Pesquisar conteúdo deste blog

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O idioma galego, quase um português

Uma coisa boa de se ter um blogue é que acontece de surgirem algumas contribuições inesperadas sobre assuntos interessantes.
Faz alguns anos, eu descobri o idioma galego, e pensei que estava lendo uma espécie de dialeto do português, o que não me soou estranho porque eu já havia lido textos em crioulo de Cabo Verde e do Crioulo que se fala na América do Sul, não me recordo se na Colômbia ou em que outro país.
Acontece que o crioulo caboverdiano mistura português com francês, enquanto o crioulo americano junta o português ao espanhol. O fato é que, lendo com atenção, compreende-se muito, e até ouvindo; que um amigo, Zizim Figueira, caboverdiano de Soncent (São Vicente) mandou-me uma música, ké nos pobreza ké nos rikeza.
Mas acontece que o galego é um caso à parte, um quase-português; foi o que li no jornal Vieiros Hoxe Galiza. E como eles têm uma seção de lusofonia, passei a enviar-lhes alguns artigos, que acabaram publicados. Mas a vida galopa e a curiosidade, se não passou, foi arquivada.
Eis senão quando, o acaso me traz de volta ao galego, quando publiquei um post sobre a Rapa das Bestas, a tradicional luta de cavalos selvagens que se realiza na Galiza (e não Galícia), Espanha.
Um leitor do blogue, em anonimato, fez esse comentário: Obrigado pela reposta e o interese, caro Luiz. A Galiza, ou máis exactamente a província romana de Gallaecia, foi o lugar onde nasceu o portugues. Nós sempre chamamos "galego" a essa língua. Mais é portugues, ainda que administrado pos Espanha e as suas instituçoes na Galiza.O padrão oficial da língua galega foi definido pela Real Academia Galega, distanciado-a artificialmente do português padrão. Este padrão, oficializado pela Junta da Galiza, é utilizado maioritariamente no ensino e nos meios de comunicação galego.Contudo, há uma outra visão, chamada de reintegracionista, defendida por colectividades e movimentos sociais, que pretende reintegrar o galego com o português padrão. Fazem parte deste movimento parte do professorado em universidades, intelectuais, artistas e comunicadores sociais, além de alguns meios de comunicação.VerPortal Galego da Língua Vocé pode encontrar máis sobre esta controversia aqui, na artigo sobre a controversia do galego.
De fato, pra vocês terem uma idéia, reproduzo aqui uma reportagem em galego, retirada do jornal Vieiros Galiza Hoxe:
Continúan as protestas e a represión en Irán
O presidente electo, Ahmadinejad, reúnese co presidente ruso, nun aceno de normalidade, mentres as rúas están ateigadas de manifestantes. Redacción - 08:00 17/06/2009
Ahmadinejad na cimeira do Consello de Cooperación de Shangai, en Rusia, antes de se reunir con Dmitri Medvédev
Cinco días despois das eleccións presidenciais en Irán, continúan as protestas nas rúas, desenvolvidas por milleiros de opositores ao réxime de Ahmadinejad, seguidores de Mousavi, que seguen a denunciar a fraude electoral.
Durante as protestas faleceron, polo menos, sete persoas.Por outra banda, as rúas da capital, Teherán, tamén están ocupadas polos seguidores do presidente, que se manifestan para amosarlle o seu apoio a Ahmadinejad. Había anos que este país de Oriente Medio non vivía unha situación de tanta tensión política.
Mais, obviando por completo a crise que vive o país que dirixe, Ahmadinejad quixo facer un aceno de normalidade, reuníndose en Moscova co presidente ruso, Dmitri Medvédev, esta terza feira.Por outro lado, o Consello de Gardiáns da Revolución negouse a recontar os votos das eleccións da pasada sexta feira, como pedían os opositores, mais si accedeu a volver a contabilizar unha parte deles, os de aquelas urnas nas que fora denunciada a fraude, nunha concesión ao dirixente opositor Mousavi.
Porén, este volveu insistir en que, a pesar do aceno do Consello, os comicios seguían sen ter validez para el.Obama négase a mediar, a UE pide unha investigación da suposta fraude
Do outro lado do Atlántico, o presidente dos EUA, Barack Obama, evitou opinar publicamente sobre a lexitimidade dos resultados electorais do Irán, mais declarouse "fondamente preocupado" pola situación do país, e condenou a violencia empregada contra os manifestantes da oposición. Porén, os ministros de Exteriores da UE pedíronlle a Irán que investigue as denuncias de fraude.

