A proibição
é 'irracional' dizem especialistas, quando novas drogas psicoativas sintéticas
surgem a cada semana.
'Baratos
legais' como a mefedrona e nafirona foram banidas, mas os especialistas
consideram irracional a política britânica antidrogas.
Os novos
"baratos legais" vêm sendo descobertos ao ritmo de um por semana, atropelando
as tentativas de controlar sua disponibilidade e expondo o que alguns
especialistas dizem ser a "ridícula e irracional" política
governamental de proibição.
Agentes do
governo que monitoram o Mercado de drogas europeu identificaram 20 novas substâncias
sintéticas psicoativas nos primeiros quarto meses de 2011, segundo Paolo
Deluca, coinvestigador principal do Projeto de Pesquisas Psiconauta (www.psychonautproject.eu),
organização financiada pela UE, sediada no King's College de Londres, que estuda
tendências no uso de drogas. Ele disse a agentes do Centro Europeu de Monitoramento
de Drogas e Vício em Drogas (EMCDDA), uma unidade de alarme antecipado, ter
detectado 20 novas substâncias à venda, em maio deste ano. Em 2010, a agência
soube de 41 novas substâncias psicoativas, um número recorde, muitas das
quais eram derivados sintéticos da catinona (Benzoiletanamina, uma monoamina alcaloide
encontrada na Catha edulis ou “khat”), aparentemente originária da Etiópia,
encontrada na Somália, Djibuti, Eritreia, Península Árabe, Quênia, Uganda,
Tanzânia, Congo RDC, Malaui, Zimbábue, Zâmbia e África do Sul, e quimicamente
semelhante aos derivados da efedrina, que podem emular os efeitos da cocaína, do ecstasy ou das anfetaminas.
Deluca disse
que, por conta da pletora de novas substâncias, as tentativas governamentais de
banir as drogas legais não são uma solução "factível". "Está
também se tornando muito difícil saber exatamente quantos novos compostos existem, já
que há todos esses nomes, e quando se testa o lote, nota-se que é diferente do
outro." O Reino Unido, segundo a pesquisa, e´, ainda, o maior mercado de
drogas psicoativas legais e compostos sintéticos da Europa.
Ativistas da
Transform Drugs Policy Foundation (TDPF), instituição benemerente, disseram que
a velocidade sem precedentes com que novas drogas surgem ressalta a “insustentabilidade”
da estratégia governamental de banir cada uma delas, assim como a falta básica
de compreensão a respeito do funcionamento do mercado de drogas.
Ano passado
o governo revelou planos de introduzir a interdição temporária dos “baratos
legais”, por 12 meses, e o Conselho Consultivo sobre o Mau Uso de Drogas
considerou seu banimento permanente. Até agora, duas substâncias foram
totalmente banidas – a mefedrona, uma droga outrora legal, conhecida como
"miau-miau", e a nafirona, também designada "NRG1". Duas outras, o fenazepam (um benzodiazepínico
desenvolvido na antiga União Soviética, hoje produzido na Rússia) e a Ivory
Wave (uma mistura que contém MDPV, um derivado da catinona, o anestésico lidocaína
e outras substâncias), também tiveram sua importação proibida, o que significa
que a Aduana Britânica tem poderes para apreender e destruir carregamentos por
medida de segurança.
A ênfase
ininterrupta do governo no banimento de compostos ilegais bate de frente com os
crescentes apelos por uma nova abordagem da lida com as drogas. No começo do
ano figuras públicas proeminentes, entre as quais ex-chefes do MI5 (Agência
Britânica de Inteligência) e do Ministério Público da Coroa, disseram que a
"guerra contra as drogas" havia fracassado e deveria ser abandonada
em benefício de políticas baseadas em evidências, que tratem o vício como
problema de saúde, evitando criminalizar os usuários.
Steve
Rolles, analista sênior de políticas do TDPF, disse que tentativas de banir uma nova substância
após outra eram "como perseguir a própria cauda". Ele acrescentou:
"Cada vez que proíbem uma, surge uma nova droga. Isso denota cegueira a
respeito da dinâmica básica do mercado, efetivamente criando um vazio que
permite a químicos de fundo de quintal criar um novo produto." O grupo é
um dos muitos que apelam ao governo que adote uma posição regulatória
intermediária entre a proibição total e o extremo, uma "internet liberada
para tudo".
Deluca citas
o caso da mefedrona, que, apesar de ter sido proibida ano passado, é ainda tão
popular quanto a cocaína entre os
adolescentes e adultos jovens, segundo informações oficiais divulgadas em julho.
Dados do
Ministério da Justiça, na Pesquisa Criminal Britânica estimam que em torno de
300.000 pessoas com idades de 16 a 24 anos usaram a mefedrona nos últimos 12 meses,
nível de popularidade semelhante ao da cocaína entre o mesmo grupo etário.
Deluca completou: "A legalização dos compostos não deterá seus usuários
potenciais, mas somente sua qualidade."
A EMCDDA apoia
uma proibição generalizada que abarque
grupos inteiros de compostos sintéticos
estruturalmente relacionados, ou famílias químicas, acabando, por conseguinte,
com a necessidade de proibir substâncias individualmente, quando surgem no
mercado. Deluca diz: "É impossível colocar em prática a proibição
individual de cada novo composto”.
Rolles disse
que as drogas legais deveriam ser investigadas e regulamentadas mediante o
mesmo modelo usado para os fármacos convencionais. "É simplesmente
ridículo, irracional, para dizer a verdade”. “Se pusermos de lado as opções
regulatórias, deixaremos de utilizar uma abordagem baseada em evidências – e a
coisa resvala para a politicagem."
Fonte: The
Guardian e Projeto Psiconauta de Mapeamento da Web: Um alerta sobre novas drogas recreacionais na Web; construindo um sistema de monitoramento e varredura da web em âmbito europeu.
Tradução de Luiz Leitão
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