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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Pensando bem...


Por Luiz Leitão

Há poucos dias, minha tia do Rio de Janeiro me telefonou, como de costume, para conversarmos, matar a saudade. No dia seguinte a esse papo telefônico tão agradável, quando um podia ouvir a voz do outro, brotou,como que num passe de mágica dessa máquina diabólica que é o computador, a foto da prima que eu não conhecia, e sobre quem comentara com tia Cristiane, Tiane para os familiares.

E não só a dela, mas também a foto de seu irmão, que eu não vejo há séculos.

"Eis senão quando" (eta expressão antiga, essa) sou assaltado pela brilhante ideia de convencer minha tia a, aos 80 anos, comprar um computador para poder ver essas fotos que surgem do nada, enviar e-mails, e...e só...

É verdade que ela poderia muito bem se embrenhar pelo mundo do Google Earth, Maps,  passar a ler jornais virtuais, Le Figaro, inclusive, que ela é fluentíssima em Francês.

Não é pela idade, não, que quando meu pai tinha 83 anos, e hoje tem quase 91, eu o provocava, dizendo-lhe que computadores não mordiam.

Não é isso, é outro o motivo, e, falo sério, eu mesmo, se pudesse jamais ter me viciado em computadores, creio que me sentiria mais livre, menos estressado.

Imagino minha tia teclando em facebooks e quetais, e aí percebi que um Facebook com áudio seria um inferno, uma algaravia de centenas, milhares de vozes falando ao mesmo tempo, e ninguém se entendendo.

Claro, é por isso que não existem as tais "redes sociais" com som. Porque o cérebro humano só processa uma informação de cada vez.

Sairíamos ambos perdendo, porque fatalmente deixaríamos de nos falar ao telefone, e passaríamos a nos comunicar por e-mails, facebooks, quem sabe até pelo Skype, que não deixa de ser um telefone melhorado, um videofone. É, pelo Skype até que poderia ser bom, mas o tal facebook, no fundo uma bobagem, acabaria prevalecendo, aposto.

Foi assim, após essa reflexão, que resolvi abortar a campanha que eu pretendia lançar entre sobrinhos, filhos, netos, para dar um laptopo de presente a Tiane.

Nada a ver com a idade. É que prefiro, dez a zero, ouvir a voz dela, sempre alegre, a ler o que ela tem a me dizer numa tela fria de computador.

Sim, eu sei que hoje há celulares que acessam muitos sites, inclusive o do Facebook, mas aí quem está fora sou eu. De celular eu quero distância. Já tive um, antigo, mas consegui me livrar dele antes que me viciasse nessa praga que interrompe conversas ao vivo e a cores com amigos reais, tête-a-tête.

Imagine, tem gente no tal Facebook que tem 5.000 "amigos". Amigos mesmo contam-se nos dedos, ora essa! Na verdade, são, quando muito, conhecidos, e andei lendo que várias pessoas aceitam adicionar ilustres desconhecidos a suas listas de "amigos" - eu mesmo já fiz isso.

Quando se tira uma foto, não existe mais aquela doce ansiedade que havia enquanto se esperava a revelação do filme (sim, máquinas fotográficas usavam filmes). Brincando com as palavras, vale dizer que o mundo virou um grande "instantâneo".

Outro dia, eu quase deletei meu perfil no Facebook. Mas, se tivesse feito isso, não teria visto a minha prima, nunca antes vista...

No meu caso, não tem mais jeito, mas, pelo menos, evitei a campanha pela "informatização" de minha querida tia.






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