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sábado, 19 de maio de 2007

Mudar, antes que tarde… Por Artur Teixeira

A atitude do cidadão comum é frequentemente condicionada pela ideologia dos grandes interesses económicos. Não temos dúvidas. E os seus agentes, alguns com responsabilidade política, tudo fazem para branquear o lado negativo das soluções que preconizam. O “marketing”, que é o seu instrumento privilegiado, faz o resto. Nesta matéria aliás, as grandes marcas não são diferentes do vendedor da “banha da cobra” que ainda frequenta as nossas feiras sazonais. Promete a troco de nada… Porém quando se trata de uma questão de sobrevivência, como no caso dos recursos naturais, o assunto é demasiado sério para que o deixemos “em roda livre”, na expectativa que o próprio sistema económico acabe por encontrar a solução adequada. Adequada poderá encontrar, porém nunca em conformidade com os superiores interesses da Humanidade. Recentemente num almoço entre colegas de profissão, veio à baila o tema recorrente do Aeroporto Internacional da Ota e associado a este, os combustíveis. As opiniões dividiram-se sobre a razoabilidade da construção de um aeroporto alternativo ao de Lisboa, uma obra faraónica, sobretudo naquela localidade. As razões de uns e de outros foram as mesmas que temos ouvido nos diferentes debates televisivos e radiofónicos. Contudo ninguém, a não ser nós, levantou ali a questão dos combustíveis. Ou muito nos enganamos ou quando chegar o momento de o pôr a funcionar, lá para o ano de 2015, a gasolina estará tão cara que o aeroporto ficará às moscas… E pasmem, logo um dos presentes, muito entendido na matéria… avançou com a hipótese do hidrogénio, nem mais. Não nos rimos, por respeito ao nosso interlocutor. Ora, é bom que se entenda, e de uma vez por todas, que não existe na Natureza nada que substitua integralmente o Petróleo. Todo o “nosso” sistema económico assenta nesse recurso primário, estando dele dependente, quase diríamos, como o viciado está da droga… O crude representa cerca de 300 mil utilizações em domínios desde os transportes, à produção de energia, alimentos, vestuário, fabrico de medicamentos, de instrumentos cirúrgicos, etc, sendo ele próprio constitutivo de múltiplos produtos que utilizamos quotidianamente. Mais, mesmo as energias alternativas carecem dele em termos de componentes e como solução de recurso em caso de uma falha. O Hidrogénio não é uma fonte de energia, como é o Petróleo. Os seus dois átomos contidos na molécula da água (H2O), necessitam de ser separados para que se torne em algo que produza uma combustão e gere energia. Qualquer dos processos conhecidos, electrólise ou decomposição térmica, não são rentáveis por exigirem grande quantidade de energia por unidade de água (286kJ por mol). É de referir que o Hidrogénio é 10 vezes mais inflamável e 20 vezes mais explosivo que a gasolina e, para o manter inerte, necessita de uma temperatura de -200º centígrados ou uma pressão de cerca de 700 bar. Uma autêntica bomba! Por outro lado, requer água pura, outro recurso que já sofre de escassez, em algumas regiões do globo. Portanto o Hidrogénio não passa de um mito, mais um, que serve como uma luva aos grandes interesses económicos, em matéria de energias alternativas, nomeadamente o nuclear. Este tem sido anunciado como o grande produtor de Hidrogénio. Ora aí está! No momento em que nos encontramos no patamar máximo da extracção do Petróleo, apesar do optimismo induzido pelas últimas descobertas no Continente Africano e no Índico, o consumo mundial de crude atinge a mais alta marca de sempre. Tal prende-se com crescimento extraordinário do parque industrial no Sueste da Ásia, com destaque para a China, que se tornou no 2º. maior consumidor mundial, e com o estilo de vida da classe média Ocidental, em que se destacam os USA. Muita da energia consumida no fabrico das “bugigangas” e roupas “Made in China”, que as donas de casa ocidentais tanto apreciam, é produzida em centrais movidas a fuel-óleo. Os parques de energia hídrica e nuclear do Império do Meio, bem como a sua rede de distribuição, estão em grande parte obsoletos, com grande perda de eficiência. Paralelamente, os USA, o campeão do consumo de gasolina, não abranda. A maioria da população trabalha nos grandes centros urbanos e vive nos arredores a 80 e a 100 km, o que impõe deslocações diárias da ordem de 1:5 a 2:00 horas de automóvel, ir e vir, sem contar com os engarrafamentos. Em consequência desta expansão urbana, as quintas foram abolidas e cederam o lugar a grandes bairros com habitações de baixo porte que incluem garagem e jardim à porta, um dos símbolos do “Sonho Americano”. A produção agrícola, por sua vez, foi entregue quase em exclusivo à Agro-indústria, situando-se em zonas muito distantes dos mercados abastecedores. Uma alface pode atravessar todo um Continente para chegar à mesa do consumidor, percorrendo milhares de km... Este ordenamento territorial, com uma distribuição humana irregular, muito concentrada nas cidades, impõe obviamente consumos de Petróleo extraordinariamente elevados, que a médio prazo deixarão de ser sustentáveis, além de problemas com o meio ambiente. De acordo com as expectativas do Departamento de Transportes do Reino Unido e da Airbus, a continuarem os actuais níveis de consumo, prevê-se um défice no fornecimento do jet-fuel, o combustível da aviação, nos próximos 23 anos. Estima-se que em 2030 a produção cobrirá apenas 60% das necessidades do transporte de passageiros e 45% do de carga. A opinião corrente, expressa naquele almoço, que consideramos perversa, é crer-se piamente que o sistema acabará por encontrar uma solução para a escassez do Petróleo, bem como para outros combustíveis fósseis. Ora o sistema orienta-se pela lógica do lucro e a escassez é a sua pedra de toque para justificar a inflação dos preços. O mais que pode acontecer, e já está a acontecer, é a criação de um cenário económico que justifique o aumento do crude, que alguns ideólogos já apontam para os 150 dólares por barril a curto prazo, mais do dobro do actualmente praticado e cerca de 10 vezes o praticado há 30 anos. Por outro lado, as alternativas que têm vindo a lume não passam de uma miragem para entreter e acentuar essa falsa expectativa. Elas mesmo integram o grande negócio que o sistema prepara à pala do problema do CO2, que de tão grande perigo para a sobrevivência do Planeta, se tornou num mercado, o “mercado do carbono”, que para já inibe o desenvolvimento dos países que almejam aceder ao 1º. Mundo, como é o caso do Brasil, e garante a continuação do “statu quo” das actuais potências económicas. Do nosso ponto de vista, a solução da escassez dos recursos naturais passa fundamentalmente pela preservação do que resta e pelo seu uso parcimonioso, incluindo o Petróleo. Para tanto é absolutamente necessário uma mudança de atitude face à Mãe Natureza. Tal não ocorrerá decerto pela lógica economicista dos mercados, mas pela educação e pela consciência de que o Planeta Terra é um Organismo Vivo que carece de Boa Saúde para que todos, incluindo toda a obra do Criador, possa desfrutá-la sem a destruir. **Artur Rosa Teixeira** (Assistente Operacional de Construção Civil) ** artur.teixeira@netcabo.pt

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