Gautama era o nome de um buda; a navalha está mais afiada, pelo jeito o novelo a ser desfiado é gigantesco, vejam a matéria da ONG Contas Abertas:
A relação de “amor e ódio” entre as construtoras Gautama, pivô da quadrilha que fraudava obras públicas, e a LJA, do suposto inimigo e ex-sócio de Zuleido Veras, Latif Jabur Abdu, parece guardar pistas fundamentais para o esquema Navalha, ainda não divulgadas pela Polícia Federal (PF). A LJA aparece como herdeira direta de diversas obras iniciadas pela Gautama. Algumas das transferências foram feitas por solicitação da própria empreiteira que comandava o esquema desvendado pela PF. Outras resultaram de uma disputa acirrada entre os sócios na Justiça, levando a uma briga, que já duraria dois anos. Apesar disso, Zuleido e Latif aparecem juntos em cadastro do governo como gerentes da Gautama publicado há pouco mais de sete meses. As desavenças entre Zuleido e seu ex-sócio Latif Abdu vieram à tona em uma ligação telefônica interceptada pela Polícia Federal, entre o dono da Gautama e o jornalista e porta-voz do governo Fernando Collor, Cláudio Humberto. Na gravação, o empresário agradece ao jornalista pela nota publicada contrária a Abud, com quem brigou em disputa pelo contrato de uma obra em Brasília, que acabou parando no Tribunal de Contas da União. A nota, de 7 de julho de 2006, dizia que a movimentação de Latif estava incomodando e que o tribunal até pensava em vetar sua entrada no prédio. Apesar do clima de inimizade entre os dois empresários durar há mais tempo, resultando inclusive na cisão das empresas em 2003, a construtora LJA aparece como sócia minoritária (com 25%) da Gautama no cadastro federal das prestadoras de serviço à União publicado em outubro de 2006. Ao lado dela aparece uma outra firma, a Silte Participações S/A, que seria responsável por 75% da sociedade. No documento Abud aparece como segundo gerente delegado da Gautama, logo abaixo de Zuleido Veras. Veja o cadastro da Gautama e da LJA no Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais (SIASG).Apesar disso, as investigações apontam que as construtoras teriam cortado relações cerca de três anos antes, em meados de 2003. Em 2005, a Agência Nacional de Energia Elétrica autorizou que duas obras em hidrelétricas inicialmente tocadas pela Gautama fossem transferidas para a LJA. A primeira delas, que passou a ser tocada por Latif em julho de 2005, diz respeito à Pequena Central Hidrelétrica (PCH) do Sal, localizada nos municípios de Padre Bernardo e Planaltina de Goiás (GO), orçada em R$ 22,4 milhões.Poucos meses depois, em outubro de 2005, a LJA ganhou o direito de dar continuidade a outra construção da Gautama na PCH de Muçungo localizada em Água Fria e Planaltina de Goiás (GO). Para esse projeto estavam previstos R$ 16 milhões. A resolução que autoriza as transferências informa que as alterações foram fruto de um pedido feito pela própria Gautama, em setembro de 2004, por meio de anuência prévia enviada à agência.Enquanto que no caso das hidrelétricas a transferências das obras parece ter sido resultado de um acordo aparentemente amigável entre Zuleido e Latif, o clima entre os dois esquentou na corrida por um empreendimento milionário no Distrito Federal (DF). O pivô da disputa, que levou à publicação da nota escrita pelo jornalista Cláudio Humberto contra Latif, foi a construção de barragens na bacia do Rio Preto que envolvia R$ 145 milhões em recursos públicos.De acordo com a Corregedoria-Geral do Distrito Federal, a Gautama venceu a licitação para executar as obras na Bacia do Rio Preto. Depois do racha na construtora, a Secretaria de Agricultura do Distrito Federal determinou, em janeiro de 2005, que a LJA assumisse as obras. Quando o atual deputado distrital do DF Pedro Passos (PMDB), preso na semana passada por suspeita de envolvimento com o esquema de corrupção, virou secretário da pasta, foram emitidos dois pareceres favoráveis à Gautama que contrariavam a decisão inicial. A última decisão tomada com o aval do Tribunal de Contas da União (TCU) veio em novembro de 2006 determinando que a LJA é quem deveria tocar a obra. O troca-troca entre as duas construtoras ocorreu em diversas outras obras espalhadas pelo país. Em Rondônia, por exemplo, a Gautama era responsável pelo Complexo Turístico Beira-Rio, que deveria ter sido construído em Porto Velho durante a gestão do ex-prefeito Carlos Alberto Azevedo Camurça. No entanto, a obra foi abortada ainda no projeto pelo Tribunal de Contas da União (TCU) depois que os técnicos descobriram graves falhas no projeto e superfaturamento da obra. Em 2003, o TCU determinou que a prefeitura de Porto Velho procedesse uma cuidadosa revisão do projeto básico. No dia 5 de janeiro de 2004 as obras foram retomadas, só que, desta vez aos cuidados da Construtora LJA.No Rio de Janeiro, mais uma vez a história de transferências se repetiu. A Construtora Gautama recebeu até 2003 R$ 28,2 milhões em um contrato de construção de 580 casas populares e a urbanização da Favela do Lixão em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mas só entregou 438 unidades. A obra acabou sendo passada para a empresa de Latif, que recebeu R$ 12,4 milhões para construir mais 130 casas. O Contas Abertas ligou para a casa de Latif em Salvador, na última quarta-feira, onde informaram que ele estava viajando. A pessoa que atendeu a ligação não quis informar para onde ele viajou nem o telefone ou e-mail para contato. Hoje, em nova tentativa, se restringiram a dizer que ele não se encontrava. A reportagem também telefonou para os números das construtoras Gautama, mas ninguém atendeu. Na LJA, o telefone estava desativado. A Polícia Federal também não quis informar se Latif Abud está citado no processo investigado pela Operação Navalha alegando ser esta informação “segredo de justiça”.Mariana Braga Do Contas Abertas
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