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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O que Orwell pode nos ensinar sobre a linguagem do terror e da guerra



George Orwell


Rowan Williams


A dúbia fala burocrática, a tautologia e os clichês ambíguos não só dominam a linguagem da vida pública, desde os serviços de saúde até o ensino superior; a fala e a escrita maliciosas também pavimentam o caminho para ações militares e terroristas, escreve Rowan Williams. 
À primeira vista, parece difícil  imaginar uma combinação mais improvável do que uma entre George Orwell e Thomas Merton. Orwell tinha uma profunda aversão a escritores Católicos Romanos (embora admitisse um contrariado respeito a Evelyn Waugh como uma artesã literária), e, houvesse ele se encontrado com Merton – especialmente em seu trabalho anterior – tê-lo-ia, sem dúvida, rechaçado. Não que Merton, cujo centenário foi no ano passado, fosse um escritor religioso convencional. Ele se tornou católico em 1938, depois de uma  juventude claramente conturbada, e passou a maior parte do restante de sua vida como monge Trapista nos EUA. Mas escrevia copiosamente, correspondendo-se com uma ampla gama de personalidades literárias, inclusive Henry MillerJames BaldwinCzesław MiłoszBoris Pasternak e vários poetas latinoamericanos, alguns de cujos trabalhos ele também traduziu; outra surpreendente amizade foi a de Joan Baez. Ele deixou, além de uma enorme quantidade de matérias jornalísticas e vários livros sobre  orações e monaquismo, dois rascunhos incompletos  de romances e uma razoável quantidade de poesias, publicadas e não publicadas, algumas das quais  de estilo extremamente “experimental”. Em meados da década de 1960, ele teceu fortes críticas à guerra do Vietnã, ao armazenamento de grandes quantidades de armamentos nucleares  e à segregação e injustiça nos EUA. E um elemento central de suas críticas ao militarismo era uma  contundente análise da linguagem da guerra e dos arsenais.

É aqui que uma conversa entre Orwell e Merton poderia ter-se iniciado. Em 1967, Merton publicou um ensaio sobre “A guerra e a crise linguística”, no qual ele traça uma clara polêmica orwelliana contra a corrupção da escrita em si por certos aspectos da modernidade. O discurso de estrategistas militares e de políticos se caracteriza por uma finalidade narcisística. Não pode haver uma resposta real para o cuidadoso e razoável cálculo do saldo da matança em massa em uma guerra nuclear, porque tudo é tão organizado que somos induzidos a não perceber do que é que se está falando. E quando isso acontece, não se pode conversar ou argumentar de modo inteligente: tudo que há é a linguagem imutável imposta pelos detentores do poder. É uma extensão natural da linguagem habitualmente usada para descrever os processos de outros tipos de guerras. Merton deleitou-se com o comentário de um comandante americano no Vietnã: “Para salvar a aldeia, tornou-se necessário destruí-la”, e resumiu de forma memorável a filosofia de vários defensores da  intervenção no Vietnã:
“O asiático cujo futuro estamos prestes a decidir é, ou um mau sujeito, ou um bom sujeito. Se ele for mau, obviamente terá de ser morto. Se for bom, estará do nosso lado, e deverá estar pronto para morrer pela liberdade. Nós lhe daremos  a oportunidade de fazê-lo: nós o mataremos, a fim de impedi-lo de ficar sob a tirania  de um inimigo demoníaco.”
O ponto principal em tudo isso é que o fato de criar-se uma linguagem que não pode ser verificada por ou contra uma realidade reconhecível representa a máxima marca do poder. O que Merton caracteriza como “duplo discurso, tautologia, clichê ambíguo, pompa arrogante e doutrinária, e jargão pseudocientífico” não é apenas um problema estético: ele torna o diálogo impossível; e tornar o diálogo impossível é o objetivo desejado por aqueles que almejam exercer o poder absoluto. Merton ficou profundamente impressionado com os relatos do julgamento de Adolf Eichmann, e pelas discussões de Hannah Arendt sobre a “banalidade" do mal. As incontáveis, surpreendentes, e triviais observações de Eichmann em seu julgamento e antes de sua execução devem ser assustadoras para nós, diz Merton, porque elas são a expressão do vazio: o discurso de um homem acostumado a exercer o poder sem a necessidade de comunicar-se, ou de aprender, ou de imaginar qualquer coisa. E é por isso que Merton insiste em dizer que saber escrever é algo essencial para o engajamento político honesto.
