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quinta-feira, 19 de abril de 2007

A fragilidade da vida

Luiz Leitão (*) O grande cataclismo ocorrido dia 26 de dezembro de 2004, na Ásia, África e Indonésia, deixou a todos perplexos por sua inédita violência, devastação e abrangência. Num primeiro momento, contavam-se 11 mil mortos; depois, mais de 20.000; após, 60.000; num inacreditável crescendo que deixa a humanidade atônita; já se fala em 160.000, a depender das condições sanitárias. Há extrema urgência em sepultarem-se os corpos, tarefa que só pode ser executada por máquinas, em valas comuns; esqueçam-se, por doloroso que seja, as cerimônias fúnebres; há tempo para lágrimas, mas não para despedidas. À época da epidemia mundial da gripe espanhola, em 1918, também não se podiam reverenciar os mortos; as famílias os jogavam para fora de suas casas, temendo contaminação. Essa doença vitimou cerca de 20 milhões de pessoas; quando hoje ficamos estarrecidos ao lermos que morreram 70 mil pessoas no Gabão. Concomitantemente com a gripe espanhola, ocorreu a Primeira Grande Guerra, a de 1914/18, onde morreram uns oito milhões de pessoas e restou um saldo de 15 a 20 milhões de feridos e mutilados. Apesar do nome, a Espanhola originou-se nos EUA. Em 1968, a gripe de Hong Kong fez mais de 40 mil vítimas. O grande vetor da gripe Espanhola foi, sem dúvida, o homem; soldados que espalhavam a morte com fuzis e pela transmissão do vírus. Geralmente oriundo de aves, os vírus gripais sempre causam grande temor; e a SARS, apesar de aparentemente controlada, ainda tira o sono de muitos pesquisadores. O nome do vírus da gripe, influenza, vem do italiano influenza del freddo (do frio). O mundo foi literalmente chacoalhado por algo que estava, apesar de toda a nossa maravilhosa tecnologia, fora de nosso alcance sequer prever; um capricho da indiferente e inocente natureza; e nada pudemos fazer para evitar. Todavia, muitas outras ações, como o holocausto e os demais massacres perpetrados por mentes insanas que detinham, inapropriadamente e injustamente, a espada do poder, ceifaram as vidas de cerca de 190 milhões de habitantes da nossa Terra, cada vez mais inóspita, por nossa própria culpa. A cicatriz, de dimensões oceânicas, ficará na lembrança de várias gerações, tantas quantas sobreviverem à degradação desta Terra de todos e de nenhum de nós. De fato, jamais havíamos visto catástrofes como a da tsunami, o grande maremoto, achávamo-nos em relativa segurança, da mesma forma que aqueles que trabalhavam nas torres gêmeas, em 11 de setembro de 2001. Hoje, reaprendemos que a vida é muito, muito mais frágil do que pensávamos, e exatamente por isso, devemos valorizá-la ao máximo, guardar cada sorriso e cada boa lembrança como verdadeiros tesouros que são; e lembrarmos sempre de praticar a solidariedade todos os dias, e não só quando acontece com nosso semelhante aquilo que julgamos possa também nos atingir. Quem sabe, com isso poderão as pessoas perceber que, confrontadas com o poder das forças da natureza e com a fragilidade e efemeridade da vida, não são um átimo daquilo que têm a ilusão de ser; aprender que somos todos, sem qualquer exceção, absolutamente iguais; ainda que diferentes na forma e na condição social?

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