A engenharia química do cigarro

Toda embalagem de cigarro traz uma lista ultra resumida de seus componentes, que totalizam cerca de 4.500 subtâncias. As mais conhecidas são nicotina, monóxido de carbono e alcatrão, muito pouco para assustar os fumantes.

A multinacional hispanofrancesa Altadis reconhece que usa 289 aditivos, boa parte tóxicos, com a principal finalidade de aumentar o vício em nicotina e diminuir os efeitos nocivos do tabaco. Algo como 90% de cada cigarro é tabaco, já por si viciante e cancerígeno, mas 10% são aditivos, compostos químicos sobre os quais pouco se sabe para poder atestar sua segurança. O professor Michael Rabinoff, da Universidade de Califonia-Los Angeles (UCLA), diz a El País que as empresas de tabaco estão fazendo experiências em grande escala com milhões de pessoas. depois de analisar 599 aditivos que a indústria americana utiliza, concluiu que mais de 100 deles têm atividade farmacológica. Os cigarros são uma obra de engenharia com o fim de aumentar o vício, inclusive compostos que a indústria diz serem "aromas", mas que têm outras funções.

O absurdo é que os fabricantes se recusam a revelar publicamente os aditivos, alegando serem "propriedade intelectual". Todavia, o Ministério da Saúde da Espanha determinou que os tornem públicos. A lista, de fato, foi revelada, mas a indústria se recusa a comentar suas propriedas químicas. Cerca de 4,2 do cigarro são açúcares, aparentemente inócuos, mas que, quando queimados, produzem acetaldeídos, que provadamente aumentam o efeito da nicotina. Outros sete compostos são derivados da lactona, substância que inibe a enzima que metaboliza a nicotina e faz com que ela permaneça mais tempo no sangue, aumentando seu efeito viciante.

Outras substâncias acrescidas são derivadas de cacau, que dão sabor doce e também atuam como broncodilatadores, o que aumenta a absorção da nicotina. Há também precursores do ácido acetilsalicílico (aspirina) que atuam como anestésicos, para que o tabaco irrite menos a garganta. Idem faz o mentol, além de diminuir a tosse, e conseqüentemente, a percepção do risco. Outras ainda reduzem a acidez e aceleram o trânsito da nicotina da forma sólida para a gasosa, facilitando a inalação. As máquinas de fumar que analisam as concentrações de nicotina, alcatrão e monóxido de carbono só verificam se elas estão em conformidade com o que dizem as embalagens, mas os aditivos burlam as máquinas, mostrando muito menos concentração do realmente ocorre no sangue.

Curiosamente, o tabaco é o único produto de consumo, fora a Coca-Cola, cuja composição não precisa ser totalmente informada. Fosse uma pasta de dente a conter um centésimo dos produtos do tabaco, haveria o maior alarde. O tabaco já é cancerígeno e viciante sem o aditivos, e ao consumidor pouco importa que contenha 3% de açúcares. Para quem não sabe, o acetaldeído é mutagênico (produz defeitos no feto). Outros componentes são, em princípio, inócuos, mas se tornam maléficos quando queimados.

Prova de que o tabaco é fruto da engenharia química é que, nos anos 70, a Phillip Morris introduziu aditivos na fórmula e as vendas de Marlboro dispararam.