José
Nêumanne
Psiquiatra do
Piauí e dono do quilão Barganha no Gabinete do Doutor
Picciani
Ulula o óbvio de
que a situação desesperadora pela qual passam trabalhadores perdendo os empregos
e empresas prestes a fechar as portas só terá alívio quando se mudar o nome que
há na placa que indica a usuária do gabinete mais importante do Palácio do
Planalto, senha dos resquícios de poder que paralisam e empobrecem o País. Mas
isso está a depender agora de alguns poucos fatores: a capacidade de praticar
lambanças da gerenta inconsequenta e incompetenta; agentes policiais federais.
procuradores da República e juízes honrados e preparados; além de profissionais
de comunicação probos, corajosos e independentes.
Tudo o que de
horripilante e nauseabundo a Nação vem tomando conhecimento nos últimos 20
meses, até agora, independeu de qualquer iniciativa da soit-disant
oposição formal. O chefe dela, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), tem sido
merecedor de piadas como a publicada por Jorge Bastos Moreno em sua coluna no
Globo sábado passado: ele a exerce no horário comercial das terças às
quintas-feiras, quando esporadicamente dá à Nação aflita a subida honra de ouvir
sua voz. Mais frequente do que ele na tribuna na anterior gestão da presidente
foi o tucano paranaense Álvaro Dias, que jogou no lixo seu cacife ao aderir
freneticamente à candidatura de Edson Fachin ao Supremo Tribunal Federal (STF).
E também o paulista Aloysio Nunes Ferreira, vice derrotado na eleição, agora
investigado juntamente com governistas, velhos comparsas de luta armada contra a
ditadura, no maior assalto a cofres públicos do mundo em qualquer
época.
O escândalo que
corroeu os pés de barro do mito do socialismo honesto do Partido dos
Trabalhadores (PT) não foi revelado pela oposição. Mas pela mui pouco arguta
gerenta deficienta que o padim Lula Romão Batista nos impingiu, levando-a
ao citado gabinete da plaquinha. Foi ela que chamou a atenção para o caso ao
inculpar Nestor Cerveró, meliante feito diretor da Petrobrás por este padroeiro,
pela compra da tal “ruivinha” em Pasadena.
Ao sincericídio
de Dilma acrescentou-se, durante esse período, a diligente investigação do lava
jato de dinheiro sujo do propinoduto da Petrobrás num posto de gasolina em
Brasília por Polícia Federal (PF), Ministério Público Federal (MPF) e Justiça do
Paraná, na pessoa do novo herói nacional, Sergio Moro. E isso só foi possível
mercê de divisões inconciliáveis na PF; da honestidade e do preparo dos
procuradores; e da expertise do juiz, enfronhado em práticas contemporâneas do
crime organizado e que tinha prestado excelentes serviços ao assessorar a
ministra Rosa Weber, no STF, durante o julgamento do processo conhecido como
mensalão. E o tsunami de lama foi sendo publicado a
conta-gotas.
O extenso
aparelhamento da máquina pública federal e dos três Poderes, empreendido pelo
trabalho efetuado “diuturnamente e noturnamente” (como diria a atual responsável
por desligar e religar seus interruptores) por Zé Dirceu, já valeu a este uma
condenação pelo STF no mensalão. E novos processos no que agora se convencionou
chamar de petrolão. Uma sólida camada de teflon, contudo, ainda protege o grande
chefe de todos, e sua sucessora, de algum constrangimento. Esta continua
impávida no poder, sendo até, vez por outra, agraciada com definições de
“honesta” pelos tucanos Fernando Henrique Cardoso e Aloysio Nunes Ferreira,
dados como de oposição.
Com obsequiosa
costura efetuada por Nelson Jobim, que na presidência do STF engavetou pedido de
habeas corpus do acusado de mandante da execução de Celso Daniel, Sérgio Gomes
da Silva, o máximo que se conseguiu em relação ao ex foi chamá-lo para se
explicar na PF na condição de informante – nem acusado nem testemunha. Isso só
lhe causa desconforto semântico, pois Romeu Tuma Jr. assegura, em Assassinato
de Reputações, que ele foi o agente Barba de seu pai no Dops. E ninguém
contestou.
No Tribunal
Superior Eleitoral, ex-advogadas do PT não impediram a discussão sobre a
existência de provas de uso de gráficas fantasmas e de suspeitas de
financiamento do propinoduto à campanha da reeleição. Mas pedem vista ou fogem
das sessões para interromper o julgamento. A julgar por fatos recentes, as
suspeitas serão julgadas nas calendas, depois de o alvo das suspeições ter
decidido se sairá pela porta da frente da História com a renúncia ou despejada
por um processo legal, nada golpista.
Dilma, que não
se destaca pelo excesso de inteligência, mas também não é tolinha, trata de
ganhar tempo no TCU. Ali, como se diz em linguagem vulgar, o buraco é mais
embaixo. O procurador Júlio Marcelo de Oliveira foi à Comissão de Assuntos
Econômicos do Senado descrever evidências técnicas de com quantas “pedaladas” a
candidata disposta a fazer o diabo para ganhar uma eleição pôde levar a cabo
esse feito. No entanto, o trio Panela Batida – Adams, Cardozo e Barbosa –
anunciou que se propõe a anular o relatório de Augusto Nardes, que lista 18
infrações à lei nas contas federais de 2014. Nunca ninguém antes foi tão cínico
na História deste país, diria Lula se fosse da oposição.
Para ganhar
tempo no poder, este indicou a Dilma no pré-sal do baixo clero do Congresso quem
a ajudará a adiar o impeachment. Um, Celso Pansera, o dono do quilão Barganha,
vizinho do Sacana’s, que fez ameaças ao contador da lavanderia do PT, Alberto
Youssef, é pau-mandado do ex-sócio e hoje pseudodesafeto dela Eduardo Cunha.
Outro, Marcelo Castro, ignoto psiquiatra do Piauí, escreveu o relatório da
reforma política, recusado pelo mesmo mandante, Cunha, e assumirá o caos da
saúde pública nacional. Com cúmplices no governo e na oposição, que lhe concede
o benefício da dúvida, segue Cunha incólume
No Gabinete Ouro
Preto, o baile da Ilha Fiscal prenunciou a queda do Império. O Gabinete do
Doutor Picciani vem aí para garantir a farra das fraudes fiscais dos ratos que
roem a roupa dos rotos. Amém!
Jornalista,
poeta e escritor
(Publicado no
Estado de S. Paulo da quarta-feira 7 de outubro de
2015)
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