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quarta-feira, 13 de junho de 2007

Enquanto Darfur espera

Não é por falta de cobertura da imprensa que o conflito em Darfur, Sudão, que se arrasta há quatro anos, deixa de ter solução. A dramática situação dos refugiados e as centenas de milhares de vítimas fatais têm sido reportadas com todas as cores e nuanças até por equipes de TV. Em 2004, o programa Panorama da BBC mostrou e entrevistou, no documentário “The New Killing Fields”- referência ao filme The Killing Fields”, sobre os horrores da máquina de matar do Khmer Vermelho no Camboja –, sobreviventes de ataques a aldeias, a maioria mulheres. Em tudo aquilo que o mundo está farto de saber, os estupros, os bombardeios, a situação de cerca de dois milhões de pessoas acampadas no deserto, crianças doentes e com desnutrição gravíssima, apesar da ação dos voluntários, muitas vezes interrompida por falta de condições mínimas de segurança, há o dedo do governo de Cartum, que patrocina a milícia Janjaweed em sua limpeza étnica. Nada disto é novidade, entretanto, enquanto os atingidos esperam, sofrem e morrem, como se alheias a um óbvio sentimento de urgência, as nações influentes e a ONU se perdem na inútil discussão acerca da natureza do conflito, se é ou não genocídio. No holocausto, nada pôde ser feito; hoje, é possível agir. Em dezembro de 1975, na bárbara invasão do pequeno e indefeso Timor-Leste pelos indonésios, que eliminaram algo como 200 mil nativos, proibiram o culto católico, o uso da língua portuguesa, houve um massacre – ou genocídio, que diferença faz? – solenemente ignorado, ou tolerado, pelo ocidente, que só agiu tardiamente. “Considerando que, a fim de consolidarem o seu poder, as autoridades indonésias perpetraram um verdadeiro genocídio que causou a morte de pelo menos 1/3 da população deste território, e que, quatro anos depois do massacre de Santa Cruz, em Dili, se mantém o clima de arbitrariedade e violência em Timor-Leste; considerando que a Indonésia se recusa a respeitar as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que continua a considerar Timor-Leste como um território não autônomo sob administração portuguesa, e exigindo o respeito dos Direitos do Homem e a autodeterminação deste território, condena a tentativa de colonização de Timor-Leste por parte da Indonésia” (resolução do parlamento Europeu, em 14/12/1995). Ao final da reunião do G-8, o grupo dos sete países mais ricos e a Rússia, pediu, pela enésima vez, que Cartum, onde há anos está um inócuo contingente da União Africana, aceite uma missão de paz da ONU. Voltando no tempo, em outubro de 2006, o Conselho de Segurança da ONU tentou, em vão, aprovar uma resolução contra o governo sudanês. Um mês depois, o então secretário da ONU Koffi Annan pedira ao Conselho de Direitos Humanos da ONU a condenação da barbárie em Darfur. O Brasil, com interesse no petróleo do país, apesar dos constantes discursos de Lula em favor da África, preferiu o pragmatismo e se absteve de apoiar as investigações propostas pela comunidade internacional. Assim faz a China com todo o continente: ignorando eventuais ou sistemáticas violações de direitos humanos, dá prioridade ao que realmente interessa: os negócios, a exploração dos ainda fartos recursos naturais africanos. Agora, o novo secretário-geral da ONU, Ban-Ki-Moon, diz que o povo em Darfur já esperou demais, e acena com uma proposta de envio de 23 mil soldados que chegariam, na melhor hipótese, em meados de 2008. Pode-se alegar que não há mesmo pressa, afinal, o Sudão trava, há quarenta e tantos anos, uma guerra civil... O povo do Timor sofreu e resistiu por mais de vinte anos, apesar do falatório internacional. Os sudaneses já escutam quatro anos de lengalenga das autoridades. Luiz Leitão luizleitao@ebb.com.br http://detudoblogue.blogspot.com/

2 comentários:

  1. Este artigo foi escrito em 12/6/07; hoje, 13, noticiou-se que Darfur aceitou a força de paz da ONU, que só estará lá em 2008.Vejamos se isso não é só uma manobra do tirano Omar Al-Bashir, o presidente do Sudão.

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  2. Sarkozy pede que países atuem ´rápido´ e ´firme´ em Darfur


    Representantes de 18 países se reúnem por solução do conflito que matou 200 mil
    Efe





    PARIS - O presidente francês, Nicolas Sarkozy, pediu nesta segunda-feira, 25, que a comunidade internacional atue "rápido" e seja "firme" para solucionar o conflito em Darfur.

    "O silêncio mata. Queremos mobilizar a comunidade internacional para dizer: basta", afirmou Sarkozy a representantes de 18 países e de várias organizações internacionais, incluindo a ONU, reunidas em Paris.

    Altos representantes de 18 países e de organizações internacionais estão reunidos para tentar promover uma solução para o conflito de Darfur e discutir a situação humanitária e a reconstrução dessa província sudanesa.

    Os grandes ausentes na reunião são a União Africana e o governo do Sudão, que, após meses de bloqueio, aceitou recentemente o futuro envio de uma força conjunta da ONU e da UA a Darfur.

    Por outro lado, destaca-se a participação da China, país que compra dois terços do petróleo sudanês e é um aliado do regime de Omar Hassan Ahmad al-Bashir.

    Em uma velada alusão à China, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, disse no sábado à noite em Paris que é preciso "assegurar que todos tenham o mesmo objetivo e desejem ir na mesma direção". "A China tem responsabilidades no Conselho de Segurança da ONU - do qual é um de seus cinco membros permanentes - e boas relações na África", afirmou.

    "Espero que intensifiquem sua atitude" em favor da pacificação de Darfur e da ajuda humanitária aos afetados pela crise, acrescentou Rice em entrevista coletiva com o ministro de Relações Exteriores francês, Bernard Kouchner.

    Calcula-se que o conflito de Darfur, que começou em 2003, já causou a morte de mais de 200 mil pessoas e o deslocamento de cerca de 2,5 milhões, além de afetar o Chade e a República Centro-Africana, os países vizinhos.


    ´Pressa´
    O chefe de Estado francês insistiu na necessidade de "atuar, e atuar depressa", porque "seres humanos morrem em dezenas de milhares nesse lugar do mundo", e "não podemos deixar a situação como está".

    Segundo Sarkozy, a conferência internacional de Paris deve "mobilizar a comunidade internacional" e fixar "um mapa de rota claro para cada um dos atores".

    O ministro da Defesa francês, Hervé Morin, expressou a esperança de que a força conjunta de paz da ONU e da UA possa ser posicionada em Darfur "o mais tarde no início do ano".

    Após lembrar na emissora France Inter que a França já instalou uma ponte aérea humanitária para os refugiados de Darfur e deslocados no leste do Chade, Morin disse que a futura força terá uma ampla participação de soldados franceses.

    Antes do início da conferência, está previsto que os participantes se reúnam no Palácio do Eliseu com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, para quem a reunião deve dar "um novo impulso" à mobilização internacional a favor de Darfur.

    Além dos Estados Unidos e da França, os outros países representados em nível ministerial em Paris são Alemanha - que preside a União Européia este semestre -, Holanda, Canadá, Noruega, Itália, Suécia, Dinamarca e Portugal.

    Os outros oito países participantes estão representados por vice-ministros ou secretários de Estado.

    O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o alto representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Javier Solana, e o comissário de Cooperaçãoda UE, Louis Michel, também estarão presentes na conferência, assim como responsáveis da Liga Árabe e do Banco Africano de Desenvolvimento.

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