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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Prossegue a exploração das areias betuminosas


Escavações nas areias betuminosas em Fort McMurray, Alberta, no Canadá. A União Europeia considera que os combustíveis extraídos desta fonte geram  22% mais gases estufa do que os de fontes tradicionais.
O governo britânico tem apoiado forte e secretamente o Canadá em sua campanha contra as sanções impostas pela União Europeia por conta dos combustíveis altamente poluentes extraídos das areias betuminosas canadenses, diz o jornal Guardian.
Ao mesmo tempo, o governo britânico sofreu pressões (lobby) da Shell e Britsh Petroleum, ambas com grandes projetos de extração de óleo das areias betuminosas de Alberta, e abriu um novo consulado naquela província para "apoiar os interesses comerciais britânicos".
Pelo menos 15 reuniões de alto nível e comunicações frequentes ocorreram desde setembro, com o premiê David Cameron discutindo o assunto com seu cogênere Stephen Harper durante sua visita ao Canadá, e afirmando extra-oficialmente que o Reino Unido desejava "trabalhar com o Canadá para encontrar um caminho", segundo documentos obtidos com base na Lei de Liberdade de Informação.
As vastíssimas areias betuminosas do Canadá – também conhecidas como areias oleosas – são a segunda maior reserva de carbono do mundo, perdendo somente para a Arábia Saudita, embora a energia necessária para extrair o petróleo do solo signifique uma muito maior emissão de gases estufa do que com o processo tradicional de perfuração de poços, além de causar a destruição de florestas e poluir a água.
O cientista James Hansen, da Nasa, diz que se as areias betuminosas fossem exploradas no ritmo planejado, poderia se dizer que acabou, "game over para o clima".
A proposta europeia é classificar os combustíveis oriundos das areias betuminosas como causadores de emissões de gases estufa 22% maiores do que os das fontes convencionais. Isso faria com que os fornecedores, obrigados a reduzir as emissões de seus combustíveis em 10% até 2020, resistissem a incluir aqueles combustíveis em seu mix. Isso também estabeleceria um precedente que apontaria oficialmente o Canadá como fonte de um combustível mais sujo.
A oposição compartilhada entre o Reino Unido e o Canadá ao plano europeu coloca o Reino Unido em posição minoritária entre os países da UE, o que será muito embaraçoso quando a nova rodada de negociações globais sobre a questão das mudanças climáticas se iniciar em Durban, na África do Sul. Chris Huhne, secretário de Energia e Mudanças Climáticas, alegou quinta-feira que o Reino Unido estava demonstrando liderança nas negociações na ONU, enquanto o primeiro-ministro do Canadá impôs um bloqueio às leis climáticas. As revelações põem por terra também o discurso de Cameron, que apregoa ser seu governo  "o mais verde que já houve".
A  votação para aprovação da regulamentação de qualidade dos combustíveis da Europa será sexta-feira. Antecipando-se a ela, William Hague, secretário das relações exteriores, também apoiou o Canadá, enviando um telegrama de "ação imediata" às embaixadas britânicas em setembro, solicitando a elas " comunicar nossa posição e saber do Canadá o que seria aceitável".
No entando, o Departmento de Transportes, no qual o ministro do Partido Liberal Democrata Norman Baker é o responsável pelas questões envolvendo areias betuminosas, divulgou somente duas notas explicativas sobre o tema feitas pela Shell, ambas totalmente editadas (com supressão de pontos sensíveis). O Departamento de Transportes rejeitou os pedidos de divulgação de, pelo menos, seis outros documentos relevantes, alegando confidencialidade comercial e prejuízos nas relações internacionais, como fez o Departmento de Comércio, onde a Shell também se encontrou com ministros.
A BP fez pressão sobre os ministros, também. Seu vice-presidente para a Europa, Peter Mather, enviou uma carta onde se lê: "O ônus dessa regulamentação será considerável numa hora em que a indústria já está arca com o peso de uma forte regulamentação."
John Sauven, diretor-executivo do Greenpeace  no Reino Unido, disse: "A dimensão do lobby da indústria petrolífera exposta nesses documentos é extraordinária. É particularmente preocupante que Baker tenha tido um encontro secreto com a Shell sobre essa votação europeia fundamental para a questão das areias betuminosas. Mas ainda pior é o fato de ele estar escondendo o que foi conversado."
Colin Baines, gerente de campanha de combustíveis tóxicos da Co-operative, grupo britânico de interesses comerciais mútuos, que tem como alvo as areias betuminosas como parte de sua campanha a respeito das mudanças climáticas, disse: "é muito decepcionante que o governo britânico esteja apoiando os esforços do Canadá, e esperamos que ele reconsidere isso e ponha a questão climática à frente dos interesses comerciais canadenses, quando for a hora da votação da proposta da Comissão Europeia."
Os documentos foram obtidos pela Co-operative mediante regulamentações sobre informações ambientais, uma espécie de Lei de Liberdade de Informação. Entre a documentação há correspondências de e para ministros, correio diplomático e anotações dos encontros.
Baker disse: "O governo permanece fiel à sua intenção de ser o mais verde de todos ao buscar assegurar o melhor acordo possível para o meio ambiente, a partir das discussões em andamento na UE sobre as diretrizes de qualidade dos combustíveis.
Ministros e diplomatas canadenses dizem apoiar uma "ambição onerosa" de reduzir as emissões de carbono. mas o Canadá admitiu que não terá êxito em cumprir a meta do Protocolo de Quioto de redução em 6% em comparação aos níveis de 1990: em 2009suas emissões foram 34% superiores.
A Agência Internacional de Energia espera um aumento na produção pelos próximos  20 anos.
Várias companhias europeias investiram pesado nas areias betuminosas, e estão preocupadas." os documentos e fontes diplomáticas indicam que a Holanda, Espanha e a Polônia estão entre os que apoiam a posição britânica e canadense.
 

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