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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Dheyne de souza

DOS ASSOALHOS

 


Quando teu corpo deslizou naturalmente pelos meus móveis, como se conhecesse todas as frestas, arestas, nichos do meu próprio Outro, detive-me diante do umbral, numa espécie de mobília. Sem conseguir despir meus percalços, bebi o barulho do pente nos teus cabelos, a curva displicente das tuas nádegas marejando o ar, na espessura faminta do teu silêncio. Sem ainda poder mover o pó que subia lento quando teus pés pisavam meus assoalhos, assisti, apenas e atentamente, as tuas mãos partirem mesmo que ali coladas ao lençol mastigado dos dias. Elas pousavam em burburinho nos meus ouvidos. Elas corriam atrozes pela janela. E mesmo que eu ainda não saiba quanto tempo tiveram para me entornar o verbo, e mesmo que eu ainda não veja pelos ladrilhos o embaço do hálito, e mesmo ainda que eu não encontre pistas passos meias verdades, não
engasgo.

poema | dheyne de souza
fotografia | floriano martins
2011

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