Em um ensaio sobre Camus, de quem ele, assim como Orwell, era um grande admirador, Merton diz que a tarefa do escritor “ não é falar de pronto sobre a tão impressionante virtude de dizer a  verdade não adulterada, mas, sim, laboriosamente redesenhar uma linguagem precisa e honesta que permita a comunicação … em vez de multiplicar uma Babel de línguas esotéricas e técnicas”. Contra a linguagem do poder, que busca estabelecer um perfeito autorreferenciamento (SRM, conceito de um indivíduo ou organização inserir um produto original dentro de outro, aumentando, com isso, a exposição e o potencial de lucro de cada um deles), o escritor confronta uma linguagem de honestidade “laboriosa”. Em vez de o discurso público ser o longo eco de definições absolutas, imutáveis, dadas pela autoridade – definições que nos dizem, de uma vez por todas, como entender os fenômenos do mundo – o bom escritor tenta falar de uma forma receptiva ao desafio potencial de uma realidade que não lhe pertence, e que tampouco controla. Quando o comandante militar fala em destruir uma aldeia para salvá-la, o trabalho do escritor consiste em falar especificamente sobre a agonia das pessoas cujas vidas foram eliminadas. Quando os agentes a serviço do terrorismo islâmico chamam os homens e mulheres-bombas suicidas de “mártires”, a função do escritor é direcionar as atenções para o bebê, a avó muçulmana, o trabalhador voluntário de auxílio judeu, o jovem arquiteto, a enfermeira cristã ou o chofer de táxi, cujas mortes  são triunfalmente anunciadas  para a glória da morte autoprovocada do assassino. Quando, como ocorreu algumas semanas atrás, a conversa é sobre as hordas e enxames de estrangeiros invadindo nossas costas, cabe ao escritor trazer o foco para o corpo de um menino de quatro anos jazendo na praia; para crédito de muitos da mídia britânica, houve escritores (e, também, cartunistas e fotógrafos) que se entregaram a essa tarefa.
Em outro ensaio sobre a guerra, Merton argumenta  não ser de fato verdade que a guerra surge quando a argumentação racional desaparece; é mais o fato de que a “razão” é utilizada de forma a  sutil e inevitavelmente nos conduzir ao conflito armado. Em seu grande ensaio de 1946 sobre “A política e a língua inglesa”, Orwell deixa claro que a degeneração linguística é tanto o produto quanto o causador da decadência econômica e política. E, se for assim, a crítica a essa degeneração não é uma questão de “arcaísmo sentimental”, mas um urgente assunto político. Assim como Merton, ele identifica a definição estipuladora (definição estipuladora é um tipo de definição na qual um novo ou atualmente existente termo recebe um significado específico para fins de argumentação ou discussão em um dado contexto) é um dos principais culpados: uma palavra que deve ser descritiva, e, portanto, discutível, vem a ser usada de forma valorativa. “Fascismo” significa “política de que eu/nós não gostamos”; “democracia” significa “política de que eu/nós gostamos”. “Consequentemente, os defensores de todos os tipos de regime dizem ser eles democracias, e temem ter de parar de utilizar a palavra se ela estiver amarrada a qualquer significado específico.” Isso é, realmente, apenas um sintoma de um mal mais profundo. Vagueza, metáfora misturada, frases feitas, “juntando longos trechos de palavras”, e a linguagem pseudotécnica são meios de evitar a comunicação. [N. do T.: Veja este exemplo: "seminovo". O que significa isso? Ou uma coisa é nova, ou é usada. A propaganda inventou o neologismo para disfarçar o sentido claro da palavra "usado"; tanto é assim que não se vê por aí alguém dizer "semiusado"]. E aqueles cujo interesse é evitar a comunicação são os que não querem saber de respostas, ou de ser questionados.
