A bajulação desenfreada, a virtual ausência de oposição – prática, e não retórica – um endeusamento sem precedentes e a ilusão de falta de limites compõem a receita para o desastre.
A visão do conjunto, à certa distância, permite enxergar um Lula desarvorado, uma betoneira sem freios descendo a ladeira da imprudência.
Sempre haverá quem veja aí uma ilação tola, exagerada, especialmente em meio à unanimidade reinante, mas esse comportamento do presidente tanto pode representar uma atitude de superação quanto o sintoma de um recalque.
Conscientemente ou não, o desrespeito às restrições físicas, humanas, institucionais, demonstram a necessidade “heróica” de exibir-se acima dessas contingências do ser, que a aclamação geral, ininterrupta, só vem a incentivar.
Assim, o “Filho do Brasil” passa a representar, na verdade, o Pai da Nação. Quousque tandem?
A campanha aberta, extemporânea, pela própria sucessão – ou continuidade através de um factóide ao molde do russo Medvedev para Putin -, bovinamente aceita pelas instituições que poderiam impor-lhe um freio, dão a Lula a (sempre) perigosa sensação de imunidade.
Ao ponto de a tudo e a todos desafiar, (im)pondo-se acima do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal de Contas da União, da Justiça Eleitoral – sempre mais tolerante com presidentes -, alheio ao julgamento da imprensa, e intolerante com adversários, aos quais endereça adjetivações impróprias a um presidente, mas não ao semideus que habita o imaginário popular.
Decide, por capricho, melhor que os comandantes da FAB, sob o esquálido argumento de “decisão política”, que o País optará pelo pior e mais caro caça entre os avaliados pela Força.
José Serra, seu principal contendor, joga o mesmo jogo de maneira mais sutil e em menor escala no quesito abuso da máquina, especialmente a publicitária: R$ 313 milhões em um ano, e - pasme - também seu governo cliente do publicitário Duda Mendonça (R$ 28 milhões), que muito serviu a Lula.
Ressaltando sua origem pobre, num arrozoado ao mais puro estilo lulista, José Serra resvala para o terreno da pieguice apelativa da qual seu outrora adversário é useiro vezeiro.
Nem mesmo ao apelo fácil, surrado, da comparação generalizada entre classes sociais, o governador paulista resistiu – “Pobre paga dívida com mais pontualidade que rico". O leitor perdoe este escriba, tão paulista quando o objeto da crítica, mas que nem por isso haverá de defender uma candidatura que lança mão de um populismo em versão compacta, limitada mais pela falta de carisma do protocandidato tucano do que pela vaidade que o move.
Mas, devolvamo-lhe a bola: “Pobre paga a dívida com mais pontualidade que rico”, va bene, mas políticos insensíveis, movidos pela cupidez em atingir o cargo máximo, postergam impiedosamente a quitação de seus débitos com esses mesmos pobres, ou remediados, conferindo à peroração de Serra, em forçadíssimo linguajar popularesco, um evidente quê de sofisma.
Luiz Leitão é jornalista SRTESP 57952SP
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