Pela simpatia que sinto por Angola, mas não só por ela, não resisto a reproduzir aqui matéria de Roberta Pennafort, no Caderno Cultura do jornal O Estado de São Paulo de hoje, 27/4. Seu belo trabalho revela as andanças do fotógrafo brasileiro Sérgio Guerra, que por lá vive desde o século passado, 1999.
Aliás, eu já disse aqui que, se tivesse tido uma filha, eu a batizaria Luanda.
A etnia herero, que habita a região central de Angola, na África, é composta por pastores polígamos e seminômades. Ninguém conhece tão bem esse povo - nem mesmo os angolanos - quanto o pernambucano Sérgio Guerra, 49 anos. Fotógrafo e publicitário, há 12 anos Guerra vive e trabalha em Angola, na área de comunicação do governo.
Fascinado pela cultura dos herero, ele lança , em São Paulo, o livro "Hereros - Angola", uma bela edição, com 242 imagens nas quais registrou cenas do cotidiano, cerimônias e costumes desse povo.
Foto: Sérgio Guerra
A primeira vez que Sérgio Guerra teve contato com a etnia foi em 1999, durante a gravação de um programa de TV para a emissora estatal de Angola. Desde então e até o ano passado, Guerra retornou ao local outras vezes, sempre fotografando o jeito de viver do povo herero. Até que decidiu lançar o livro. "Numa das viagens, passei dois meses ininterruptos na tribo, registrando os costumes deles. Fiz grandes amigos lá", diz.
Mas não foi fácil para Guerra, que é vegetariano. Os herero possuem costumes completamente diferentes. O gado que eles criam é parte da dieta, com leite e carne. Eles desprezam o peixe e ocasionalmente caçam e coletam frutos. Apesar de ter acesso a água, o povo não toma banho e protege a pele com uma espécie de manteiga misturada com raspas de uma pedra rica em óxido de ferro. "É por isso que nas fotos eles têm uma coloração meio avermelhada. De fato, a mistura protege a pele. Não senti nenhum odor", conta Guerra.
Mas não tomar banho é a faceta menos intrigante desse povo. Todas os bebês meninos devem ser circuncidados e as meninas, assim que menstruam, devem fazer sexo com um primo para prepará-la para o casamento. "Eventualmente, algumas engravidam. Se já estiverem prometidas a um marido, o filho será considerado como sendo dele. Caso contrário, será do primo que a engravidou", diz. Uma das marcas registradas dos herero é a falta dos três dentes incisivos inferiores (os da frente). Os dentes são arrancados num ritual de passagem da adolescência para a vida adulta. O procedimento é feito com um pedaço de pau e pedra. "Quando a dor passa, o jovem fica orgulhoso em mostrar a boca sem os três dentes."
O povo herero também é bastante festivo. Sempre que um bebê nasce, ocorre uma grande celebração na aldeia. "Quando são gêmeos, a festa é maior ainda", diz Guerra. Quando um dos gêmeos morre, o irmão ganha uma tora de madeira, representando o que morreu e que ele deverá guardar pelo resto da vida. Momentos como esses, que mostram instantes bem particulares da tribo, foram registrados pelas lentes de Sérgio Guerra em belíssimas fotos, ampliadas nas 260 páginas do livro.
Roberta Pennafort Sérgio Guerra é pernambucano, morou no Rio e em São Paulo, radicou-seemSalvadore hojevive
mais da metade do ano em Luanda. Fotógrafo, publicitário e produtor cultural, ele descobriu
a capital de Angolaem1999, quando chamado a desenvolver projetos para o governo do país.
Desde então, conheceu as diferentes populações que compõem o povo angolano, entre elas, os hereros, concentrados na região sudoeste.
Guerra lança Hereros – Angola, luxuoso livro de fotos que apresenta o grupo.
Nas numerosas viagens que fez à África na última década, ele percorreu 18 províncias. Nelas,
retratou as belezas naturais, a força das tradições e também os efeitos dos conflitos civis.