As regras de Orwell para a boa escrita se tornaram conhecidas: Não lance mão de metáforas batidas, não empregue palavras longas quando as curtas bastarem, abrevie, use a voz ativa, e não a passiva, nunca utilize uma frase em idioma estrangeiro quando puder encontrar uma alternativa de uso corriqueiro em inglês. Essas são regras feitas para  comunicar algo mais além do fato de que o autor do discurso é suficientemente poderoso para dizer somente aquilo que quer. A metáfora é ruim ou confusa (Orwell tem alguns exemplos de sua escolha, dos quais meu favorito é “The Fascist octopus  has sung its swan song”) [Nota do Tradutor: trata-se de um trocadilho com as palavra swan (cisne), song (canção) e swangsong (que significa o último discurso, apresentação, ou trabalho de uma pessoa muito conhecida) nos presenteia com algo que não conseguimos visualizar; a boa metáfora nos torna mais conscientes, de formas inesperadas, do que nós vemos ou sentimos. Portanto, a má metáfora consiste em ocultar ou ignorar; e a linguagem que  se destina a  ocultar ou ignorar e a fazer os outros ignorarem é uma linguagem que pretende restringir os limites do mundo àquilo que só pode ser discutido nos termos do autor do discurso.
Entretanto há algo mais a ser dito, que Orwell, um inimigo ferrenho do modernismo literário, não quer mesmo dizer. Em alguns ensaios anteriores, ele havia argumentado que não seria o fim do mundo se a literatura se tornasse menos obviamente sofisticada, se a gama de referências culturais em nossa escrita tivesse de ser reduzida para abrí-la a um maior número de participantes. Sem de fato prever os  mais recentes debates sobre se há ou não alguma real diferença entre a “alta” e a “baixa” cultura, há, em seu trabalho,  um traço consistente de ceticismo a respeito de  qualquer coisa parecida com complexidade para o seu próprio bem, e um sentimento de que deve ser possível dizer as  coisas diretamente. E é aqui que ele e Merton podem  fazer companhia um ao outro. Merton era um modernista entusiasta a esse respeito. Boa parte de suas poesias e algumas de suas prosas são escritas sob a forte influência de Joyce, e suas cartas para seu velho amigo, o poeta Robert Lax, utilizam um  confuso estilo macarrônico, cheio de trocadilhos, alusões e intricados jogos de palavras. É um dos meios pelos quais ele obedece à sua própria obrigação de ser “laborioso”. Ele pode até dizer que, acima da obrigação de escrever “ prosa disciplinada”, o escritor tem  “o dever de, em primeiro lugar, escrever nonsense … para deixar vir à tona o que está oculto em nossas profundezas, para expandir, em vez de condensar prematuramente”.
O paradoxo que Merton está asseverando é que, para poder ser honesto, o escritor, às vezes, tem de ser difícil; e o problema que se põe diante de qualquer escritor que  reconhece isso é como distinguir entre uma dificuldade necessária ou salutar e o ofuscamento em benefício próprio do tipo que ele e Orwell identificam como uma ferramenta de poder. Duvido que haja uma resposta  simples para essa questão. Mas imagino que o critério fundamental tenha a ver com a possibilidade de a linguagem do escritor – “direta” ou não – incentivar respostas. Tanto Merton quanto Orwell concentram-se em um tipo  em particular de redescrição burocrática da realidade, uma linguagem concebida para não ser de ninguém em particular, a linguagem de incontáveis manifestos contemporâneos, declarações de missões e políticas regulatórias, a linguagem que tanto domina nossa vida pública, dos sistemas de saúde ao ensino superior. Em suas formas mais malignas, há, também, a linguagem dos interesses comerciais defendendo a evasão fiscal em países em desenvolvimento, ou, pior, governos lidando com desafios às violações de direitos humanos, ou, pior do que tudo (está em nosso pensamento neste exato momento), de terroristas que aprenderam tão eficazmente a arte de não dizer nada verdadeiro ou humano como parte de suas técnicas de intimidação. Em contraste a isso, a dificuldade de escrever bem é uma dificuldade destinada a fazer o leitor pausar e repensar. Ela enfatiza que o mundo é maior  que o pensamento do leitor, e o convida a descobrir novas formas de falar: pode, no curto prazo, atrair a atenção para sua própria complexidade, mas o faz para que o leitor possa se distanciar do texto a fim de pensar sobre o que há no mundo ao redor que causa tal  complexidade. A má escrita é politicamente venenosa; a boa escrita é politicamente libertadora – e isso é verdade mesmo quando a boa escrita provém de fontes que são ideologicamente hostis à boa política (qualquer que seja a sua definição). A questão crucial é  se  a escrita é voltada a fazer com que o leitor veja, sinta e saiba menos ou mais. E o paradoxo é que, mesmo diante de sistemas que se restringem à boa escrita e à imaginação honesta, o bom escritor não reage da mesma forma, mas, sim, continua tentando  desvendar o que o terrorista e o  fanático estão dizendo, para entender pessoas que não querem entender a si próprias. Deixar de fazer isso nos condena à má escrita e à má política, à linguagem de total conflito e desumanização radical.
