O nobre deputado Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara dos deputados, anunciou, em tom solene, que a Casa irá processar o colunista Arnaldo Jabor por ter ele chamado, genericamente, os deputados federais de "canalhas", ao comentar, terça-feira, na Rádio CBN, a denúncia comprovada de que alguns consumiram, em dois meses de 2007, a desprezível cifra de um milhão de litros de gasolina, suficientes para dar 225 voltas à Terra - Fernão de Magalhães certamente os invejaria.
Soa estranho esse ímpeto revanchista dos parlamentares que já ouviram coisas piores, embora verdadeiras a seu respeito. Ora, o que são alguns litros de combustível perto de obras portentosas, como o bloqueio de Comissões Parlamentares de Inquérito como a CPI dos Bingos, a legislatura em causa própria, a sabotagem de tantas outras teatrais CPIs, a instituição, em 2002, da Verba de Representação - leia-se abono salarial -, sob o gentil patrocínio do então presidente da Casa, Aécio Neves, o homem que pretende suceder Lula na presidência do Brasil?
O que são algumas centenas de voltas em torno do planeta quando se trabalha apenas três dias por semana, com noventa dias de férias e quinze salários anuais?
Processar Jabor por tão pouco, por palavras ditas num momento de indignação, quando ele deixou de dizer tantas coisas acerca do comportamento de suas excelências?
Ele nem sequer comentou tantos outros episódios que marcaram o Congresso, como a violação do painel do Senado, obra de ACM, membro do partido "Democratas", nos idos de 2000; tampouco disse palavra a respeito dos envolvidos no escândalo das ambulâncias, ou no mensalão, etc., e haja etcétera...
Está certo, Jabor generalizou, mas é óbvio que seria desnecessário fazer menção às exceções de praxe, até porque ele não nomeou deputado algum, quando falou em canalhas.
Abaixo, os comentários que inflamaram os brios de nossas excelências:
'Todos sabemos que nossos queridos deputados têm direito de receber de volta o dinheiro gasto com gasolina, seja indo a seus redutos eleitorais ou para o hotel com suas amantes ou seus amantes'. 'A Câmara, ou, melhor, você e eu, pagamos o custo, desde que eles levem notas fiscais para comprovar o gasto da gasosa.' E concluiu: 'Quando é que vão prender esses canalhas? Ah, esqueci. Eles têm imunidade, têm foro privilegiado. É isso, aí, amigos otários. Otários como eu'.
O presidente da Câmara foi aplaudido de pé por seus pares, olimpicamente alheios ao fato de 99% da população desconfiar daqueles que dizem representar quem os elegeu.
O recurso à Justiça não deixa de ser censura, uma luta desigual, covarde, porque como disse o corajoso comentarista, ao contrário dos que ousam criticá-los, eles têm foro privilegiado e imunidade parlamentar.
O único deputado preso é aquele do Acre, Hildebrando alguma coisa.
ResponderExcluirLeitão
ResponderExcluirSe não me engano são 93 sanguessugas que escaparam da punição. quase 1/5 do Congresso
Esse Chinaglia foi o que ignorou a decisão da Justiça de que o voto é do partido e não deixou os mandatos serem recolhidos
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