Antes da vida, o que havia? Seria certo dizer " o mesmo que depois dela"? Afinal, como surgiu a vida, terá sido obra divina ou a mera reação química resultante da tal sopa primordial?
Eis um tema a respeito do qual eu gostaria de receber muito comentários.
Digamos, só para raciocinar, que uma entidade divina, seja qual for, católica, muçulmana, Buda, etc., tenha criado o homem e a mulher e que a vida eterna e/ou a reencarnação sejam realidades. Perfeitamente, e as demais almas, além das duas originais, surgiram de onde? Como se dá a multiplicação dos espíritos, dado que a população mundial cresce ininterruptamente desde a criação, tenha ela sido espontânea ou obra divina?
Por outro lado, se a vida inteligente é um "acidente" natural, obra do acaso, de um processo químico que evoluiu até o que somos hoje, que viemos do nada e, após a morte, nada mais seremos, é de se concluir que tudo o que passamos aqui, sentimentos, esforços, sofrimento, etc., não ficará registrado em lugar algum, e terá sido não só inútil como desprovido de sentido.
Se tudo resultará, ao final de nosso breve tempo de vida, ou, ainda que seja, ao cabo dos cinco bilhões de anos que restam ao universo, em nada, por que levar uma vida de bons princípios, se tudo dará em nada?
A morte é tão natural quanto o nascimento, embora cause pavor a muita gente. Como a vida, ela é compulsória, ou seja, ninguém escolhe nascer, viver, tampouco morrer.
Sei que não estou dizendo nenhuma novidade aqui, mas tenho necessidade de falar sobre isso.
O nascimento não intriga nem assusta as pessoas porque é a "chegada", não há despojos assustadores, embora placenta e cordão umbilical também sejam "restos", como o corpo pós-morte. Mas o ato de nascer é tão radical e dramático quanto o de morrer, é apenas o seu inverso.
Se cabe perguntar o que seremos depois de morremos, também é legítimo querer saber o que fomos antes de nascermos, não é mesmo? E esse "o que fomos" não se aplica aos primeiros dois seres humanos? Se a vida tiver sido o resultado de uma reação química, não se aplica a dúvida sobre o que fomos, nem a respito do que seremos depois.
De minha parte, não acho que tanto faz: se há algo pós-morte, isso pode ser assustador, mas se não houver nada, isso é tranquilizador, mas tira o sentido da vida...o nada antes, o nada depois.
Os mais inclinados à religião dirão que é preciso ter fé, mas fé em quê? A fé também pode ser no nada, no absoluto - e não há nada mais absoluto do que nascimento, vida e morte. Pois é, a vida é absoluta, embora seja frágil.
E o papel de Deus, Buda, Alá, etc., nessa história? As pessoas rezam, e quando as coisas dão certo, dizem que Deus as ouviu e protegeu. Mas e as outras pessoas, as que morrem em desastres, as vítimas de furacões, terremotos, os bilhões de famintos do mundo, por que Deus as terá deserdado? Bem, sempre haverá uma justificativa, que a hora dessas pessoas chegou, que o sofrimento de tantos é parte da evolução espiritual, mas isso parece simplório, reducionismo.
Afinal, a Natureza nos é completamente indiferente, da mesma forma que o é com os demais animais; não somos distinguidos com melhor sorte porque somos racionais, inteligentes.
A física é determinista, tudo o que acontece seria previsível se houvesse como colher e processar todas as informações sobre as quase infinitas variantes que influem naquilo que se chama destino.
Quer dizer, se não houver uma memória de tudo, algo que transcende o tempo, imaterial, não fará diferença ser bom ou mau, íntegro ou corrupto, solidário ou indiferente; sem um depois, se o resultado de nossa existência somar zero, o nada absoluto, que sentido terá tido o esforço do trabalho, os momentos de êxtase, prazer, dor, esperança e desespero?
Não sentido, certo? Mas quem diz que as coisas sempre têm de ter sentido?
Desculpem-me, mas eu precisava escrever a respeito.
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