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domingo, 2 de outubro de 2011

O amor pelos animais e a evolução humana

Humanos dominaram o planeta por um motivo surpreendente: o amor pelos animais deu à espécie força insuperável sobre a natureza. É o que afirma uma grande antropóloga americana, dizendo que o intenso relacionamento de nossos ancestrais pré-históricos com outras criaturas – inclusive as que caçamos, as que temos como mascotes, e as que usamos como alimento – permitiram à humanidade a dominação global.

A interação de maneira muito próxima com animais levou os humanos a desenvolverem sofisticadas ferramentas e habilidades de comunicação, inclusive a própria linguagem, segundo disse a dra. Pat Shipman, da Universidade Estadual da Pennsylvania  a the Observer. Os animais também nos ensinaram que outras criaturas  – inclusive de outras espécies – têm emoções, necessidades e pensamentos, e também nos ajudaram a desenvolver habilidades vitais de empatia, compreensão e comprometimento.



"A mais longa e duradoura tendência da evolução humana foi uma intensificação gradual de nosso envolvimento com os animais," acrescentou. "Mas atualmente, nosso mundo está se tornando cada vez mais urbanizado, e a humanidade vai tendo menos contato com eles. As consequências disso são potencialmente catastróficas."


Shipman traça o período da conexão da humanidade com os animais no período de 2,5 milhões de anos atrás, quando nossos primeiros ancestrais hominídeos fizeram as primeiras ferramentas. Aqueles pedaços de pedra trabalhados são encontrados até hoje em sítios arqueológicos no leste da África, como o Olduvai Gorge, no Quênia, e trazem o testemunho das transformações mentais nos cérebros de nossos ancestrais.

"Aqueles homens-macacos não só apanhavam pedras e as usavam como martelos, ou para abater presas,  derrubar plantas," disse Shipman. "Eles davam formatos às pedras com objetivos científicos. Tinham uma imagem mental do tipo de ferramenta de que precisavam, e as criavam tirando lascas de grandes pedaços de rocha, até obterem o que queriam."

E o que buscavam eram ferramentas para cortar carcaças. Em outras palavas, o afiados pedaços de pedras espalhados por Olduvai não eram usados inicialmente para matar animais ou derrubar plantas, mas para  processar animais mortos que já haviam sido abatidos por outros carnívoros. Homens-símios haviam começaram a retirar a carne de carcaças de presas mortas por leopardos, chitas e outros carnívoros - Logo, comiam sobras dos animais; depois, passaram a devorá-los. Armados de lâminas afiadas, eles conseguiam cortar nacos de anílopes ou veados, e perceberam que tinham de cair fora rápido, antes de serem eles próprios devorados por um leão feroz.


E aquele foi o ponto crucial que deu início à nossa relação especial com o reino animal, disse Shipman, cujo livro, The Animal Connection, será lançado esta semana - no exterior. "Até então, havíamos sido uma espécie que fazia o papel de presa. Carnívoros comiam nossos ancestrais. Então, estes começaram a aproveitar aqueles restos, antes de começarem a caçar em proveito próprio. A carne deu aos nossos ancestrais uma maravilhosa e rica fonte de sustento - nada diferente do que sempre ocorreu no reino animal: um comendo o outro. Mas, a procura por restos deixava nossos ancestrais em posição bastante vulnerável.

Eles estavam tão sujeitos a ser consumidos quando confrontados com um carnívoro quanto ao matarem em benefício próprio. Para sobreviver, os humanos tiveram de aprender muito sobre o comportamento de um grande número de espécies – as que pretendiam matar e aquelas que precisavam evitar.


"Por exemplo, eles teriam aprendido a identificar quando leões se preparavam para acasalar – quando um macho se exibia à fêmea – para que pudessem pegar suas presas enquanto estavam ocupados. Os humanos também adquiririam conhecimentos a respeito da migração de espécies como gnus e outros animais."

Ao final, essas habilidades se tornariam cruciais para a sobrevivência humana, como ilustrado nas pinturas das cavernas em Lascaux e Chauvet, França, e em outras cavernas pintadas por humanos entre 20.000 e 30.000 anos atrás.

"Aquelas pinturas são extremamente belas e magnificamente feitas," disse Shipman. "Às vezes, andaimes eram erguidos nas cavernas. Ao mesmo tempo, artistas percorriam enormes distâncias para buscar pigmentos, misturados ao agentes de adesão certos, no local exato. E o que eles representaram ali quando conseguiram sucesso? Animais, animais e mais animais.

"Não há paisagens, e apenas um punhado de representações de figuras humanas, um tanto malfeitas. Em  contraste com as pinturas de leões, veados, cavalos,touros, magníficas. Os humanos ficavam extasiados com os animais, porque suas vidas dependiam do relacionamento com eles - e ainda dependem."

Pouco tempo após a criação daquelas pinturas, o primeiro animal – o cão – foi domesticado, seguido, algum tempo depois, do cavalo, da ovelha, do bode e outros. O desenvolvimento foi crucial. Em cada caso, os humanos tiveram de aprender a ver o que aquelas criaturas pensavam, a fim de fazê-las atender aos seus comandos. Neste sentido, o senso de empatia e compreensão dos humanos, tanto em relação aos animais quanto a seus semelhantes, foi aprimorado.

Nosso relacionamento especial com os animais aparece, hoje em dia, em nosso desejo de ter animais de estimação. "Humanos são a única espécie na Terra a ter relacionamento individual com membros de outras espécies," disse Shipman. "Nenhuma outra criatura desperdiçaria recursos com membros de outra família, muito menos de outras espécies. Mas fazemos isso porque desenvolvemos laços estreitos com animais específicos ao longo de milênios, e porque nos adaptamos para sentirmos empatia por outras criaturas. É um atributo unicamente humano. Nós recebemos tanto dos animais, muito além do estimado."

Infelizmente, à medida que a sociedade vai se tornando cada vez mais urbanizada, aqueles laços vão-se esticando, até o rompimento, acrescentou Shipman. "Nossas ligações com o mundo animal são preciosas e não devem ser desprezadas," disse.

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