Fernando Alves de Oliveira
São por demais conhecidas as dificuldades que o autor de livros no Brasil enfrenta na hora de divulgar sua obra. Terá êxito se for famoso ou por qualquer outra razão circunstancial estiver na mídia. Fora disso, sua missão será espinhosa, tortuosa e, em 99,9%, inútil.
Sou consultor sindical patronal e autor de dois livros versando sobre o âmbito sindical e estou nessa estrada íngreme e pedregosa há mais de 35 anos. Como não pertenço a nenhuma das duas estirpes acima, enfrento insanos obstáculos para o alcance desse desiderato. E se até aqui ainda consegui alguns resultados positivos, devo-os à minha resoluta e hercúlea tenacidade de enfrentamento.
A exemplo do primeiro (O sindicalismo brasileiro clama por socorro -um alerta aos sindicalistgas e aos contribuintes dos sindicatos), editado em fevereiro de 2001) este meu segundo livro (S.O.SINDICALpt -o que os contribuintes dos sindicatos e a sociedade precisam saber sobre o sindicalismo brasileiro e suas graves contradições), lançado em março último, enfrenta essa verdadeira barreira. E foram editados nada mais nada menos pela mais tradicional e uma das mais gabaritadas editoras de livros versando sobre as relações do Trabalho, isto é, pela reputada LTr, o que qualifica o seu conteúdo.
A mentira e o engodo
A obra recente -a exemplo da primeira- desnuda de forma intrépida os tão incontáveis como insanáveis vícios e mazelas do nosso sistema sindical, cujo modelo data do Estado Novo do caudilho Getúlio Dornelles Vargas, prevalecendo incólume até os dias atuais. Imaginem a defasagem e o descompasso, ditados por esses longos 70 anos... E pontifica por provar seu ainda maior retrocesso no governo Lula, Isto mesmo, do idêntico ex-operário e célebre ex-sindicalista que se notabilizou nesta Nação por suas alocuções extremadas, vociferando por mudanças na estrutura política e sindical, esta última, aliás, sua conhecida escada ascendente ao Poder.
Ora, teria sido mais um no lamentável desempenho da velha e surrada retórica reformista não correspondida pelo exercício da prática. E disso o Brasil é campeão insuperável.
Fora do poder, nossos políticos têm uma visão panorâmica merecedora dos maiores encômios. Quando, porém, ascendem a ele, só faltam dizer clara e abertamente: "É preciso mudar alguma coisa para que tudo permaneça como está...", de vez que, via de regra, sua performance segue esse prisma. Demagogia barata? Descaramento? Falta de coragem para cristalizar oratória com realizações? Tudo isso e muito mais. Mas não vamos perder tempo com essa malsinada classe, em muito deplorada pelo povo. Num país em que se vota por dever obrigatório, o resultado só pode ser esse mesmo, isto é, a eleição dentro do contexto não da convicção, mas da exclusão.
Vota-se no menos pior! Isso em pleitos majoritários porque em eleições proporcionais ganha o mais vocacionado à mentira desabrida, ao embuste ou à distribuição de dentaduras e sapatos (um pé antes e outro depois, se eleito, é claro...).
Preferia não ter utilizado o nauseabundo preâmbulo para chegar até aqui. Desculpem, mas foi de todo inevitável.
Meu último livro pontifica por provar, com todas as letras, o embuste feito pelo PT de Lula no campo sindical. Que ele e o PT se diziam reformistas, isto está gravado desde os tempos em que o velho cacique petista clamava por mudanças em seus acalorados discursos de Vila Euclides, no ABC paulista. Não é nenhuma novidade.
Ocorre que, além da retórica, há um documento histórico que qualquer mortal poderá constatar, simplesmente consultando os anais da Câmara dos Deputados. Trata-se da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 252 de maio de 2000, apresentada sabem por quem? Pelo deputado Ricardo Berzoini, dois anos antes do PT ascender ao poder, propondo o fim da unicidade e da contribuição sindical obrigatória.
E o que aconteceu após a ascensão de Lula ao Governo? Em 2005, o mesmo Ricardo Berzoini -já na qualidade de ministro do Trabalho- apresentaria a PEC 369/2005, rotulada de reforma sindical, absolutamente oposta. Não só não se acabou com a unidade e a contribuição compulsória, como foram oficializadas as centrais sindicais (para se favorecer claramente à CUT, braço direito do PT) e injetar nelas novos e obesos recursos do dinheiro fácil da contribuição sindical. Assim, do rateio dos 20% auferidos pelo Ministério do Trabalho, a metade (10%) passará a ser distribuída às centrais. O que representa isto em cifrões? Simples: da bagatela de estimados R$ 1,3 bilhão, R$ 130 milhões serão embolsados por essas centrais. Como a CUT é a maior delas e como sua distribuição é proporcional, tirem suas conclusões... Além disso, deu-se o passo inicial para a substituição da contribuição sindical compulsória pela denominada negocial, de valor majorado, é claro... E além de tudo, o sindicalismo brasileiro passa a ser tutelado pela cúpula, esfacelando-se as bases. Ao invés de avanço, retrocesso. É ou não é uma autêntica ditadura numa republica sindicalista, que na atualidade possui semelhanças inerentes a um gigantesco Sindicato Brasil?
