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sexta-feira, 22 de junho de 2007

Vocação política e democracia

O dicionário Aurélio dá diversos significados para o verbete “política”, entre os quais “arte de bem governar os povos” e “atividade exercida na disputa dos cargos de governo ou no proselitismo partidário”. É, portanto, atividade nobre que visa ao bem comum, para a qual é preciso ter vocação. Como diferentes pesquisas realizadas revelam porcentuais ínfimos de aprovação dos atores políticos pela população, percebe-se que são pouquíssimos os que têm real inclinação para o exercício desta arte. Aliás, nem é necessário sondar a alma do povo para aferir o caráter da maioria daqueles que têm assento nas inúmeras casas legislativas do país. Basta a leitura diária dos jornais e revistas em cujas páginas, não raro nas seções policiais, aparecem notícias de estarrecer a respeito da conduta de nossos parlamentares. Quando não se trata de corrupção pura e simples, noticiam-se suspeitas de chantagem, como a que paira, na visão do governo federal, sobre o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que retarda a entrega do relatório de duas emendas constitucionais que tratam da prorrogação de tributos, com o intuito de pressionar o presidente da República a nomear o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Luiz Paulo Conde, para a presidência de Furnas, poderosa estatal do setor elétrico. Não há vocação política quando se age assim, como despachantes de interesses próprios ou de terceiros, ou quando se sabota a verdade. Não foi talhado para o ofício da representação popular o sujeito que se elegeu simplesmente por ser uma personalidade, um artista, ou por ter o patrocínio de empresas ou pessoas poderosas. Ao contrário, partiu para a disputa com injusta vantagem. Nossa legislação eleitoral não favorece os verdadeiros políticos, não só porque permite campanhas caríssimas, que transformam as campanhas eleitorais em espetáculos de ilusionismo, mas por não exigir a aproximação dos candidatos com seus potenciais eleitores, não só antes, mas principalmente depois de eleitos. A comunicação entre detentores de cargos eletivos e a população é, além de esquálida, unidirecional. Não é, portanto, uma relação, mas, sim, uma servidão. Conseqüentemente, sem a verdadeira política não há democracia, porque falta a sua essência, que é a impessoalidade, a igualdade, a retribuição, em benefícios igualitariamente distribuídos, do poder delegado. Delegado, inapropriável, portanto. Democracia não é o que se vê na prática, nas eternas oligarquias, nos feudos que dominam Estados por décadas a fio, na insensibilidade ante a perene situação de carência de uma população esquecida e resignada. O Congresso brasileiro, entre uma e outra batalha pelo indefensável no que diz respeito à preservação da espécie, arquiteta uma reforma política que, se sair, deixará tudo como dantes ou pior do que era, conferindo ares de utopia a toda a esperança que ainda reste aos mais ingênuos e aos idealistas. Democracia onde, se a melhor proposta de civilização das disputas políticas é o financiamento público e exclusivo de campanha, quando até as pedras sabem que isto não impedirá a prática de caixa dois? A medida em exame será isto sim, mero reforço de caixa para os partidos-cartórios políticos. A maioria da classe política é composta de gente com vaidade, ambição e apetite de poder inversamente proporcionais às respectivas competências; no lugar de reverência aos que um dia lhes delegaram o poder de que desfrutam – e como desfrutam!-, o deboche da ex-prefeita de São Paulo, hoje ministra do Turismo Marta Suplicy – “relaxa e goza”- e do ministro da Fazenda Guido Mantega a respeito da infindável crise aérea, este último creditando-a não à incompetência do governo que integra, mas à “prosperidade do país”. Luiz Leitão luizleitao@ebb.com.br http://detudoblogue.blogspot.com/

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