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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Exigências mínimas




Luiz Leitão



Agora que a população se conscientizou de que a expressão “todo poder emana do povo e em nome dele será exercido” não é mera retórica, seria uma pena se essa manifestação popular tão singular se desvanascesse com a mera redução das tarifas dos transportes públicos. Por que não aproveitar a energia e o calor do momento para pôr em debate público algumas exigências mínimas que fariam do Brasil uma nação mais justa? Tudo aquilo que nunca é demais exigir — e não pedir—, cujo atendimento é perfeitamente viável considerando-se os altíssimos impostos pagos pelos brasileiros.
 
Ora, um movimento desse calibre não nasce todo dia, e perder a oportunidade de exigir que parlamentares trabalhem cinco dias por semana, como qualquer outro mortal, que arquem com suas despesas de moradia, e que sejam julgados em tribunais comuns não é demais. É o que se vê em países realmente democráticos. Aproveitar o momentum dessa energia transformadora para que magistrados tenham trinta dias de férias, como os demais cidadãos, que as regras de aposentadoria sejam universais, e que governadores possam ser investigados sem necessidade de autorização das Assembleias Legislativas.
 
Há dinheiro público de sobra no País para que se tenha escolas decentes, segurança de fato, presídios humanos, mas sem regalias para os presos, hospitais suficientes e bem equipados, com médicos bem remunerados. Podemos e devemos exigir a implantação do voto distrital e a redução da mastodôntica máquina pública, além de uma severíssima restrição às nomeações para “cargos de confiança”.
 
Qualquer um que fizer as contas do que é gasto com a inútil propaganda eleitoral “gratuita” perpétua — partidária nos anos sem eleição, e eleitoral nos demais — haverá de concluir que dá para começar por aí a redistribuição dos recursos públicos em benefício real da população. Tampouco temos de financiar o fundo partidário. Os 30 partidos hoje existentes que tratem de arrecadar recursos entre seus associados. Contando as instalações faraônicas de inúmeros órgãos públicos, o séquito de servidores desnecessários (vide os despachantes de check-in dos parlamentares, os mordomos do Senado) e as inúmeras contribuições sindicais acessórias, que vão além do obrigatório imposto sindical (confederativa, associativa, assistencial, patronal) e não são obrigatórias, mas na prática o são, dada a imensa dificuldade de o trabalhado se opor ao desconto e cobrança delas, percebe-se que há dinheiro de sobra em mãos erradas.
 

Certamente, a lista é extensa e não se consegue mudar tudo de uma vez. Apenas para começar, manter o foco e facilitar a compreensão e atuação das massas, que tal exigirmos o básico? Saúde de qualidade, eficiente e suficiente; educação idem; um sistema de transportes decente e, cereja do bolo, justiça para todos na figura da extinção do foro privilegiado.

Jornalista e Tradutor

luizmleitao@gmail.com

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