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quinta-feira, 19 de abril de 2007

O insolúvel teorema ecológico

Durante bom tempo os ecologistas mais ativos ou radicais eram chamados de ecochatos pelos que viam com desdém os constantes alertas sobre o aquecimento planetário, e, hoje, as manchetes anunciam, em tom apocalíptico, a conclusão de 2.500 cientistas a respeito do que aguarda a humanidade dentro dos próximos cem anos, um tempo relativamente curto, levando-se em conta a idade da Terra, coisa de 4,6 bilhões de anos. A Revolução Industrial trouxe a substituição da ferramenta pela máquina, e esse momento revolucionário, de passagem da energia humana e animal para motriz, acelerou uma evolução tecnológica, social, e econômica, que se iniciara na Europa durante a Baixa Idade Média (séculos XIII ao XV).O que a humanidade demorou para descobrir é que o preço a pagar pelo progresso seria alto demais. Até duas ou três décadas atrás, falava-se somente em poluição atmosférica, real e palpável no ar denso das grandes cidades, para a qual a técnica trouxe algumas soluções, como os filtros industriais e os catalizadores nos escapamentos dos automóveis. Começou também a reciclagem de materiais como papel, vidro e metais, o que ajudou a propagação do conceito de ecologia com relativo sucesso, porque até aí, as ações em benefício do meio-ambiente não exigiam grandes sacrifícios pessoais, e havia tempo de sobra. Houve engajamento geral na substituição do gás Clorofluorcarbono (CFC), que prejudica a camada de ozônio da atmosfera. Hoje, o Efeito Estufa, ameaça outrora sutil e longínqua, se apresenta na forma de fenômenos naturais exacerbados, fora de hora e lugar. Lidar com o aquecimento global é desconcertante, porque exigirá renúncia, e nem todos estarão dispostos a, por exemplo, deixar o carro em casa, e nem há transporte público adequado e suficiente para tanta gente. Que consequências poderão advir das profundas mudanças de comportamento – tudo em meio a um angustiante sentimento de urgência - e, principalmente, econômicas que a adaptação à nova realidade trará? Em que medida as pessoas estarão dispostas a mudar seu dia-a-dia sabendo que nada do que for feito poderá modificar as coisas senão daqui a um século? Governos e sociedade se preparavam para uma transição mais ou menos tranqüila, a substituição gradativa dos combustíveis fósseis por variadas fontes de energia alternativas e renováveis, nem todas absolutamente não-poluentes. A realidade e os planos para o médio prazo ainda contemplam o uso de combustíveis fósseis: o Brasil planeja a operação de termoelétricas em 2009, todas à base de gás natural, carvão ou diesel; as empresas petrolíferas, a todo o vapor, chegam a enfrentar escassez de mão-de-obra especializada; novas refinarias são construídas. Haverá terras suficientes para a agropecuária e a agroenergética? Além da enorme dificuldade de se contrariar os interesses da poderosa indústria petrolífera, é de se perguntar o que poderá acontecer com os países que cujas economias dependem fundamentalmente dos hidrocarbonetos. A idéia de “crescimento sustentável” soa algo estranha num mundo de recursos finitos e população crescente; nenhum crescimento é indefinidamente sustentável, e um dia a humanidade haverá de se deparar com o insolúvel teorema: não se pode parar de crescer, porque a dinâmica da economia não funciona na estagnação. Mas há um limite para tudo, e para o planeta, está cada vez mais próximo. Exagero? Em apenas 30 anos a população do Brasil dobrou, na Copa do Mundo de 1970 éramos 90 milhões em ação, como dizia a letra do hino da Copa. Como fará a China, com sua mais de uma centena de fábricas de automóveis, produzindo sete milhões de veículos por ano; com uma cidade chamada Shenzen, que cresce, há duas décadas, à absurda média de 28% ao ano; com sua matriz energética que utiliza 70% de carvão? Talvez a questão fundamental seja: em que medida as pessoas, empresas e governos estarão dispostos a sacrificar o agora em benefício de um amanhã que elas mesmas nem sequer verão? Luiz Leitão luizleitao@ebb.com.br

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