O valoroso general de exército brasileiro Raymundo Nonato de Cerqueira Filho é um homem de convicções. Uma delas é a grande verdade que todos têm o direito de dizer tolices - algo que a maioria faz em privado, ou na mesa de um bar, e às vezes sob o manto do anonimato. No entanto, quando diz em plena sessão do Senado, perante a Comissão de Constituição e Justiça, que o sabatinava para decidir a aprovação de sua nomeação de ministro do Superior Tribunal Militar, que (militar) "homossexual não comanda", escancarou a sua absoluta inadequação ao cargo de magistrado. Ele, que com a mais absoluta certeza, nas diversas patentes que teve em sua longa carreira no Exército, obedeceu a mais de um superior homossexual, brande um dogma digno do mais antiquado falcão da era Bush Filho. Repete, como um papagaio, a estupidez generalizada de considerar o homossexualismo uma opção - ou orientação, conforme outros - ao dizer que "os homossexuais só deveriam ser aceitos pelas Forças Armadas se mantivessem a 'opção' sexual em segredo". Então, o anacrônico oficial acredita piamente que um, digamos, capitão, ou capitã, sabidamente homossexuais, não seriam obedecidos por seus subordinados, e não teriam peito de mandar prendê-los por desobediência? Seu colega de profissão, mas não de arma, o almirante de esquadra Álvaro Luiz Pinto, submetido à mesma sabatina, mostrou-se mais caridoso, dizendo que "não tem nada contra", sob a condição de que os homossexuais mantenham a dignidade da farda, do cargo, do trabalho que executa", como se militares gays ficassem aos beijos e abraços nos cantos dos quartéis. "Manter a dignidade da farda", honrá-la, é respeitar seus subordinados, tratá-los com humanidade, saber-se servidor do Estado, e não do governo de turno. Mostrar a eles que a coragem está no espírito, e não no corpo, nem na natureza sexual de cada um, que é inata. Por incrível que pareça a comissão do Senado aprovou os nomes dos dois para assumirem o cargo de ministros do Superior Tribunal Militar. Ao proferirem tais enormidades, dois militares da mais alta patente jogam sobre as Forças Armadas a pecha de instituições homofóbicas, desrespeitadoras dos Direitos Humanos. Ao distorcerem o conceito de "macho" (ou de fêmea") num maniqueísmo fruto de uma ignorância abissal, caem na vala comum dos intolerantes, igualando-se àquele que seu comandante-chefe, o presidente da República, muito admira, Mahmoud Ahmadinejad, o fraudador eleitoral que disse uma vez não existirem homossexuais no Irã... Os novos ministros, sob a sua ótica singular, praticam religiosamente o mandamento de honrar a farda que envergam. Haverão de mostrar doravante que também honram a toga que passarão a vestir, declarando-se impedidos de julgar causas envolvendo homossexuais. As coisas não deveriam ser assim, quando a inadequação de ambos ao exercício da magistratura é de clareza solar, mas o Senado, pelo menos nesses tempos mais recentes e indecentes, sempre aprova qualquer indicação presidencial. Talvez porque lá a maioria seja tributária do governante da ocasião.
Luiz Leitão ©
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