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sábado, 29 de novembro de 2008

O escândalo da Casa Pia de Lisboa

Instituição centenária destinada ao abrigo de menores, a Casa Pia de Lisboa, fundada em 1780, é objeto de extensa reportagem do jornal espanhol El País, que revela os escândalo de abusos de menores.
Aqui vai um resumo da história:
Os relatos da vítimas são horrendos. "Foi uma experiência que me marcou muito. Era vigiado 24 horas por dia. Vivia em uma espécie de prisão, onde sofri abusos durante anos", contou Ricardo. "Senti ódio quando os vi à minha frente. Tê-los-ia matado, se pudesse", disse André, ao recordar seu encontro com os violadores no Tribunal.
Alguns daqueles garotos tentaram suicídio. O governo acabou indenizando cada um com 50 mil euros (como se isso pudesse compensar as marcas do inefável sofrimento). A maioria dos acusados pelos abusos, gente influente, está livre. A obstrução da polícia e as pressões sobre os juízes foram comuns durante a evolução do escândalo.
Desde os anos setenta era constante a entrega de meninos da Casa Pia para orgias e filmagens nos Estados Unidos.
A instituição foi fundada por Maria I, conhecida como Pía, quando do caos social causado pelo terremoto de 1755. O objetivo era acolher, em regime de internato, meninos marginalizados ou órfãos e dar-lhes formação, além de reintegrá-los à sociedade. Nobres propósitos para uma instituição que foi cenário das mais sórdidas histórias.
O escândalo só veio a público em 23 de novembro de 2002, quando Joel, ex-aluno, acusou de abusos sexuais várias figuras públicas e o ex-funcionário da Casa Carlos Silvino da Silva, vulgo Bibi. A jornalista Felicia cabrita revelou o caso no jornal semanário Expresso e no canal de TV SIC. A estarrecedora história tem como protagonistas diplomatas, políticos, esportistas, animadores de televisão. Gente de peso.
Silvino Silva acabou detido, e passou a principal acusado. O perfil deste antigo jardineiro e motoristas da instituição merece um relato à parte. garoto, foi aluno da Casa Pia, onde, segundo declarou, foi violado desde a tenra idade de quatro anos (e aqui vai a velha questão de a vítima tornar-se carrasco). Bibi teria passado fome e miséria, e aos dez anos considerava normais as relações homossexuais com outros alunos. Foi flagrado abusando de um menor, o qual necessitou de cuidados médicos, e acabou expulso da entidade, mas misteriosamente, foi readmitido graças a um recurso judicial.
A jornalista teve acesso a documentação dos anos setenta, onde aparecem nomes de homens americanos ricos qua iam à instituição em busca de meninos. "Havia médicos da Califórnia", revela Cabrita. Silvino da Silva era o fornecedor de meninos para as orgias, pelas quais recebiam dinheiro em troca do silêncio. Sujeitos que chegavam a Lisboa em aviões particulares, veículos de luxo, com alunos da Casa Pia ao aeroporto para serem levados aos EUA a fim de participar de "filmagens" e sexo.
À época, Portugal estava sob a ditadura de Salazar. Américo Henriques, professor de relojoaria da Casa Pia, cansou-se de pregar no deserto sobre as andanças do antigo chofer. Informou a direção do centro, abriu um processo disciplinar contra Bibi, foi à Polícia Judiciária. Nenhum resultado.
Teresa Costa Macedo, secretária de Estado para Assuntos Sociais e Família, entregou, em 1982, à Polícia Judiciária documentos e fotografias que provavam não se tratar de só um personagem sinistro, mas de uma rede de pedofilia que implicava políticos do Partido Socialista (PS) e do Partido Social Democrata (PSD), as duas grandes vertentes das forças políticas que repartiram o poder em Portugal nos últimos trinta anos.
Quando o Expresso revelou o escândalo, o então diretor da Casa Pia, Luis Rebelo, cuidou de eleger Silvino da Silva o bode expiatório, ao declarar que tratava-se de apenas um funcionário em mais de mil (por aí se vê o porte da instituição). Acabou destituído, e o governo pôs em seu lugar a prestigiada educadora Catalina Pestana, 61, a primeira mulher a ocupar o cargo.
"O ambiente da Casa Pia é o de um filme de terror. Há outras pessoas envolvidas, mas os menores não sabem seus nomes, só conhecem seus rostos, e os chamam senhor doutor ou senhor engenheiro", disse, depois de comprovar o que ocorria na instituição.
Começaram a surgir nomes, além do de Carlos Silvino, acusado de mais de mil delitos, pelos quais se declarou culpado. Dois alunos da Casa Pia desapareceram e foram encontrados, dias depois, na casa do embaixador Jorge Marques de Leitão Ritto, 72, em Cascais. Ele é acusado de nove crimes de lenocínio e dois de abuso sexual.
Algum tempo depois, três alunos da casa Pia forneceram o nome do implicado mais célebre: Carlos Cruz, popular apresentador de televisão, acusado de cinco crimes de abuso sexual e um de atos sexuais com adolescentes. João Aibeó, promotor do caso, afirma que ao menos dois delitos foram comprovados.
Em maio de 2003, o escândalo chegou ao ápice e atingiu o número um do PS, Paulo Pedroso. Preso por abuso sexual de menores, foi libertado quatro meses mais tarde e voltou ao parlamento como herói, e ali permanece como deputado.
Ferreira Diniz, médico, 54, responde por 18 delitos de abuso de menores; Manuel Abrantes, 54, ex-diretor-adjunto da Casa, é acusado de 43 crimes de abuso de pessoa internada, cinco de abuso sexual de menores, dois de lenocínio e u de fraude. O advogado Hugo Marçal, 48, é acusado de 22 crimes de lenocínio e 14 de abuso sexual. Gertrudis Nunes, 66, é dona da casa de Elvas, na divisa com Extremadura, onde se organizavam orgias com menores.

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