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sábado, 27 de abril de 2013

Deveria o inglês ser a língua oficial da UE?



Fones de ouvido de tradutor. Calcula-se que a União Europeia produza 1,76 milhão de páginas de traduções por ano. Dan Chung.
O dinheiro fala alto, especialmente em Bruxelas. Um bilhão de euros significa  normalmente "mil milhões de euros" em português, ou mil milhões. Em espanhol, da mesma forma, "billón" significa um milhão de milhões, portanto, bilhão quer dizer "mil millones de euros". Para onfundir ainda mais, "billlhão" se traduz como "milijarde" em Croata, ou"miljard" em holandês. Quando os franceses falam em "un billion", estão se referindo ao que os britânicos chamas de trilhão. Ah, e um "Billiarde" em alemão é  um "quadrillion" em Francês. Claro.
Traduções na sede da UE são um negócio complicado – e geralmente caro. A comissão Europeia tem três "idiomas oficiais padronizados" ("procedural languages"): Alemão, Francês e Inglês. Entretanto, com a União se expandindo, agora com 23 idiomas  falados nos países membros, a quantidade de tradutores cresceu exponencialmente, de 200-300 para 2.000-3.000. calcula-se que a UE produza 1,76 milhão de páginas de traduções por ano, a um custo de €300 milhões. Em 1º de julho, quando a Croácia se integrar à UE,  mais um idioma será acrescido a essa montanha.
Nesta época de vacas magras, os governos nacionais estão ansiosos por cortar o orçamento da UE, um dos motivos pelo qual um recente discurso do presidente da Alemanha foi aplaudido com entusiasmo. Em um discurso  cujo básico era o futuro da integração europeia, em fevereiro, Joachim Gauck sugeriu que o inglês deveria se tornar o idioma oficial da UE: "É verdade que os jovens estão sendo criados com o inglês como  lingua franca (idioma universal). Entretanto, acredito que não devemos simplesmente observar os acontecimentos quando se trata de integração linguística." Aquilo soou como música aos ouvidos dos federalistas e dos falcões do orçamento: com o inglês falado nos corredores de Bruxelas, a UE se tornaria mais simplificada e eficiente.
Mas a proposta é realista? Em certa medida, seria apenas a confirmação de uma tendência  já existente. Desde o "big bang" da ampliação do leste europeu, em 2004, o uso do francês nas conferências foi reduzido – e o alemão hoje em dia como "idioma oficial" é meramente figurativo. Documentos no Parlamento Europeu só são traduzidos para idiomas  relevantes: não há transcrições em casos de políticas comuns de pesca em Checo, por exemplo.

Mas se os países membros do Norte e Leste adotassem o inglês como idioma oficial, os do Sul  não iriam gostar nem um pouco. Alguns diplomatas franceses dizem que o inglês iria  trazer influências  "Anglo-Saxônicas" sobre a política e a economia para o centro de criação de políticas europeias. Em dezembro passado, um jornalista do diário francês  Libération boicotou uma coletiva de imprensa na presidência da UE em Dublin porque era somente em inglês. Se não havia de fato verba para remunerar tradutores, disse ele em seu blog, deveriam então ter adotado o idioma galês.
Haveria também obstáculos legais. "Impor o inglês como idioma oficial da Europa seria muito antidemocrático," disse Diego Marani, um novelista e agente de políticas para a Diretoria-Geral de Interpretações na Comissão Europeia. Ao contrário de tornar a  Europa mais   integrada, isso poderia tornar o projeto ainda mais elitista. O custo total com trabalhos de tradução na UE, segundo Marani, é mais ou menos o equivalente ao de dois cafés por pessoa a cada ano: um preço pequeno a pagar por um pouco mais de democracia.
E quais seriam as soluções alternativas? Uma proposta para tornar o latim a linguagem oficial é uma brincadeira antiga e infeliz, mas um  intérprete acha que o Esperanto seria uma lingua franca mais razoável do que o inglês. Outro sugere uma determinação para que diplomatas não sejam autorizados a falar em suas línguas maternas, a fim de criar um  ambiente de negociações mais homogêneo.No escritório de Marani, os funcionários vêm experimentando  o"Europanto",que ele descreve como "der jazz des linguas": uma mistura de linguagens de estilo livre composta por uma linguagem formada  pela parte comum das línguas europeias, sem regras gramaticais, e com um vocabulário ilimitado.
O Europanto é uma brincadeira, claro, mas pode conter uma mensagem séria. Impor um idioma  comum europeu pode ser politicamente impossível, mas isso não quer dizer que tal linguagem não venha a se desenvolver naturalmente com o tempo, em longo prazo. Ano passado, um frustrado tradutor sênior da corte europeia de auditores compilou um documento de 33 páginas contendo frases comumente utilizadas erroneamente em publicações da UE:  "to precise" (não existe este verbo em inglês, mas o adjetivo significa preciso, exato) com o sentido de "summarise" (resumir) por exemplo, ou "actors" (atores) significando "pessoas ou organizações envolvidas em alguma atividade" em vez de "ator em um palco". O Eurospeak pode não soar bem para nativos de língua inglesa, mas pode ser uma lingua franca em formação diante de seus olhos... Discardant la textbuch, externalise sus sprachangst y just improviste.



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