Nosso atual pânico em relação a  causar “ofensas” é, em sua melhor e mais generosa faceta, um reconhecimento de como a linguagem pode codificar e reger as relações de poder (minha liberdade de discurso “ofensivo” pode ser a sua humilhação, uma confirmação da sua exclusão do discurso público corriqueiro, comum). Mas, em seu pior lado, é uma preocupação paternalista e infantilizante de proteger os indivíduos dos desafios; o fim inevitável daquele caminho  é uma consolidação muito pior do poder inquestionável, o poder de um discurso que nunca está aberto à contestação. Debates sobre problemas internacionais como Israel e a Palestina, ou relativos a questões sociais e morais – aborto, gênero e sexualidade,  eutanásia – são constantemente obscurecidos por ansiedade, e até pânico, em relação ao que não deve ser dito em público, e, também, pela, às vezes, insistência espantosamente coercitiva na condição “racional” e canônica de uma perspectiva única. Em ambos os lados de todo debate como esse pode haver uma profunda falta de vontade de que coisas sejam ditas ou mostradas que possam desafiar profundamente as suposições iniciais de alguém. Se existe uma resposta para essa curiosa neurose contemporânea, certamente não será encontrada silenciando-se as discordâncias, mas, sim, na educação do discurso: Como será a verdade indesejada dita de forma a não humilhar ou ferir? E a resposta para essa questão é indissociável de aprender a discutir  – a partir da verdadeira prática de intercâmbio aberto, no sentido mais literal de discordância “civil”, o debate apropriado a cidadãos que têm a dignidade e a liberdade de discutir seu mundo compartilhado e sua organização, e que são capazes de saber como soam as suas palavras na difícil empreitada de permanecer num debate assim à medida que ele se desenrola.
De todas as várias lições  de Merton e Orwell como analistas da decadência linguística a serem aprendidas, a mais óbvia é a de que  literatura e drama não são supérfluos em nossa sociedade. A política não pode evitar a  ida em direção aos dois abismos do totalitarismo e da trivialidade se recusar-se a enfrentar os perigos de sua decadência. A boa escrita é várias coisas. Para Orwell, ela tem, basicamente, a ver com a capacidade para prosa racional e as contínuas narrativas pessoais da ficção clássica. Para Merton, ela inclui alguns elementos mais fortes, a liberdade  do jogo de palavras e do absurdo, além da experimentação poética. Mas é sempre a escrita que resiste a eliminar a percepção ou a argumentação. É assim que a boa escrita nos defende do poder absoluto ou – a qual lembra bastante a mesma coisa – a absoluta paralisia  social. Deixa um caminho a ser seguido e lança perguntas que requerem uma resposta: ela conduz em direção a um futuro. Obviamente, isso não significa – lembrando a observação de Orwell – que a boa escrita seja “progressiva”; mas, somente, que ela tem consciência de estar entre o passado e o futuro, viva no tempo. E Merton, com outro desvio teológico que Orwell, provavelmente, não apreciaria muito, também implica o fato de que, se nosso  problema humano  fundamental é o “Prometeanismo”, o desejo de roubar a divindade de Deus, em vez de trabalharmos nossa condição de humanos, então, a boa escrita, com suas ironias intrínsecas e sua consciência das suas próprias condições, é uma das coisas que nos impedem de imaginarmos que somos mais que humanos.
