O termo "droga projetada" se tornou popular com o ácido e a explosão do ecstasy nos anos 1990, mas nunca foi muito preciso. O principal ingrediente dos comprimidos de ecstasy – MDMA – foi sintetizado pela primeira vez em 1912 e começou sendo usado como droga recreativa nos anos 70, na Califórnia, muitos anos antes de se tornar conhecido nas raves. A droga não foi criada para essas festas de multidões, mas o rótulo de "droga projetada" caiu como uma luva para tanto para glamurizar como para demonizar a nova droga da moda.
Tem havido algumas tentativas genuínas de se projetar drogas ao longo dos anos – em que pessoas tentaram criar novas substâncias recreativas para escapar às leis sobre drogas – mas a maioria deu em nada. No exemplo mais notório, o estudante de química Barry Kidston tentou criar uma droga sintética semelhante à heroína, em 1976, e acabou criando o MPTP, uma substância tão neurotóxica que o fez passar a sofrer da doença de Parkinson poucos dias após ele tê-la injetado em si. Como uma pequena compensação, o único legado de Kidston foi ter criado uma droga até hoje usada em experiências de laboratório para tentar entender essa debilitante doença neurológica.
Entretanto, algo mudou no cenário das ruas em relação às drogas nestes últimos anos. Pela primeira vez, pode-se usar o termo "droga projetada" ("designer drug") com confiança porque estamos em meio a uma preocupante revolução cientifica no uso e fornecimento de substâncias psicoativas.
Essas drogas chegaram às machetes sob nomes como Spice, K2, mefedrona e M-Cat, mas existem outras centenas delas. Elas são vendidas eufemisticamente como "sais de banho", "incenso" ou "substâncias químicas de pesquisa", e não são regulamentadas, ao menos não de início, porque são rotuladas como "não destinadas ao consumo humano". Ao contrário de gerações de anteriores de substâncias psicoativas legais que eram tão recreativas quanto um tapa na cara, essas funcionam de verdade. Eles deixam as pessoas doidonas.
Os dois tipos mais populares são sintéticos, drogas semelhantes à cannabis, vendidas como erva para ser fumada, e estimulantes, semelhantes ao ecstasy e às anfetaminas. Mas o que faz disso uma revolução, em vez de uma simples inovação de mercado, são a escala e a velocidade do desenvolvimento das drogas. O Centro Europeu de Monitoramento de Drogas e Vício relatou o aparecimento de 73 novas substâncias no ano passado, o que significa que novas drogas chegam ao mercado à razão de mais de uma por semana. Essa onda de novas drogas começou há apenas cinco anos e, desde então, mais de 200 substâncias antes desconhecidas foram encontradas em circulação.
Este surto de aparecimento de novas drogas é baseado em ciência de verdade. De nada adianta que as mais tradicionais drogas de adição – speed, cocaína, heroína, ecstasy e por aí afora – possam ser sintetizadas com razoável facilidade. É preciso alguém com algum conhecimento e os ingredientes certos, nem sempre fáceis de encontrar, mas pode-se completar o processo em um quarto de fundos, porão, ou na selva. Mas as coisas não assim com a nova geração de drogas sintéticas. Embora muitos químicos de universidades discorde da ilação de que a síntese é difícil, ainda assim é necessário um laboratório profissional, ainda mais para a produção constante de novas substâncias.
É essa inovação constante que está direcionando o mercado e tornando possível contornar a lei. Pegue-se as drogas sintéticas feitas com a cannabis, por exemplo. Todas elas incluem variações da molécula tetraidrocanabinol, ou THC, o principal ingrediente ativo da cannabis. Centenas dessas variações foram criadas para pesquisas e descritas, frequentemente apenas uma ou duas vezes, nas páginas de obscuras revistas científicas. Elas foram em sua maioria criadas em laboratório como uma prática para explorar os limites das moléculas canabinoides, mas elas nunca foram usadas comercialmente ou testadas em humanos.
Quando o mercado de drogas legais explodiu, em 2008, os pesquisadores de drogas começaram a analisar o que estava sendo vendido. Eles encontraram material vegetal inerte, borrifado com obscuras substâncias que eram parcamente conhecidas fora do pequeno mundo da neuroquímica da cannabis.
Quando a Alemanha identificou as substâncias e as proibiu, no começo de 2009, novos canabinoides, novamente jamais vistos fora dos laboratórios, as haviam substituído no espaço de semanas, e isto vem se repetindo desde então.Uma substância é proibida, e uma nova a substituiu quase imediatamente. Laboratórios profissionais, porém clandestinos estão vasculhando a literatura científica em busca de novas drogas psicoativas para sintetizá-las tão rápido quanto a lei é modificada. Em um dos mais interessantes desenvolvimentos, um canabinoide detectado em 2012, chamado XLR-11, era não só novidade para o mercado de drogas, como também completamente novo para a ciência. Desde então, várias substâncias anteriormente desconhecidas surgiram. Os laboratórios do mercado clandestino não apenas estão trazendo novas substâncias para o mercado, como também estão inovando no design das drogas. Os testadores humanos selecionam eles mesmos, claro, sem saber o que estão tomando, o que, às vezes, leva a resultados desastrosos. Informações a respeito dos perigos de novas substâncias geralmente não existem.
O processo inteiro tem sido também uma experiência não-intencional em relação à política de drogas. Apesar da livre disponibilidade de substâncias tão prazerosas como as drogas já proibidas, não se observou um grande aumento de usuários problemáticos e as taxas de mortalidade relacionadas ao uso dessas drogas estão em queda. Além do mais, mesmo com as recém-lançadas "proibições instantâneas", as leis sobre drogas simplesmente não conseguem acompanhar o ritmo.
Atualmente, mas é possível detectar novas drogas á velocidade em que elas surgem.Está claro há muito tempo que a abordagem de guerra às drogas da criminalização da sua posse, em vez de tratar-se os usuários, é inútil. A revolução no mercado de drogas recreativas é uma duro lembrete dessa realidade. A guerra contra as drogas não está perdida; tornou-se obsoleta.
Tradução de Luiz Leitão da Cunha
Tradução de Luiz Leitão da Cunha
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