Dyelle Menezes
Do Contas Abertas
Diante
das recentes denúncias de corrupção ocorridas nos ministérios dos
Transportes, Turismo e Agricultura, e, sobretudo, com a absolvição de
Jaqueline Roriz (PMN-DF) das acusações de participar do esquema de
propina no governo do Distrito Federal, a população não ficou apática.
Hoje, os desfiles de comemoração da Independência do Brasil irão dividir
a atenção com protestos contra a corrupção. Contudo, o problema não é
novidade no cenário brasileiro e, muito menos, mundial.
O Banco Mundial estima
que US$ 1 trilhão por ano seja tragado pelos corruptos. O valor
corresponde a 1,6% do PIB mundial em 2010 (US$ 63 trilhões) e supera em
43% o gasto dos Estados Unidos com armamentos (US$ 698 bilhões).
Paradoxalmente, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO) considera que US$ 30 bilhões por ano são suficientes
para acabar com a fome de quase um bilhão de pessoas no planeta. Assim,
tal como no Brasil, a ideia de que a “faxina mundial”, em favor da
moralidade poderia eliminar a miséria vira utopia.
Na hipótese otimista, o
montante de R$ 50,8 bilhões é equivalente às ações concluídas entre 2007
e 2010 no setor de logística do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC). Em outras palavras, em cenário fictício de um ano sem corrupção, o
País teria recursos para duplicar as obras realizadas nos últimos
quatro anos em rodovias, ferrovias, marinha mercante, aeroportos, portos
e hidrovias.
Na área social, com R$
50,8 bilhões poderiam ser construídas 918 mil casas populares do
programa “Minha casa, minha vida” ou 57,6 mil escolas para as séries
iniciais do ensino fundamental. É evidente, portanto, a imensa
participação da desonestidade no chamado “Custo Brasil”.
Os cálculos realizados
pela FIESP derivam da pesquisa sobre o “Índice de Percepção da
Corrupção”, realizada pela ONG Transparência Internacional. Desde 1995, a
entidade atribui notas de 0 a 10 aos países mais ou menos corruptos,
respectivamente. Ao longo desses dezesseis anos, a nota média do Brasil
foi 3,65. Em 2009 e 2010, a nota 3,70 aproximou-se do valor médio,
demonstrando que nas últimas décadas a situação é estável.
No domingo passado, o
jornal “Folha de S. Paulo” divulgou o estudo do economista da Fundação
Getúlio Vargas, Marcos Fernandes da Silva, que contabilizou os desvios
de recursos federais descobertos no período 2002 a 2008. A soma de R$ 40
bilhões, apurada pelos órgãos de controle, não incluiu o que permaneceu
desconhecido, além das falcatruas nos estados e municípios, ou seja, é
apenas a ponta do iceberg.
O diagnóstico sobre as
causas da corrupção brasileira é quase unânime. A colonização de 300
anos é o componente histórico. Outros pontos fundamentais são a
imunidade parlamentar, o sigilo bancário excessivo, a falta de
transparência das contas públicas, a elevada quantidade de funções
comissionadas, os critérios para nomeação de juízes e ministros de
tribunais superiores, o foro privilegiado para autoridades, os
financiamentos de campanhas eleitorais, as emendas parlamentares e a
morosidade da Justiça. Esses aspectos, em conjunto ou individualmente,
levam à impunidade.
Apesar do consenso quanto
aos focos que realimentam as fraudes, cerca de 70 projetos de lei estão
engavetados no Congresso Nacional. Versam sobre a responsabilização
criminal das empresas corruptoras, criação de obrigações para
instituições financeiras, sanções aplicáveis aos servidores no caso de
enriquecimento ilícito, dentre outros temas relevantes. Enquanto isso
foi votada a absolvição da deputada Jaqueline Roriz.
No Brasil, a oportunidade
faz o ladrão. Com a proximidade da Copa/2014 e dos Jogos
Olímpicos/2016, a bola da vez são as obras nos estádios e de mobilidade
urbana, além dos cursos de capacitação. Somente para a Copa já estão
previstos investimentos de R$ 23,9 bilhões, valor que deve crescer,
junto com os níveis de corrupção. Ao que parece, no Brasil, realizar
obra de grande porte sem risco de desvio de recursos é quase impossível.
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