Desde sempre o homem se pergunta quem é e por que existe, procurando o sentido da vida, e com muito poucas exceções, sempre acreditou num Ser superior; não há dúvida de que a vastíssima maioria das pessoas crê em algo mais, pois a quantidade dos ateus é mínima, comparada àqueles que têm um credo. Para uns é Deus; para outros, Buda; Alá; e até os índios têm suas divindades.
É do homem, inato. Faraós eram mumificados e se lhes davam objetos, na crença de que iriam para outro lugar. Uma outra jornada, vida e morte, uma só coisa, como os pólos opostos de uma linha. Assim como o Yin e o Yang que se completam. Não há nada mais perfeito que a Teoria da Relatividade, esta grandiosa obra humana; um mundo onde as coisas são e ao mesmo tempo não são Das diferenças se tira a média, portanto, elas são necessárias, formam o equilíbrio.Dão cor e graça a tudo. O azul é lindo, mas seria, todavia, bom um mundo só azul? A velha estória: o que seria do verde, se todos gostassem do amarelo. Respeitar opiniões contrárias é a mais salutar das coisas. Nenhum ser saudável suportaria viver sem ser jamais contestado; enlouqueceria, perderia o contato com a realidade.
A luz é a soma de todas as cores, então elas são a um só tempo, diferentes e a mesma coisa; e o branco necessita do preto para ser seu contraste; o rico, do pobre; se todos fossem bem aquinhoados, o dinheiro não teria utilidade. Então, o oposto é a razão do ser; sem o mal, não haveria como avaliar o bem.
A dualidade está impregnada em tudo, para o positivo, há sempre o negativo, o quente e o frio são a mesma coisa, e nos seus extremos, têm o mesmo efeito: queimam. E este Grande Arquiteto criou o universo, depois a vida inanimada das plantas, mas era pouco. Fez os animais; mas uma incomensurável e perfeita obra de engenharia não era suficiente, e Ele resolveu criar o homem, em si próprio. Ninguém há de negar que ao se olhar nos olhos de um bebê, de uma criança, estamos olhando para Ele, o Criador.
Para onde vão os espíritos quando morrem? Será que Deus coleciona almas, quando as chama de volta? Talvez tenha criado o homem tirando pedaços de si mesmo, pois é infinito; e infindáveis são as experiências que poderia experimentar encarnado. Quem sabe seria esta a explicação de haver riqueza e miséria, glória e sofrimento, bons e maus? Teria o Senhor a propriedade de ser, também Ele, dual?Certamente. Porque Deus é o equilíbrio, que é, por sua vez, a soma dos contrários.
Não estaria a história de cada um previamente escrita e traçada, eis que todos sofrem e todos se alegram, quem sabe num mundo ilusório, onde a riqueza material de nada serve àquele que chega ao fim de sua jornada? Terminada a obra, o mestre se recolhe. Volta para si mesmo; não havendo morte nem nascimento, só um desprendimento dele próprio, pedaços de Deus assoprados em corpos e mais corpos, infinitos experimentos individuais; e, terminado o ato, toma de volta os seus fragmentos para Si.
Talvez por isso, sejamos todos irmãos, e irmãos quase sempre brigam entre si. O Senhor nos joga num rio, do qual não podemos sair, somente seguir seu curso, e no caminho haverá pedras e outros acidentes de percurso, e os trechos calmos; não é assim mesmo a vida, trechos de tempestades, de sol e de apenas bonança?
E sendo assim, sabendo que as diferenças são propositais, que são ao mesmo tempo tudo e nada, que a vida é e não é, chegaria o homem à conclusão, depois de muitas cabeçadas, que não há diferenças. Que não há certo nem errado, e que a relatividade e o equilíbrio são a mãe de todas as coisas.
Por isso a interação, a pluralidade, de mãos dadas com a individualidade; o que nos inflige sofrimento nos ensina algo, e o que nos dá amor, também. A experiência tida como má, vista pela perspectiva mais tranqüila do tempo passado, sempre mostra algo útil.
Talvez devêssemos agradecer aos nossos adversários, que são os melhores professores; agradecer pela derrota e pela vitória.
Só quem possui grandeza de espírito está apto a aprender com a crítica, com os reparos, e a não se inebriar com os elogios; quem está pronto, sabe reconhecer a si mesmo em seu oposto, ver que sua alegria é apenas um extremo de uma linha que ora é para cima; na maior parte do tempo é reta; e muitas vezes, aponta para baixo.
Tentemos imaginar um mundo sempre igual, sem o inesperado, sem a luta, sem ninguém a nos contestar, sem jamais havermos sentido uma dor, só prazer, nunca um tropeço. O amanhã absolutamente previsível. Seria tedioso, não? O que seria do som, da música, sem os graves e os agudos, que juntos formam o médio, o equilíbrio?
Impossível viver sem um aliado e um adversário, perderíamos todas as referências, pois o que orienta o viajante são os acidentes geográficos, que são diferenças; sobre a neve uniforme ou sobre o oceano, sem instrumentos, o piloto se perde.
Seria bom um mundo sem guerras, mas não sem uma ou outra adversidade, pois todo humano seria então um ser insuportável, onipotente. Talvez o Senhor tenha se cansado ou se arrependido de ser oni-potente-sciente-presente e recriou-se no homem. Sujeito à tirania do tempo, às agruras e às delícias do contraditório, fugindo assim do tédio; dele refugiando-se no drama humano.
Ninguém poderia viver feliz para sempre, como no final das estórias dos príncipes encantados, tampouco haveria de ser infeliz por todo o tempo. Em tudo é necessário o contraste; inspirar e expirar; pois só se vive com a constante alternância destes movimentos opostos. Doce e amargo, bruto e suave. Dia e noite. Na dualidade, um só. O gran finale é que completa a obra, confere-lhe graça. Talvez seja a morte não o fim, mas o toque final do espetáculo da vida terrena.
Possivelmente sejamos somente isso; e tudo isso: fragmentos de Deus.
Luiz Leitão
Astronomia, astrofísica, astrogeologia, astrobiologia, astrogeografia. O macro Universo em geral, deixando de lado os assuntos mundanos. Um olhar para o sublime Universo que existe além da Terra e transcende nossas brevíssimas vidas. Astronomy astrophysics, astrogeology, astrobiology, astrogeography. The macro Universe in general, putting aside mundane subjects. A look at the sublime Universe that exists beyond Earth and transcends our rather brief life spans.
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domingo, 18 de março de 2007
Artigo semanal: Fragmentos divinos
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