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quinta-feira, 17 de maio de 2007

Mais e mais corrupção

Sobre o último episódio da longa, aparentemente interminável série de assaltos aos cofres do Estado, o relatório da Polícia Federal traz uma frase lapidar: “o grupo de parlamentares da Assembléia Legislativa de Rondônia tem apego ao dinheiro público”. Em lugar de apego deveriam ter zelo, coisa rara ultimamente, haja vista o pântano em que se transformou o terreno por onde transita boa parte dos responsáveis pelas finanças públicas. Cifras sempre milionárias, 70 milhões em Rondônia, em torno de R$100 milhões oficialmente no mensalão; 110 milhões, por enquanto, no caso das Sanguessugas, que pode se estender para além da área da Saúde, outros 50 milhões aqui e mais 60 acolá. Embora a sociedade lave a alma quando a PF prende integrantes da turma do paletó, que parece manter sucursais por todo o território nacional, e, nas palavras de um agricultor que assistiu à prisão de um grupo de deputados, juízes e outros que roubavam descaradamente os dinheiros públicos, “ seja uma satisfação ver homens de paletó sendo presos”, a própria Polícia sabe que decisões políticas absolvem esses parlamentares. Não só eles, porque, embora não se possa falar em absolvição no caso dos demais integrantes das divesas máfias, sabe-se que estão em liberdade todos os protagonistas do Mensalão. Um com uma deslumbrante mansão no bairro Savassi, em Belo Horizonte (MG), outro, avalista dos empréstimos ao partido do governo, recebe aposentadoria de R$8.000,00, rápida e generosamente concedida pelo ilustre personagem de nossa política, o ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti – este, mero aprendiz desta abjeta arte de aliviar os cofres públicos -, além de ter sido premiado com uma “indenização” de R$100.000,00 da pródiga Comissão de Anistia. Pouco, se comparado ao que receberam outros felizardos. Muito, se levadas em conta as palavras de Anita Leocádia, filha de Luis Carlos Prestes, que lembrou ter ouvido de seu pai o conselho: “não se deve receber dinheiro do governo”. Bela citação, que certamente ecoaria no vazio das mentes – hoje em dia em funesta profusão – dos saqueadores do erário. Responder ao processo em liberdade, não obstante a profusão de provas e testemunhos, quando não o flagrante, é o que move os bandidos do colarinho branco, no país em que raramente cumprem pena infratores de grande porte, que roubam no atacado. De quando em vez, um ou outro figurão é encarcerado, não raro passando a cumprir a chamada prisão domiciliar, que cárcere mesmo é para o pessoal do andar de baixo, alías, masmorra, ou pior, como se tem visto nas reportagens dos presídios superlotados, desumanos. Prova mais que contundente do vácuo ético que nos assola são duas novas notícias de corrupção num só dia: o desbaratar, pela PF, de uma quadrilha especializada em desvio de madeira ilegalmente extraída no Pará, composta por “empresários”, vários funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis - Ibama e, pasme, um procurador da República, gerando um prejúzo de R$53 milhões aos cofres públicos. De nada adiantou o exemplo da operação Curupira, levada a cabo no ano passado pela PF, que resultou na prisão temporária ( e em uma equivocada, com direito a pedido de desculpas ) de vários madeireiros e funcionários do Ibama de Mato Grosso. O segundo caso tem como protagonistas funcionários do Instituto de Colonização e Reforma Agrária – Incra, condenados pelo Tribunal de Contas da União a restituir R$61 milhões, resultado da superavalição de uma fazenda no Estado do Paraná. Ante a indignação da Polícia Federal com as “absolvições políticas”, caberia indagar do operoso ministro da Justiça, Thomaz Bastos, a quem ela está subordinada: por que cargas d’água o inquérito de Waldomiro Diniz dormita inconcluso há quase dois anos nas mãos do pessoal desta mesma, inconformada PF? Em tempo: no fechamento deste artigo, vem a notícia de mais uma operação da PF, em seis Estados, envolvendo fraude na compra de cestas básicas, refeições escolares e para contingentes do Exército. Envolvidos servidores públicos, militares e trinta empresas, que, no meio da roubalheira, também multimilionária, forneciam alimentos imprestáveis para o consumo humano.***Este texto foi escrito há um ano. O inquérito sobre Waldomiro agora tem 3 anos e quatro meses e segue inconcluso. No meio-ambiente, outra quadrilha acaba de ser desbaratada pela PF, e hoje, mais uma, que operava no ramo das licitações. na leva de presos, dois prefeitos.
Nada mudou, e a julgar pela profusão de episódios de corrupção, os ladrões de terno e gravata se multiplicam como coelhos.

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