Será esta a Teoria de Tudo? Animação, cortesia de Garrett Lisi
"Um surfista intriga os físicos com a "Teoria de Tudo"."
Com esse título, uma coluna do editor da revista New Scientist, Roger Highfield, narrava como um americano, Garrett Lisi, havia revelado uma nova maneira de unir as leis e partículas do universo, em um artigo intitulado "Uma excepcionalmente simples Teoria de Tudo".
Roger sentiu o frisson que o rapaz estava causando na comunidade científica ao ler um artigo na New Scientist, escrito por Zeeya Merali. Sua abordagem do caso saiu no The Daily Telegraph em Novembro de 2007, e desde então, foi acessado mais de um milhão de vezes; e há uma semana, retornou ao topo dos mais acessados do site.
Os leitores lusófonos que não leem inglês, e gostam de ciências, não poderiam ficar sem acesso a tão instigante tema, de modo que aqui vai a tradução, e o vídeo.
Antes, uma observação: quem gosta de física, mesmo sem descer a detalhes muito técnicos (como eu), sabe que a grande esperança é conseguir juntar duas grandes teorias, a da Relatividade Geral de Einstein, que lida com o muito grande, e a da Mecânica Quântica, que explica o muito pequeno, as forças fundamentais.
Pois bem, Garrett Lisi, o surfista não é um Einstein...
Hollywood planeja fazer o filme 'Surfer Dude - the Movie'. Então por que todo esse interesse? Em Parte, porque Lisi diz ter descoberto a resposta para a provavelmente mais importante questão científica: como achar um modelo coerente do universo que funcione tanto nas escalas do muito grande (explicado pela relatividade geral de Einstein) e o muito pequeno (com que lida a física quântica).
Sua explicação repousa num extraordinário objeto matemático chamado E8, uma forma complexa descrita por um padrão de 248 pontos em oito dimensões, com uma estrutura que, se formulada como uma equação, em impressão com letras pequenas, cobriria uma área do tamanho da Ilha de Manhattan, Nova York. Ela preencheu 20 lapsos das teorias convencionais com novas partículas, que pareceram surgir naturalmente da geometria do E8. Assim que percebeu isso, declarou: "Santo Deus, é isso!"
As ideas foram classificadas como "fabulosas" por Lee Smolin, do Perimeter Institute for Theoretical Physics de Ontario, Canadá. David Ritz Finkelstein, do Instituto de Tecnologia da Georgia, em Atlanta, EUA, acrescentou que "algo incrivelmente belo surge da teoria de Lisi".
Boa parte da excitação se dá por que a teoria de Lisi parece desafiar a Teoria das Cordas – a atual candidata a ser uma "teoria de tudo", em torno da qual tem havido uma amarga batalha intelectual. Seus proponentes (a maioria teóricos superstars) argumentam que a teoria, baseada em minúsculas "cordas" subatômicas vibrando através de múltiplas dimensões, é muito bela para ser ignorada.
Mas há detratores, de Smolin, que lançaram um devastador ataque, em um livro chamado The Trouble with Physics (O problema da Física), a céticos, como Steven Weinberg, um prêmio Nobel.
Seja como for, o surfista também tem seus críticos. O professor Marcus du Sautoy, da Universidade de Oxford, disse que está na hora de derrubar Lisi de sua prancha, mostrando as formas como os blogues de física dissecaram seu trabalho. Ele, e vários outros, continuam descrentes.
Ainda que Lisi esteja errado – como costma ser o caso dessas tentativas de construir tais teoriais tão abrangentes – o mundo precisa de mais surfistas assim. Os esforços de Lisi atraíram a imaginação pública porque, embora o então homem de 39 anos tivesse doutorado, ele não trabalhava no meio, mas foi apoiado, financeiramente, com algum dinheiro de um fundo de pesquisas bancado pela iniciativa privada, chamado FQXi (Foundational Questions Institute). http://www.fqxi.org/
Precisamos de mais espíritos independentes como ele, e de outros estranhos à corrente principal de pensamento, como James Lovelock, o ambientalista dissidente.
E aqui vai uma nota do tradutor: Tem razão o autor, a ciência sempre precisou do pensamento discordante, como a verrdade depende do dissenso, da crítica. A maior burrice e demonstração de ignorância de quem quer que seja, escritor, jornalista, juiz, médico, político (o presidente Lula é o exemplo clássico, acabado, do dono da verdade), é irritar-se com críticas, ter aversão a elas, o que é muito diferente de refutá-las numa discussão aberta, fundamentada. O pensamento único é o da Inquisição, e por pouco não fomos privados das verdades exposta por Galileu e outros.
Lisi cumpre também o papel de grande modelo para a ciência, em que ele destroça o estereótipo de um nerd. Enquanto trabalhava em sua teoria, ele passou a maior parte do ano surfando no Havaí, onde ele morava numa oca, essas habitações de palha dos índios.
No inverno, ele ia para as montanhas próximas ao Lago Tahoe, em Nevada, onde praticava snowboarding. Era uma figura tão cativante que emissoras de TV faziam fila para filmá-lo e agentes literários se engafinhavam disputando a primazia de vender a história de seu esforço para compreender o cosmos. Um executivo de Hollywood disse haver grande potencial para um filme.
Não surpreende que, hoje, Lisi diga que as coisas estão indo "mais ou menos fantasticamente bem".
Ele está agora tentando usar áxions (partículas teóricas propostas pelo Nobel Frank Wilczek) para explicar como as partículas obtêm massa. E está organizando uma conferência sobre a Teoria E8 com o apoio do Instituto Americano de Matemática.
Ele acha que está, como outros, "na pista certa", e espera que algumas das partículas que prevê possam vir a ser detectadas no Grande Colisor de Hádrons, o LHC, em Genebra, Suíça, o gigantesco esmagador de átomos que deve voltar logo à ativa.
E, além de construir sua teoria, Lisi está trabalhando em um filme sobre jovens cientistas que combinam pesquisas de ponta com esportes aventureiros.
Ele mantém seu apetite por ambas as adrenalinas, física e intelectual, e diz: "Passei os dias fazendo kitesurfing ou surfando, aqui em Maui, Havaí." Não é de estranhar que seus pares sejam ciumentos.
Roger Highfield é Editor da 'New Scientist'
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