Para parar por aqui. Quem estiver interessado em completos detalhes, leia o livro ou simplesmente meu detalhado artigo, dele derivado, sob o título O (provado) retrocesso sindical no Governo Lula, publicado em 04 de março no Consultor Jurídico (www.conjur.com.br) ou na edição de 10 do mesmo mês do Jornal Jurid (www.jurid.com.br).
Jornalismo laudatório sim. Investigativo nem tanto
O foco deste comentário é tratar de dados, substanciosos, constatáveis, provados e cunhados não em observações de fundo opinativo, muito menos de reles proselitismo político, mas em fatos, em evidências. Constatáveis, provados e comprovados em singelas consultas no site (e nos anais) da Câmara Federal. Assim, negá-los seria negar a própria evidência dos fatos. Mas nem assim a imprensa escrita, falada e televisada se dá ao trabalho de divulgar. A aferição de sua importância social, que deveria ser processada em legítimas razões do interesse público em primeiro lugar, é simplesmente ignorada ou relegada a outros fatores nada nobres. Pelo menos, a mídia cibernética (a mais pobre, mas não menos poderosa) ainda é mais democrática. Pelo menos até aqui.
A mídia quer, em primeiro lugar, a generosa verba controlada pelo ministro do Verbo. A chamada propaganda institucional do governo é distribuída proporcionalmente a quem é mais ou menos condescendente com os detentores do Poder. Isso é uma verdade absolutamente irretorquível. Os controversos que contraponham.
Basta um único exemplo. Num país em que o jornal televisivo de maior audiência, há décadas caracterizado de "chapa branca" está inserido entre o horário das duas novelas igualmente mais agraciadas pelos números dos institutos de pesquisas de audiência, o povão geralmente nem o assiste (ou se o faz não presta muita atenção, pois se não jantar rapidinho não irá assistir a novelinha subseqüente das 9 da noite, motivo pelo qual ou assiste-o na cozinha ou o faz com o prato de comida na mão no sofá). Sendo assim, o que se pretende em termos de melhoria qualificada de esclarecimento político? Qual a média da população brasileira que lê regulamente jornais, revistas ou livros? Como tal, que possui efetivo esclarecimento político? E mais: a imprensa atual dá muito mais importância ao jornalismo laudatório do que o investigativo. Quem também ousa contrapor isto?
Um imenso palco
Mas os governantes, não acham isso ruim, não. Claro, dissimulam, mas -no fundo- gostam. E como adoram! É como diz a sábia cartilha do político escolado, hábil e refinado: do rico, eu quero a doação da grana, do pobre, o voto.
Além disso, a mídia pugna, em primeiro lugar, pelos recursos oriundos da verba que, naturalmente, está a cargo do ministro do Verbo. A chamada propaganda institucional do Governo é distribuída proporcionalmente a quem é mais ou menos condescendente. Claro que isso não nasceu no governo Lula, nem vai acabar depois dele. Mas que este é o mais generoso de todos, não há nenhuma dúvida. E o senhor Franklin Martins está atento e, como é óbvio, antenado em tudo o que se lê, se vê e se fala. Cumpre a preceito o seu papel, que até o pós escândalo do mensalão pertencia ao seu antecessor, Luiz Gushiken.
Portanto, espaço em jornal, rádio, televisão, mesmo com graves evidências contrárias aos donatários do poder, é diametralmente inverso ao velho axioma espanhol (Hay gobierno? Soy contra).
O que você sugere como pauta, mesmo que seja tema do mais puro interesse público, for contrário aos interesses dos aboletados no Poder, perderá seu tempo. Mas é claro que não será um não! explícito. O jornalista culpará o editor, que por sua vez transferirá a não publicação ao diretor de redação. E este é bem capaz de inculpar o dono do veículo de comunicação (que é, enfim, o beneficiário da bem-vinda benesse) Quando não, virá pelo cansaço ou pela derradeira instância. É quando todos os protagonistas do espetáculo se fingirão de mortos...
A única exceção é quando da explosão de um escândalo. Aí ninguém segura. A mídia toda arfará na busca dos detalhes pertinentes, correlatos, afins, conexos e assemealhados. Todos disputando, com a rapidez de um foguete a fonte que possuía indícios do indigitado acontecimento.. Alguns até indagarão, tão ensandecidos quanto cinicamente: Onde estava essa preciosa fonte? Por que não falou antes?
Portanto, aos que estão no mesmo barco deste persistente escriba, esperem o dia em que a doença (que vocês sabem de que eles estão possuídos) vitime mortal e inexoravelmente os donos do Poder. Aí a mídia irá procurá-los rapidinho e ouvi-los-á nas mínimas minúcias de detalhes...
Não parece, mas o jornalismo, especialmente o tupiniquim, é também um imenso palco.
Fernando Alves de Oliveira - Consultor Sindical Patronal e autor dos livros "S.O.S.SINDICALpt", ora lançado, e "O Sindicalismo Brasileiro Clama por Socorro" (fev/2001), ambos pela tradicional Editora LTr. E-mail:falvesoli@itelefonica.com.br
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