A rebelião de Aécio Neves

Fernando Henrique é contra e José Serra, quando toca no assunto, diz que não se pode deixar de governar para fazer campanha.

Assim, praticamente deixam falando sozinho o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), que resolveu fazer uma caravana pelo País em busca de votos para uma eventual prévia do PSDB para definir que irá disputar a nomeação para a vaga de concorrente de Dilma Roussef e outros que virão.

Mesmo quem não acha Aécio o candidato ideal, ou melhor, o mais viável, há de convir que o governador mineiro tem o direito de desafiar a decisão pura e simples da caciquia em favor de José Serra.

Se as pessoas reclamam da política de cartas marcadas, das candidaturas decididas na intimidade de quatros paredes, é preciso deixar de lado o bairrismo e apoiar - o que não significa votar nele – a iniciativa de Aécio.

Aliás, se os tucanos criticam a campanha informal antecipada de Dilma Roussef, por imposição do presidente Lula, que literal e imperialmente a elegeu à revelia do “resto” do Partido dos Trabalhadores, deveriam pautar a diferença a começar da realização de prévias. Do contrário, a candidatura de José Serra será a mesma farinha do saco de onde saiu a de Dilma.

José Serra mostra-se pouco confiável quando foge ao debate da questão, algo que costuma fazer quando não deseja se expor. Foi assim na ocasião recente em que abandonou uma entrevista quando surgiram perguntas incômodas a respeito de corrupção na Polícia Civil de São Paulo. Simplesmente levantou-se e saiu sem dizer mais nada, como um menino emburrado.

É de se perguntar que receio pode ter um candidato, que lidera as pesquisas sobre a preferência do eleitorado nas eleições de 2010, em relação a uma disputa com um colega de partido.

Todo mundo aqui no Brasil achou muito bonito o espetáculo democrático das prévias realizadas nos Estados Unidos no ano passado para a escolha dos candidatos à sucessão presidencial. Fosse a política nos Estados Unidos regida pelos costumes brasileiros, Barack Obama não teria sido candidato.

As prévias de Aécio estão a uma distância amazônica daquilo que se viu nos Estados Unidos, mas é preciso começar um dia, envolver as pessoas; dar um resquício que seja de transparência ao processo de escolha de candidatos.

Seria de fato muito interessante a população poder assistir a debates televisivos entre postulantes à indicação do partido. Aí, sim, os que pretendem votar no partido poderão dizer quem, na visão deles, é o mais bem preparado para ir à luta contra a candidata presidencial, apoiada, desde já pela máquina do governo federal.

Nesse sentido, para além de preferências e do bairrismo, é que se deve apoiar a “rebelião” de Aécio Neves.

Luiz Leitão luizmleitao@gmail.com