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sábado, 17 de março de 2007

Artigo Semanal: A Gênese de um ditador

O tempo romântico das grandes e pequenas revoluções passou, e o coronel Hugo Chávez, 52 anos, percebeu isso lá atrás, em 1992, quando foi preso pela fracassada tentativa de golpe de Estado contra o presidente Carlos Andrés Perez, que governava uma Venezuela atolada na corrupção.
Foi-se a época dos que, em nome de ideais raramente nobres, pegavam em armas para derrubar ditadores, como fizera Fidel Castro há quase cinco décadas, quando apeou do poder o ditador Fulgêncio Batista, instalando em seu lugar outro governo tirânico que jogaria Cuba na lanterna da América Latina.
Ainda que por caminhos outros, a história, ainda que não nos detalhes, acaba se repetindo. Eleito pelo clássico caminho das eleições diretas, Chávez trata de esculpir pacientemente sua figura de ditador. Não um ditador tosco como o norte-coreano Kim Il Sung, cujos governados jamais puderam vislumbrar o mundo externo. Não, isso assusta o capital estrangeiro e, francamente, não cai bem nos dias de hoje.
Atualmente, a receita – que já está se tornando clássica – dos que cedem à tentação de se perpetuar no poder inclui, entre outras providências, “revisar” a Constituição, ao molde de adequá-la a seus projetos de poder; reestatizar e nacionalizar empresas estrangeiras, agigantando o Estado; usar a máquina de governo para “acabar” com a pobreza, além, é claro, do clássico controle dos meios de comunicação. Ah, sim, não se pode dispensar a banca, que na Venezuela, de quem a Petrobrás é parceira preferencial, teve resultados extraordinários no ano passado.
Sem pressa, Chávez vai esculpindo sua figura de ditador politicamente correto, travestido de pai dos pobres, distribuidor de benesses pelas vizinhanças do sub-continente. Distribuiu empregos aos borbotões num país que viu a quantidade de empresas cair pela metade desde 1998; congelou preços, como fez seu colega argentino Néstor Kirchner. Apesar disso, a inflação, essa bobagem, estaria por volta de 17%.
Reeleito para mais seis anos, o presidente venezuelano já não se peja em dizer que, por enquanto, pretende se manter no poder até 2021. Meios para isso ele tem de sobra, especialmente depois que as oposições cometeram um erro crasso boicotando as eleições parlamentares de 2005. Com isso Chávez agora reina absoluto, tudo que “pedir” à Assembléia Nacional ele haverá de conseguir.
Na República Bolivariana, cujo nome deverá ser mudado para República Socialista da Venezuela, porque a propaganda é tudo, há intermináveis apagões (elétricos e outros), a classe média encolheu, o Judiciário é apenas uma sombra, a pobreza aumentou e os ricos vão bem, obrigado. O histriônico presidente tem até um programa dominical na televisão, onde canta e dança. Fala direto ao povo, e a tática funciona: Chávez é cada vez mais votado, em eleições consideradas normais por observadores estrangeiros.
É um expert, um grande ator que elevou o populismo à enésima potência, num projeto pessoal de poder de uma mente distorcida, se não por uma vaidade exacerbada, pelo vício do poder, essa cachaça. Líder esperto e carismático, sua máscara não deverá cair tão cedo; no entanto, considerá-lo herdeiro de Fidel é um equívoco.
Figura controvertida, Hugo Rafael Chávez Frías, que de esquerdista nada tem, inspira aventureiros como o desastrado boliviano Evo Morales, o equatoriano Rafael Correa, além do já experiente recém-eleito presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, o ex-guerrilheiro que se apoia no que há de pior da oligarquia daquele país.
Outros, como o brasileiro Lula da Silva, apenas o admiram.
Coitado de Simon Bolívar, a República Bolivariana da Venezuela é a antítese de seus tão nobres valores.
Luiz Leitão luizleitao@ebb.com.br

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