Em Hereros, livro bilíngue que lança por sua editora, a Maianga, com um CD de cânticos locais
encartado, estão fotos feitas durante 60 dias de convivência intensa com essa população,
em 2009. Paisagens deslumbrantes, rituais, tarefas do dia a dia, além de muitos retratos,
aparecem junto a relatos dos hereros sobre seus costumes, como a poligamia, o coletivismo
e o seminomadismo.
Presentes também nos vizinhos Namíbia e Botsuana, num total de 240 mil pessoas, os hereros
teriam chegado a Angola entre os séculos 12 e 15. Quando os avistou pela primeira vez, Guerra ficou muito impressionado, não só pelo seu visual colorido, mas também pelo fato de estar diante de uma gente da qual os próprios angolanos sabem pouco.
Os hereros não falam português, a língua nacional de Angola. A comunicação era mediada
por um intérprete. Eles já foram mais isolados – hoje, segundo Guerra, com o contato maior
com a sociedade dita moderna, os adultos já consomem bebidas alcoólicas e as crianças frequentam escolas.
Paixão. Fotógrafo diletante e produtor de artistas brasileiros (Elza Soares, José Miguel Wisnik,
Jussara Silveira, Lan Lan) e angolanos (Paulo Flores, Carlitos Vieira Dias),Guerra voltou a
fotografar mais regularmente em Angola. É apaixonado pelo país. “Eu acho que as pessoas que vêm e não conseguem se adaptar em Angola querem encontrar as mesmas referências
que têm no Brasil. Não adianta chegar e ficar entre brasileiros, assistindo à Globo Internacional”,
disse, referindo-se à grande colônia brasileira em Luanda, formada por expatriados que trabalham em empresas como Odebrecht e Petrobrás.
Autor de outros quatro livros de fotos de Angola, Guerra coordena a área de comunicação institucional do governo do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. No ano passado,
quando da realização dos ensaios com os hereros, começou a gravar um documentário sobre
eles, que pretende lançar no ano que vem, e também uma série de programas televisivos, ainda a ser comercializada. Durante seis anos, ele já havia realizado o programa semanal de TV Nação
Coragem. Por intermédio dele, ajudou famílias separadas pela guerra civil a se refazerem. Mais
de cem reencontros foram exibidos, emocionando todo o país.
DESTAQUES
HEREROS,UMA
CULTURAQUE
RESISTE
Liberdade.
Desde pequenas, as crianças são incentivadas a ser independentes. E muito cedo vão
para o pasto, dormir fora. E não existe a relação de posses.
OS ANGOLANOS
POUCO SABEM
SOBRE ESSE POVO DE
VISUAL COLORIDO
Ritual.
Para proteger a pele, que fica com um tom vermelho, os hereros usam uma espécie de manteiga
misturada com raspas de uma pedra rica em óxido de ferro.
Costume.
Pastores polígamos e seminômades formam etnia (que deve ter chegado entre os séculos 12 e
15) com 240 mil pessoas, que criam gado e desprezam peixe.
“Eles não se submeteram à escravidão portuguesa e se opuseram à tentativa de
dominação alemã.”
SÉRGIO GUERRA Retrato.
Fotógrafo e publicitário, Sérgio Guerra tem 49 anos e há 12 mora e trabalha em Angola, onde
atua na área de comunicação do governo.
SÉRGIO GUERRA/DIVULGAÇÃO
HEREROS – ANGOLA
Autor: Sérgio Guerra. Editora: Maianga (260 páginas, R$ 190).
Astronomia, astrofísica, astrogeologia, astrobiologia, astrogeografia. O macro Universo em geral, deixando de lado os assuntos mundanos. Um olhar para o sublime Universo que existe além da Terra e transcende nossas brevíssimas vidas. Astronomy astrophysics, astrogeology, astrobiology, astrogeography. The macro Universe in general, putting aside mundane subjects. A look at the sublime Universe that exists beyond Earth and transcends our rather brief life spans.
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terça-feira, 27 de abril de 2010
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muito bom farei o possivel para ler este livro
ResponderExcluirvaleu ajudou imenso no meu trabalho escolar
ResponderExcluirvaleu ajudou imenso no meu trabalho de escola sobre a os grupos etnicos herero
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