Então, não é parecidíssimo com o português? Se você leu o texto, seguramente soube o que ocorreu hoje no Irã.

E se você, amigo, é galego, integracionista ou não, participe do blogue, escrevendo e comentando, tanto em galego quanto em português. Com certeza, haverá entendimento geral. Os links abaixo levam às páginas de publicações em galego.

Abraços,

Luiz Leitão, desde São Paulo, Brasil.

Joshua deixou um comentário tão abrangente, esclarecedor, elegante, que vale reproduzi-lo aqui no post, com os meus agradecimentos.

Muito interessante, Luiz.

Qualquer nortenho português desde sempre ouviu falar numa certa nostaligia político-cultural do Português falado na Galiza com o percurso entretanto seguido pela saga nacional chamada Portugal, Língua e Cultura, Política, tão pujante no passado como é hoje baça e decadente.

Língua é Política. Ora, os nobres galegos, desde o início, apostaram em Castela. Vendo o rei português Henriques lutando contra Mouros, contra Castelhanos, expandindo território para sul e afirmando uma nacionalidade mesmo contra os desígnios e expectativas papais, espécie de ONU antes, no século XII e até há pouco, por ciúmes ou rivalidades, quis apostar nas alianças com Castela, o que secundarizou inteiramente a Galiza no plano identitário e histórico sob o imperialismo de Leon y Castilla pelos séculos seguintes.

A Galiza foi até há bem pouco tempo um recanto esquecido perdido na Espanha. Hespania é toda a península. Castela, usurpando essa velha designação latina, ostenta uma pretensão que nunca soube abandonar: a hegemonia cultural, linguística e política na Península.

Só Portugal furou esse desígnio de Pólo e Poder na Europa.Os nobres galegos, mas não o povo. Passados quase novecentos anos de aventura nacional portuguesa, a nostaliga galega por se religar a Portugal na política da Língua e na estratégia regional permanece latente. Não há de facto língua galega.

a língua portuguesa de sabor medievo, arcaica, que se fala na Galiza e que uns cultivam e preservam e outros, castelhanistas, deformam o mais possível a fim de lhe eliminar os vestígios ou não fosse a castelhanização cabal das autonomias, do País Vasco e da Catalunha, política secular progressiva com a qual, por exemplo a Guerra Civil espanhola, para além de tudo, significou um cruel ajuste de contas nacional semelhante aos recentes nos Balcãs.

Se a língua gaélica irlandesa foi castrada e perseguida mesmo até aos confins da Austrália pelo centralismo imperialista inglês, por que se comportariam diferente os ideólogos do centralismo Castelhano?!

PALAVROSSAVRVS REX

4 comentários:

  1. Caro Luiz, muito obrigado pelo post!!!

    Aqui colo outros sitios de noticias em galego, usando ambas ortografias (reintegracionista, a tradicional galego-portuguesa desde o medieevo e a nova ortografia oficial espanhola, a isolacionista, que procura asegura que galego e lingua diferente do portugues):


    www.pglingua.org
    www.novasgz.com
    www.anosaterra.org
    www.vieiros.com
    www.galicia-hoxe.com

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante, Luiz. Qualquer nortenho português desde sempre ouviu falar numa certa nostaligia político-cultural do Português falado na Galiza com o percurso entretanto seguido pela saga nacional chamada Portugal, Língua e Cultura, Política, tão pujante no passado como é hoje baça e decadente.

