José Nêumanne
Tentativa de censurar campanha publicitária de lingerie é violência autoritária contra o direito do público de ser informado, de forma leve e criativa, de produtos e serviços a seu dispor
Seria trágica, se não fosse apenas ridícula, a tentativa que tem sido feita pela presidente Dilma Rousseff e por sua ministra de Políticas para Mulheres, Iriny Lopes, com apoio público, dado por escrito, da senadora Marta Suplicy (PT-SP), para tentar censurar o anúncio de lingerie da Hope protagonizado pela modelo Gisele Bündchen. Antes, é conveniente esclarecer por que censura. Costuma-se limitar o campo da agressão à liberdade de expressão ou de crimes contra a opinião plural a notícias, editoriais e artigos publicados pela imprensa ou transmitidos por rádio e TV. A publicidade veiculada pelos meios de comunicação é, muitas vezes, vista como algo comercial, portanto menos nobre, e, por isso, não mobiliza muitos defensores. Trata-se de um preconceito que resulta da ignorância: as liberdades garantidas pelo Estado Democrático de Direito não existem para assegurar o que profissionais de comunicação têm a dizer ou escrever, mas, sim, o que o público tem de saber. Não se trata de um preceito de cima para baixo, mas de baixo para cima. E ele inclui, obviamente, a ampla, geral e irrestrita prerrogativa da cidadania de receber informações sobre produtos, bens e serviços que quer adquirir.
O comercial da Hope e a modelo Gisele Bündchen, que o protagonizou, estão sendo vítimas de violência arbitrária, pois nem o produto nem a protagonista da campanha publicitária em nenhum momento ofendem ou ferem nenhum ser humano, do sexo masculino ou feminino. A cruzada contra eles parte de gente autoritária e de maus bofes. Só isso!
Ela se insere numa mania politicamente correta cuja pretensão, em última instância, é limitar a comunicação entre pessoas às manias, idiossincrasias e complexos de grupos que se fingem de ofendidos para não ter de recorrer à Psicanálise para lidar com traumas. Estes devem ser resolvidos sem necessidade de intervenções brutas e pouco inteligentes, caso dos recursos que têm sido dirigidos ao Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) para tirara campanha do ar.
Entende-se que a ministra Lopes e a senadora Suplicy não devem ter lá muitos afazeres que lhes ocupem o tempo, o que lhes permite perturbar nossa paz. Mas não dá para perceber que motivação tem a presidente Dilma Rousseff, que vive a se gabar do próprio apreço pela total liberdade da comunicação, para descer de seu pedestal e entrar nessa picuinha de comadres ranzinzas e desocupadas. Em vez disso, ela deveria ter mandado a subordinada e pedido à correligionária para intensificarem esforços buscando proteger as vítimas de preconceitos de todos os tipos que são agredidas nas ruas e precisam de ajuda e apoio.
Jornalista, escritor e editorialista do Jornal da Tarde
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