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segunda-feira, 23 de abril de 2007

Trabalho, competição e sobrevivência

A propósito do anúncio da fusão entre dois grandes bancos, com 23 mil demissões, republico aqui artigo recente sobre desemprego mundial, e, logo abaixo, a notícia da fusão.
A vida nos impõe sempre várias cobranças, e as profissionais costumam ser constantes. Esse tensionamento a que são submetidos tantos trabalhadores, especialmente em tempos de globalização, já levou ao suicídio três executivos da empresa francesa Renault, segundo o jornal The Guardian de 22 de fevereiro. É possível, no caso de funcionários cujo trabalho pode ser realizado também fora da empresa, que a sobrecarga se dê de maneira sutil, progressiva.Uns com prazos absurdos a cumprir, enquanto a outras categorias de trabalhadores são impostas metas crescentes de desempenho, nem sempre guardando relação com a capacidade individual, bastante variável, de suportar exigências cada vez maiores, advindas não só da infindável competição entre as empresas, mas também da “portabilidade” dos postos de trabalho, que, hoje, podem transferidos para qualquer ponto do globo, fisica ou virtualmente. A busca pela eficiência está se transformando num paradoxo: de um lado, permite a fabricação de produtos cada vez mais baratos e acessíveis; de outro, submete trabalhadores à concorrência de pessoas que aceitam salários baixíssimos, praticamente sem quaisquer direitos, gente que não tinha nada e agora passou a ter um pouco, mão-de-obra barata, traduzida em produtos de preços igualmente irrisórios.A China, tentando implantar uma legislação trabalhista mais humana, sofre boicote e ameaças das grandes corporações estrangeiras, que se recusam a pagar um pouco mais e dar maiores direitos a seus empregados, o que talvez seja apenas blefe, já que até as griffes francesas estão levando sua produção para a Ásia sem, no entanto, reduzir os preços de seus artigos. Buscam tão-somente aumentar seus ganhos, quer dizer, sua eficiência. Um trabalhador de nível superior passa quase vinte anos se preparando, estudando; depois, restam-lhe, até a aposentadoria, cuja idade mínima é cada vez mais alta - 67 anos em alguns países -, na melhor das hipóteses 47 anos de vida útil, se tiver saúde e a grande sorte de permanecer empregado todo o tempo, durante o qual terá de criar e educar os filhos, comprar uma casa, investir na reciclagem profissional, fazer uma poupança para cobrir eventualidades e complementar a pensão. Na prática, poucos conseguem uma nova vaga após atingir a idade da “obsolescência”, a partir dos 40 ou 50 anos.Mas o fato é que sempre haverá gente disposta a fazer mais por menos, e a Índia tem quase quatrocentos milhões de pessoas vivendo na mais absoluta pobreza, potenciais trabalhadores prontos para substituir os chineses numa eventual e ainda remota subida dos custos da mão-de-obra. Os ventos sopram cada vez mais a favor do capital, as empresas aumentam seus lucros enquanto os ganhos do trabalho, quando muito, permanecem estagnados, ao contrário das infinitamente crescentes pressões por melhores resultados. Os salários, transformados em simples mercadorias, commodities, seguem a Lei da Oferta e Procura. Trabalhadores têm família, sonhos, envelhecem, mas tudo isso soa piegas quando exposto à lógica diabólica imposta pela ditadura do capital. Nada a ver com devaneios ideológicos, mas apenas ganância, a natureza humana em um de seus piores aspectos.Mas não é este mesmo o modo como fomos ensinados, a essência de nossa cultura, e no final das contas, o modus operandi da própria natureza, a eterna competição que redunda na evolução das espécies? E quem aproveita a lição; quantos não encaram o fato de ser vencido numa modalidade qualquer de esporte como uma derrota, uma ofensa pessoal? Quem ousa ter a elegância e a generosidade de cumprimentar o adversário, seja quando este perde ou quando vence?Estamos longe de vislumbrar uma alternativa a esta competição feroz cujos inversos são a cooperação, a generosidade, a solidariedade, a paciência, virtudes que não combinam com a urgência com que buscamos, sempre em vão, a felicidade atráves da satisfação imediata de nossos desejos. Nesta ininterrupta azáfama nos afastamos da prática da reflexão, do pensamento filosófico, que representam o sentido maior da vida.Luiz Leitão luizleitao@ebb.com.br
Barclays e ABN anunciam fusão e corte de 23 mil empregos:
Os bancos Barclays e ABN Amro, controlador do Banco Real no Brasil, anunciaram nesta segunda-feira, 23, os detalhes de seu plano de fusão, um negócio avaliado em 45 bilhões de libras esterlinas, ou cerca de R$ 185 bilhões. O negócio, que na realidade consiste na aquisição do grupo financeiro holandês pelo britânico, se confirmado, vai criar o quinto maior banco do mundo, com operações em vários países, entre eles o Brasil, com 47 milhões de clientes e um valor de mercado de cerca de R$ 350 bilhões. A fusão prevê um corte de 23.600 empregos dos 217 mil funcionários do novo banco, 12.800 mil serão extintos e outras 10.800 serão transferidos para locais com custos de mão de obra mais baratos. O Barclays tem 123 mil funcionários e o ABN Amro 94 mil, excluindo-se os empregados do banco La Salle. Não há informações sobre quantos cortes serão feitos no País.

2 comentários:

  1. As empresas querem lucrar cada vez mais, e um dia não haverá mais consumidores qualificados, porque irá ter só os que ganham pouco, a tal mão de obra barata como vc disse.

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  2. Batalhei por 1 trampo e consegui mas durou só 1 ano e depois fui despedido com a desculpa de corte de despesas e agora estou na procura de novo. mas aceitando salário menor.

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