    Língua é Política. Ora, os nobres galegos, desde o início, apostaram em Castela. Vendo o rei português Henriques lutando contra Mouros, contra Castelhanos, expandindo território para sul e afirmando uma nacionalidade mesmo contra os desígnios e expectativas papais, espécie de ONU antes, no século XII e até há pouco, por ciúmes ou rivalidades, quis apostar nas alianças com Castela, o que secundarizou inteiramente a Galiza no plano identitário e histórico sob o imperialismo de Leon y Castilla pelos séculos seguintes. A Galiza foi até há bem pouco tempo um recanto esquecido perdido na Espanha. Hespania é toda a península. Castela, usurpando essa velha designação latina, ostenta uma pretensão que nunca soube abandonar: a hegemonia cultural, linguística e política na Península. Só Portugal furou esse desígnio de Pólo e Poder na Europa.

    Os nobres galegos, mas não o povo. Passados quase novecentos anos de aventura nacional portuguesa, a nostaliga galega por se religar a Portugal na política da Língua e na estratégia regional permanece latente.

    Não há de facto língua galega. Há a língua portuguesa de sabor medievo, arcaica, que se fala na Galiza e que uns cultivam e preservam e outros, castelhanistas, deformam o mais possível a fim de lhe eliminar os vestígios ou não fosse a castelhanização cabal das autonomias, do País Vasco e da Catalunha, política secular progressiva com a qual, por exemplo a Guerra Civil espanhola, para além de tudo, significou um cruel ajuste de contas nacional semelhante aos recentes nos Balcãs.

    Se a língua gaélica irlandesa foi castrada e perseguida mesmo até aos confins da Austrália pelo centralismo imperialista inglês, por que se comportariam diferente os ideólogos do centralismo Castelhano?!

    Abraço
    e Parabéns, mais uma vez, pelo blogue!

    PALAVROSSAVRVS REX

    ResponderExcluir
  3. Nos gostamos de dizer que Portugal e Brasil falam galego (mais que dizer que o nossa fala e umha especie de portugues arcaico). E umha forma de nos enorgulhecer do que umha vez fomos parte. E umha forma de fugir da dialectalizacom tam feroz a que nos somete Espanha, tentando-nos convencer tudos os dias de que o galego e umha lingua decadente e inutil fora das nossas fronteiras regionais....

    Mas a realided di que a nossa lingua foi levada ao mundo nom por nos, senom polos nossos irmans do sul. E o nome que lhe derom a lingua foi portugues.

    Castelhano ou espanhol? Dous nomes para a mesma cousa. Galego ou portugues? Em Galiza no chamaremos-lhe galego, porque nasceu aqui a partir do latim.

    Ainda hoje em dia, ao norte do Douro existe tamem umha pervivencia da Galicidade em Portugal: nom todo e luso. Lisboa aprendeu a falar galego (ou portugues, tanto faz) bem tarde, traido pola reconquista.

    Mesmo a raiz "PortuGAL" do nome do pais, guarda relacom com nos: de PORTUS - CALEM -> O Porto dos Galaicos, hoje em dia Porto a um lado e VilaNova da Gaia ao outro, onde os romanos atoparam a trubu dos "Callaeci", e que deu nome a provincia da "Gallaecia"

    Web da candidatura a patrimonio inmaterial da humanidade de Galiza-Norte de Portugal

    Blogues sobre etnografia do Norte de Portugal:

    Etnografando com letras

    Peregrinar

    ResponderExcluir
  4. Este ultimo galego que se deixe de albrabices e de calaecii e gallaecias.

    O meu menino, a lusitania pre-romana de viriato chegava á corunha.

    Não confundir com a lusitania romana com sede em Emerita augusta a quem foi retirada a parte acima do douro, e criada a galecia.

    Dai a lusofonia, totos os portugueses de tras os montes ao algarve se sentem e consideram lusofonos e lusitanos, menos meia duzia de adeptos do FCP que misturam futebol com plitica me doses industrias.

    ResponderExcluir