Tempos estranhos, estes de hoje, tão modernos, divorciados de um passado muito recente...
Ontem, logo ali, em 1987, Fernando Henrique Cardoso defendia, a peso de compra de votos, a reeleição, que, hoje, já se cogita extinguir. O príncipe se diz contrário à mudança, mas quem lhe haverá de dar crédito?
É preciso coragem para viver estes dias, coragem para defender Fernando Collor, como fizeram tantos e como o fez o deputado estadual João Mellão Neto, em quem desgraçadamente votei, em recente artigo no jornal O Estado de S. Paulo.
É preciso muita cara-de-pau para dizer que "agora poderá se defender" - palavras do deputado José Genoíno Neto, ao comentar a notícia, alvissareira, da aceitação, pelo Supremo da denúncia contra ele e mais onze implicados no episódio do Mensalão, o trem pagador do Congresso Nacional.
É preciso coragem para acreditar que, desta vez, os tubarões da corrupção presos pela Polícia Federal, ainda que demora, serão devidamente condenados e cumprirão pena. Hoje, temos uma Suprema Corte menos politizada, talvez até menos corporativa.
Às vezes, é preciso ser teimoso para viver e acreditar no Brasil; não por seu povo, mas pelos de cima; tão pouco altaneiros.
Precisa ter estômago para ouvir um ex-ministro de Sarney, em cujo governo a inflação atingiu inacreditáveis 1.700% anuais, dizer em sua coluna sobre economia, que o apagão aéreo tem relação com o aumento do Salário Mínimo. Ouvir todos estes bem-pensantes economistas maldizerem um governo que, apesar de seus tantos pecados, tem recuperado o poder de compra dos mais pobres. Um governo sem palavra, é verdade, que prometeu aumento de 60% aos policiais federais, em duas vezes, e deixou de honrar uma parte, exatos 30%, e nos submete, por isso, a uma greve-relâmpago nos aeroportos, e haja paciência por parte dos viajantes.
É preciso saco para aguentar a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) falando em excessos da Polícia, que teriam, sob uma ótica distorcida, sido cometidos na prisão dos advogados, delegados e desembargadores na operação Hurricane. Ponham as barbas de molho, porque tem mais, diz-se que há mais magistrados por serem detidos e desmascarados, e certamente empresários, políticos - eles estão em todas- doleiros, e sabe-se lá quem mais.
Sim, é preciso estômago para suportar o escancarado comércio de cargos nas empresas e autarquias federais, a conta do jantar da Coalizão, do "apoio" ao presidente Lula. Jáder Barbalho, procurando um lugar, qualquer um , para seu sobrinho, JoséPrianti; Sarney indicando Carlos Nascimento, seu afilhado político para a presidência da Eletrobrás -um feudo pemedebista há tempos -; Renan Calheiros defendendo a nomeação de dois ex-senadores para duas estatais de porte, a Transpetro e a Eletronorte. Currículo, experiência? É de somenos, precisar não precisa...
É preciso ser um monge tibetano para ficar alheio aos discursos de Hugo Chávez, ao cinismo de Evo Morales e à subserviência de nossa diplomacia ante tudo isso.
Mas não é necessário muito para saber que as Instituições ficam e os homens passam.
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