O platô Chajnantor, nos Andes Chilenos, é um dos lugares mais inóspitos da Terra. O ar rarefeito dificulta a respiração, não há água à vista, e fortes ventos fazem a temperatura baixar a 20ºC.
Nesse terreno desolado, de aparência marciana, no entanto, o mais caro e sofisticado observatório do mundo acaba de ser inaugurado.
O Grande Conjunto Atacama de Milímetro/Submilímetro (Alma) irá expor aos astrônomos a parte do universo até agora fora do alcance dos telescópios modernos. Ele já pode olhar através das distantes nuvens de poeira e detritos, nas quais as primeiras estrelas, galáxias e planetas se formaram, e, quando estiver em pleno funcionamento, em 2013, o observatório poderá descobrir uma galáxia não observada anteriormente, a cada três minutos."Estrelas se formam nessas frias nuvens de gases e poeira," disse John Richer, da Universidade de Cambridge e cientista de projetos do Alma. "Ao se formarem são envoltas nesse material poeirento, do qual somente metade da luz de uma estrela comum escapa. Muitas outras estrelas se formam em nuvens muito densas, e sua luz é completamente absorvida pela poeira dessas nuvens."
Estas nuvens de poeira com aparência de fuligem, que também são o berço de planetas como a Terra, obscurescem as estrelas, impedindo sua observação com equipamentos ópticos e infravermelhos modernos, como o Telescópio Espacial Hubble. Ao mesmo tempo em que a poeira oculta as estrelas, ela é aquecida pela luz estelar à temperatura de alguns graus acima do zero absoluto (-273ºC). A poeira então emite radiação própria em comprimentos de onda submilimétricos, que podem ser detectados na Terra pelo Observatório Alma.
Ondas de luz submilimétricas são semelhantes à radiação utilizada nos fornos de micro-ondas, e 1.000 vezes mais curtas do que as da luz visível. A detecção de tais ondas significa que astrônomos poderão compor uma imagem mais completa do universo. "Quando imagens ópticas são combinadas com as do Alma, toda a atividade de formação de estrelas é revelada, sem que se perca metade da foto, como ocorria até então," diz Richer.Astrônomos escolheram o inóspito local nos Andes Chilenos para abrigar o observatório por ser um dos lugares mais secos do mundo. A radiação submilimétrica é absorvida pela água, e há centenas de anos não chove em alguns pontos do deserto Atacama.
Uma das vantagens da localização a uma altitude tão grande é que, com isso, o Alma poderá captar imagens tão nítidas quanto qualquer outra obtida com o Hubble. Equipes de astrônomos controlam os discos de uma base em local mais acolhedor, mais de mil metros abaixo do platô Chajnantor.
Após mais de duas décadas de projetos e construção, o Alma foi aberto esta semana, para ser usado por astrônomos de todo o mundo. Dispostas sobre o platô no deserto, 20 radioantenas idênticas, cada uma com 12 metros de diâmetro. Quando o observatório de €1bilhão estiver completo, dentro de dois anos, haverá 66 daquelas antenas de fibra de carbono, dispostas em inúmeras configurações, á distância de até 10 milhas através das montanhas, de acordo com as medições que os astrônomos quiserem fazer.
"O Alma tem uma sensibilidade muito maior, em comparação a outros telescópios de ondas submilimétricas, e a expectativa é que, a cada três minutos de observação celeste do Alma, uma nova galáxia seja descoberta, em algum ponto do universo," disse Richer.
Apesar de ainda incompleto, o observatório já iniciou sua produção científica. A primeira imagem científica, obtida por medições feitas com 16 dos discos instalados em Chajnantor, mostra os violentos giros das Galáxias Antenas, um par de galáxias espirais distorcidas, em processo de colisão a cerca de 70 milhões de anos-luz de distância da Terra.
As cores azuis representam a imagem de melhor qualidade óptica obtida desta região do espaço até agora, pelo Telescópio Espacial Hubble. As cores vermelha, rosa e amarela mostram comprimentos de onda nunca antes vistos, emanando das vastas nuvens de monóxido de carbono que flutuam no interior e entre as galáxias, em imagens obtidas pelo Alma, pela primeira vez. Essas nuvens contêm gases com massa total vários bilhões de vezes maior que a do Sol e, desta forma, são um reservatório para a formação de futuras estrelas.
Entre outras experiências selecionadas para o primeiro ano de operação do Alma está o estudo de buracos negros supermassivos no centro da Via Láctea, Sagittarius A*, que está a 26.000 anos-luz de distância da Terra.
Densas nuvens de gás e poeira geralmente obscurecem o buraco negro, mas o Alma poderá enxergar através delas.
Heino Falcke, astrônomo da Universidade Radboud Nijmegen na Holanda, disse: "O Alma nos permitirá observar brilhos de luzes vindos das cercanias desse buraco negro supermassivo, e obter imagens das nuvens de gás aprisionadas por sua giganteca atração. Isso nos permitirá estudar os hábitos alimentares desse monstro. Acreditamos que parte do gás esteja escapando dele, quase à velocidade da luz."
O Alma é uma cooperação entre os quinze países membros do Observatório Europeu do Sul, com os Estados Unidos, Japão, Chile,Taiwan e o Canadá.
Capacidade de cálculo: 17 quatrilhões de operações por segundo (1.7x10^16)
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