Talvez essa seja a melhor definição de boa escrita que encontraremos. A política destrutiva está inevitavelmente associada ao esquecimento de nossa humanidade, de uma forma ou de outra – à desumanidade ou tirania organizadas, às aspirações messiânicas do comunismo, à obsessão pelo controle por parte da modernidade gerencial, a nua e brutal sanha assassina do terrorismo. Mas Merton explicitamente, e Orwell implicitamente, nos lembram que isso não diz respeito somente ao mau governo ou à opressão. Se falamos ou escrevemos mal, de maneira desonesta, irrespondível, o que nós, na verdade, estamos fazendo é prepararmo-nos para a guerra. Os hábitos de pensamemento que tornam a guerra inevitável são as bases da má linguagem – quer dizer, os hábitos que brotam de atitudes acríticas ao poder e ao privilégio: desprezo para com os sem-poder, as minorias, o estrangeiro, o desejo de um fim da complexidade e diversidade humanas. Orwell explicitamente e (talvez) Merton implicitamente tentam  identificar a tão importante possibilidade de que possamos discutir apaixonadamente, e até de que possamos lutar para nos defendermos da perfídia política de uma forma ou de outra, sem simplesmente aderimos a vários tipos de totalitarismo, aberto ou disfarçado. Orwell tem uma noção quase antiquada do que significa lutar até a morte para defender-se de um inimigo pelo qual se tem algum grau de respeito humano, no sentido de que não se busca desumanizá-lo, mas pô-lo, de uma vez por todas, fora dos limites do discurso e intercâmbio humanos.
Seja qual for a forma com que busquemos aquela luta  (que não é exatamente uma questão acadêmica atualmente; e Orwell e Merton divergiriam muito aqui, acho eu, dado o quase pacifismo de Merton), a questão moral central é se iremos usar a linguagem da tautologia e da autojustificação – a que  dá só a nós o direito de sermos chamados de razoáveis e humanos – ou se trabalharemos para descobrir outros meios de falarmos e imaginarmos. Se decidirmos por aquelas duas primeiras, já estaremos planejando o próximo round de violência. As últimas são duras e contraintuitivas porque não prometem o que a maioria de nós deseja secretamente: um fim simples do conflito e da complicação. Mas são exatamente o oposto da resignação, porque incitam o escritor a trabalhar, à constante criação e recriação de uma cultura verdadeiramente compartilhada – o padrão de  intercâmbio livre e civil que não é complacente nem violento. A “pequena cápsula azul de indignação” – nas palavras de Merton – tem de ser perfurada novamente, e de  novo, e de novo. E, se ele estiver certo, isso significa que o escritor precisa muito mais do que apenas ideais; necessita um pouco da liberdade contemplativa para eliminar a motivação que leva à má escrita que surge dos terrores e ambições do ego, e encontrar a liberdade para permitir que palavras, tanto claras quanto complexas, venham à tona. É fácil imaginar Orwell de sobrancelhas levantadas ao pensar em sua vocação contemplativa, mas, se essa breve tentativa de encenar um encontro entre esses dois escritores apaixonados e combativos tiver chegado a algum ponto próximo à verdade, essa verdade é o que poderia ser dito sobre o apelo não somente de Orwell, mas de qualquer outro escritor que valha apena ser lido.

Rowan Williams, ex- arcebispo de Canterbury, é presidente da Christian Aid
Excerto editado da palestra  Orwell 2015theorwellprize.co.uk/.


http://www.theguardian.com/books/2015/dec/12/words-on-war-a-summons-to-writers-orwell-lecture#_=_

Tradução de Luiz Leitão da Cunha

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