Pesquisar conteúdo deste blog

sábado, 1 de setembro de 2007

Quando a pátria abandona

É abominável a deserção de um soldado, mas o que dizer quando a pátria, em sua vez de retribuir o sacrifício, faz muito menos do que poderia pelos que, seriamente feridos, regressam? Muitos deles voltam com seqüelas que os incapacitam para o trabalho, quando não os deixam totalmente dependentes dos outros para fazer qualquer coisa trivial, como tomar banho ou se vestir. Quanto vale a reparação de danos fisícos tão graves como perder ambas as pernas? O caso do soldado Parker ilustra o abismo existente entre suas necessidades e o que o governo britânico lhe paga a título de indenização. Ele perdeu as duas pernas na explosão de uma mina terrestre no Iraque, além de sofrer outros ferimentos seriíssimos. Sua família terá de vender a casa para pagar seu tratamento - e pagar o tratamento é mais do que obrigação do governo, não é indenização. O Ministério da Defesa, após várias pressões, irá rever os valores, mas não é de se esperar grande coisa. O valor máximo de compensação que o governo paga é cerca de 500 mil dólares, e os advogados da família pleiteiam um aumento para US$1 milhão, valor que costuma ser deferido pela Justiça para casos de danos físicos em decorrência de crimes. Como bem diz um ex-comandante, "tudo começa e termina no soldado, a Nação deveria cuidar melhor deles". Ainda bem que o Secretário da Defesa, Liam Fox, aderiu á corrente que pensa que o país deve dar aos militares, no mínimo, o que é dado aos civis vítimas de ferimentos. O que se paga, US$2.000 para um soldado em operação na frente de batalha é muito pouco. Há uma regra injusta, pela qual um máximo de três diferentes ferimento é levado em conta para efeito de indenização, e o mais jovem soldado inglês ferido no Iraque, Jamie Cooper, 18 anos, deverá, por causa disto, receber apenas US$140 mil. Ele foi atingido por um morteiro próximo à cidade de Basra e teve ferimentos no estômago que o obrigam a usar uma bolsa de colostomia, e ainda terá de se submeter a outra cirurgia; ainda assim, terá de continuar sob intensos cuidados. os veteranos desincorporados recebem também um pagamento anual isento de imposto, que está relacionado ao nível salarial, e no caso de Parkinson, equivale a US$40.000 anuais. Cooper, no entanto, recebe bem menos, US$24.000. Outro jovem soldado, Martin Edwards, recebe bem abaixo dos valores máximos por ferimentos causados pelo fragmento de uma bomba caseira , que rasgou a viseira de seu capacete. Como ele não teve ferimentos múltiplos, deverá receber só US$200 mil de indenização. Os parentes dos militares dizem que, para fazer jus ao valor máximo, "ferimentos de nível um", o militar teria de perder as pernas, ficar cego e permanecer em estado vegetativo; o sistema de indenizações não leva em conta as necessidades, bastante variáveis, de soldados com múltiplos e sérios ferimentos, que demonstraram coragem e fizeram enormes sacrifícios. Com 12 ferimentos sérios, Parkinson não receberá um centavo sequer por o que seja que exceder três deles - e ele teve duas pernas amputadas e um ferimento no cérebro.
Não é difícil imaginar o custo destes tratamentos e da manutenção destes homens pelo resto de suas vidas, e é preciso recompensar - se é que se pode reparar com dinheiro tais perdas - também o seu sofrimento, passado, presente e futuro. Esta guerra já consumiu mais um trilhão de dólares; não é pedir muito uma indenização e uma pensão justas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário