Enquanto o poço Deepwater Horizon da empresa BP cospe dezenas de milhares de barris de petróleo no mar do Golfo do México, num desastre ambiental de proporções jamais imaginadas, uma bela nova espécie de pássaro sobrevoa silenciosamente os céus, em seu primeiro voo de teste.
O avião Solar Impulse realizou a proeza de voar por 24 horas contínuas, sem o tradicional reabastecimento em voo, com seus motores silenciosos movidos a energia do Sol, num dos pouquíssimos voos a motor já realizados sem o uso de combustíveis feitos a partir daquele petróleo que empesteia a costa americana.
Nesse mesmo ínterim, mulheres tibetanas fervem água em fogões solares, em Tsedang, Região Autônoma do Tibete. O fogão concentra energia solar para aquecer a água, e é muito comum na região.
Dados da Unicamp revelam algumas curiosidades a respeito da insolação média, que conforme a localidade e as condições climáticas varia entre 800 kWh/m² na Escandinávia e 2.500 kWh/m² em alguns desertos. No entanto, o sistema de células fotovoltaicas é cerca de dez vezes mais caro que as formas tradicionais de produção de eletricidade, embora uma alternativa, a conversão termossolar, seja bem mais em conta. Funciona produzindo vapor pelo aquecimento da água com a radiação solar, e apenas 1% da área dos desertos forneceria energia suficiente para o consumo mundial. O problema reside em boa parte na transmissão dessa eletricidade.
Entre o pesadelo no Golfo e o voo do Impulse, utópicos ativistas fazem campanhas pelo fim da dependência do petróleo, como se fosse algo fácil de fazer – e não contrariasse poderosíssimos grupos de interesses.
Entretanto, o importante foi provar que é possível, mesmo sabendo-se que o avião solar não irá substituir os jatos convencionais - pelo menos não tão cedo. A ciência precisa de tempo, evoluindo por tentativa e erro, embora de vez em quando dê passos largos, excepcionalmente.
Nossa dependência do petróleo não acabará tão cedo, e o Canadá, que extrai o produto da maneira mais suja possível, de suas areias betuminosas, em Fort McMurray, Alberta, tem a segunda maior reserva do mundo, superado apenas pela Arábia Saudita, o faz em silêncio, pouco se fala a respeito das chamadas “Tar sands”.
O drama da Terra não se resume à questão do petróleo, lixo, desmatamento. O tal “desenvolvimento sustentável” é incompatível com um sistema socioeconômico baseado em taxas de crescimento de dois dígitos ao ano e brutais concentração de renda e poder.
Uma gigantesca incógnita se impõe entre o pesadelo do Golfo, a leve e silenciosa magia do Solar Impulse e o nosso vão desejo de crescimento sustentável, adjetivo que combina mais com estabilidade.
Por ora, quando os salários na China começam a se tornar “caros” e vai-se em busca de mão de obra (ainda) mais em conta, abaixo de US$ 100 mensais, fica difícil sonhar com um mundo melhor.
© Luiz Leitão é jornalista luizmleitao@gmail.com
SRT 57952
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