No inicio do ano multiplicaram se artigos sobre as frustradas projeções do índice Bovespa de 2010, tentando justificar ou analisar os motivos de erros tão berrantes.
O editor de investimentos do jornal Valor, jornalista Angelo Pavini, mostrou recentemente como a variação do índice foi arrastada pela baixa performance das ações de Petrobrás, Gerdau, Usiminas e outras. Mostrou também que se selecionados certos setores da economia, a variação das cotações destas empresas em 2010 é bem melhor.
Também no jornal Valor, na seção ”Palavra do gestor” do dia 4 de janeiro passado, o engenheiro Fabio Colombo mostra que devemos ter bastante cuidado ao olhar para as projeções do índice Bovespa que começam a sair do forno dos bancos, corretoras e gestoras de recursos, neste inicio de ano.
O índice Bovespa é formado por mais de 60 ações de diferentes empresas, de diversos setores, cada um com sua particularidade e dúvidas a respeito do futuro.
Sabemos que a probabilidade de uma projeção se tornar verdadeira é maior à medida em que o número de variáveis nela incluídas for menor.
Para projetarmos o lucro de uma única empresa precisamos lidar com “n” variáveis em nossos cálculos. Imaginem numa cesta composta por 60 empresas em que precisamos adicionar às variáveis específicas de cada empresa, outras tantas sobre os diferentes setores.
Atualmente estas projeções são realizadas por eficientes programas de computadores pilotados por hábeis analistas que produzem vários resultados por segundo, de acordo com as variáveis imputadas. A dificuldade dos cálculos matemáticos foi atenuada, mas continua sendo um desafio chegar ao final do exercício utilizando as projeções feitas há 12 meses.
Enquanto as estimativas apontavam, na média, para 82.000 pontos ao final de 2010, o índice Bovespa sequer conseguiu atingir os 70.000 pontos em dezembro.
Porque precisamos iniciar um ano novo com indicações de como ele irá terminar?
Porque simplesmente não olhamos para determinadas empresas e acreditamos ou não, que suas vendas serão crescentes e suas gestões eficientes?
Ainda no artigo do Dr. Fabio Colombo, ele mostra que de 1968 até 2010 o rendimento médio real do Ibovespa foi de mais de 9% ao ano e que as variações positivas ou negativas mais intensas se normalizavam à medida que o horizonte se estendia.
Quem investiu seus recursos nos últimos 15 anos em ações e permaneceu assim por pelo menos 5 anos,conseguiu ganhar da inflação em quase todos os períodos examinados. Nos poucos exemplos aonde a inflação bateu a variação do Ibovespa, foi necessário apenas mais um ano de permanência neste investimento para reverter a situação.
Se esquecermos um pouco o índice Bovespa , que nos últimos 15 anos valorizou 1.512 %, e olharmos para ações de determinadas empresas , o resultado é muito diferente. Considerando o mesmo período , as ações da Tietê tiveram uma valorização de 3.821 % sem computar a distribuição de dividendos, Banco Bradesco valorizou 3.852 %, Weg 4.177%, Petrobrás 4.953%, Ambev 5.551%, Vale 5.592%, Itausa 6.816% e Souza Cruz 10.113%.
Neste mesmo período de 15 anos, a inflação acumulada, medida pelo IPCA, foi de 213 %, sendo o ano de 1995, o primeiro em que a inflação começou a ser domada, depois de um longo período de hiperinflação.
O exposto acima nos mostra mais uma vez que a análise isolada do Ibovespa pode nos levar a conclusões pouco precisas.
Acredito que a renda variável bem estudada e com prazo longo para resgate, é quase sempre imbatível como aplicação.
Para uma boa avaliação precisamos levar em consideração a qualidade da administração da empresa, o posicionamento dela em seu mercado de atuação, o histórico de bons resultados, a sua capacidade de enfrentar anos difíceis e a continuada política de distribuição de dividendos aos acionistas.
Se pudermos encontrar empresas com estas características (e não são poucas como a princípio podemos imaginar), não perca tempo em olhar para as projeções do índice Bovespa, apenas compre estas ações e aguarde.
Fernando Leitão da Cunha
Diretor de renda variável da HOYA CORRETORA DE VALORES E CÂMBIO e autor do livro “Viva de dividendos”
Publicado no jornal Valor, em 19/1/11
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