parte, o relacionamento foi sempre bom, mesmo sob a batuta de presidentes passados. O fato de valorizarmos o diálogo sul-sul em nada deve diminuir a qualidade de nossas relações sul-norte.

Defendo, também, que o relacionamento de nossos irmãos americanos para com o Brasil, seja igualmente frutífero.

Para que a balança de nossos entendimentos, sujeita ao exame dos visitantes e dos donos da casa, seja bem equilibrada; caberá à presidente Dilma lembrar ao bom Obama que não estamos sendo tão bem tratados assim.

No campo comercial são muitas as manifestações discriminatórias contra nossos produtos, ainda que, de nossa parte, não parece existir discriminação aos produtos deles. Vale perguntar a Obama, que vem propor laços mais estreitos, por que nosso suco de laranja é submetido a uma tarifa draconiana? Por que nossa carne continua enfrentando barreiras supostamente fitossanitárias, quando ela é aceita mundo afora?  

Porque nosso aço é praticamente barrado por impostos que destroem nossa competitividade? Por que o algodão produzido nos Estados Unidos é protegido por subsídios ilegais, conforme a OIC, tornando impossível uma leal concorrência? Por que nosso etanol, muito mais competitivo, tem chance remota de penetrar naquele mercado? Ainda outras perguntas similares poderiam ser feitas, mas por aqui ficamos, satisfeitos e tristes com os exemplos desta fraternal amizade.

E no campo político? Por que Washington pressiona seus aliados a nos negar acesso à tecnologia que nos permita colocar no espaço nosso próprio satélite?  E por que nos impedem, peremptoriamente, a pretensão a um assento no Conselho de Segurança da ONU? Por que bloqueiam a obtenção de know-how, mundo afora, para o desenvolvimento de nossa tecnologia nuclear?  Por que maltratam muitos de nossos visitantes que chegam aos Estados Unidos?

Afinal, outros compatriotas, mais afinados ao bolso do que à nacionalidade, diriam, “mas são nossos grandes amigos”. Ou não? Onde está a reciprocidade ao carinho e ajuda que damos aos nossos companheiros de hemisfério? Temos no Brasil agentes armados de diversas agências norte-americanas, agindo com o beneplácito de nosso governo. Colaboramos com nossos irmãos na luta antiterrorista e antidrogas. Livramos Washington da desagradável incumbência de pôr ordem no Haiti. Acalmamos nosso vizinho Chávez quando necessário e colocamos o Itamaraty em colaboração cordial com o “Foggy Bottom”*.

Sejamos amigos, assim mesmo. Nos idos Imperiais os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecer nossa independência ainda que, quando da Guerra do Paraguai estes se alinhavam com Francisco Lopes. Uma no cravo, outra na ferradura... Mas não sejamos pessimistas. Não interpretemos mal as pressões recebidas, mas, sim, como um cacoete de rico para pobre.

Bem vindo, bom Barack Obama. Você é a esperança de um Estados Unidos onde o Soft Power suplante, finalmente, o Hard Power. Vejamos que novas ideias nos traz, que nivele a balança dos que oferecem e dos que recebem.  

*Foggy Bottom é o Itamaraty deles

Pedro da Cunha

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